UM RESGATE DO FEMININO: A DANÇA-DO-VENTRE
Maria Olívia G.R.Arruda
Sempre que o som do pandeiro misturado com a cítara e a flauta chega aos meus ouvidos, meu corpo quer falar, quer contar aquela história de tempos bem antigos...
(Nassih Sari, dançarina)
Talvez os leitores estranhem um pouco o tema, mas sou eclética: gosto de abordar assuntos diversos. Além disso, sou apaixonada por essa dança e prometi à minha professora, Fernanda, que iria escrever sobre o trabalho dela, particularmente do que tem desenvolvido com mulheres de meia-idade, num misto de dança do ventre, alongamento e ioga, cujo resultado tem sido bastante animador. Fernanda está, agora, no “Espaço Luz”, um local onde a mulher aprende a se conhecer melhor, a resgatar a auto-estima e a interagir com outras pessoas.
UM POUCO DE HISTÓRIA DA DANÇA
A dança-do-ventre é um dos rituais sagrados, anterior à mais antiga civilização reconhecida historicamente, a dos sumérios, por volta de 6.500 a.C. Nesse ritual, as mulheres dançavam em louvor à Grande Mãe – Inana para os sumérios, Ishtar para os assírios e babilônicos e Astarte entre os cananeus e fenícios – a deusa ligada à fecundidade, à vegetação e ao amor. (É preciso, também, compreender o amor como ele era considerado: uma espécie de “exercício do sagrado”, através da união completa do feminino com o masculino. Só assim o homem atingia o divino).
No Egito, aproximadamente em 5000 a.C., a dança-do-ventre era própria das sacerdotisas dos templos, em honra à deusa-mãe Ísis, pedindo fertilidade para as mulheres, animais e solo. Essas danças simulavam a origem da vida, através movimentos e ondulações no ventre, imitando a geração da vida. A deusa Ísis foi a divindade suprema durante 30.000 anos; o enfraquecimento do culto à deusa ocorreu com a ascensão do patriarcado, então a dança foi perdendo seu caráter sagrado e passou a servir de atração em palácios e reuniões festivas.
A dança-do-ventre já foi objeto de estudo acadêmico que avaliou os benefícios que esse exercício traz às mulheres. A autora desse estudo é Ana Carla P. Abrão, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da USP, cuja dissertação de mestrado chegou às seguintes conclusões:
BENEFÍCIOS DA DANÇA-DO-VENTRE
· Prepara a mulher para o parto;
· Recupera o tônus muscular pós-parto;
· Combate TPM, cólicas, constipação intestinal e dores renais;
· Promove alongamento geral do corpo sem riscos de lesões, distensões ou contraturas;
· Tonifica a musculatura de forma gradual e de “dentro para fora”;
· Fortalece os órgãos localizados no abdômen, tornando-os mais eficientes e ativos;
· Postura correta e confortável;
· Equilíbrio e energização;
· Respiração correta;
· Resgate da auto-estima;
· Maior contato com o próprio corpo;
· Desperta o interesse pelas culturas orientais;
· Proporciona relaxamento mental e diversão;
· Incentiva boa convivência com a natureza e com outras pessoas;
· Promove uma conscientização da responsabilidade social de cada mulher;
CONCLUSÃO
A dança-do-ventre, longe de discriminar a mulher por idade ou tipo físico, acaba até ajudando as “mais cheinhas” na aceitação de suas curvas a mais; conduz a um equilíbrio entre mente, corpo e alma.
Em nossa cidade, recomendo o “Espaço Luz”, de Fernanda Amato Angelini (não é comercial, é que gosto das aulas, mesmo!), onde há um grupo de senhoras de meia-idade que se diverte muito enquanto dança, tudo da forma mais sadia possível! É uma atividade feminina, em que as mulheres aprendem a dançar como manifestação própria de sua natureza amorosa.
A mulher mudou, sim, e deve continuar conquistando seu espaço, porém o toque feminino deve estar sempre em seu coração e em seu corpo. Uma mulher que se mantém estreitamente ligada ao espírito de sua real natureza pode integrar-se no mundo masculino com menos ilusão e mais respeito. O auto-conhecimento é, na verdade, a “chave” da existência.
Da análise e reflexão diárias, vêm amadurecimento e compreensão. Através do convívio com outras pessoas encontramos o espelho que reflete nossas próprias reações, porque o que mais observamos nos outros são as reações mais arraigadas em nós mesmos. É fundamental aprender a ouvir a voz da mente, a linguagem do corpo e a da intuição, e a dança-do-ventre nos leva a tudo isso.
A mulher também é aquilo que escolhe ser quando é preparada para a responsabilidade de ser mulher.
****************************
MULHERES TECELÃS
Mulheres são tecelãs
Tecem os fios da vida
Com esperanças e alegrias infantis
Tecem os sonhos
E neles sempre há um príncipe
Que é carinhoso e gentil
E traz um amor transcendental e eterno...
Mulheres tecem vidas verdadeiras em seus ventres
Crianças que se formam em suas entranhas
E nascem, e crescem e geram outras crianças.
Mulheres são feiticeiras
Inventam magias e encantamentos
E às vezes são vítimas da própria alquimia...
Mulheres são meninas
Acreditam em finais felizes e almas gêmeas...
Mulheres são guerreiras
Enfrentam o mundo com força e garra,
E não esmorecem, mesmo cansadas ou desiludidas.
Mulheres são sábias
Trazem em si toda a sabedoria do universo
Conhecem a origem da vida,
Tornam-se deusas na gestação...
Repartem, entre os filhos, o pão, o carinho
E o próprio tempo.
E a cada um ela se entrega integralmente,
Da mesma maneira, conhecendo-lhe as diferenças.
Mulheres são especiais
Seres humanos e divinos
Mulheres são anjos
Mulheres são mães
A melhor tradução do mistério da eternidade!