Um sanduíche difícil de engolir
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Um sanduíche difícil de engolir

Fernanda, tem 55 anos, e quando ingressou no mercado de trabalho imaginou que com esta idade já estaria aposentada curtindo o merecido descanso por anos de trabalho. No seu planejamento, a estas alturas sua rotina seria marcada pela liberdade para ir e vir e escolher o que fazer. Morar no sítio, fazer artesanato, cozinhar, escrever e receber os amigos para longas tardes de boa conversa.

Entretanto, após sucessivas mudanças na lei da previdência combinadas com períodos de desemprego devido as oscilações do mercado de trabalho a aposentadoria ainda é incerta, e a restrição do mercado aos profissionais 50+ colocaram ela e outros tantos da sua geração em xeque: a reinvenção não é opção é necessidade de primeira necessidade.

Novos tempos, novos dias de fato, Fernanda está longe da sonhada paz, hoje vive envolta nos dilemas do mundo prateado. Divide seu tempo entre a preocupação com a criação dos filhos e os cuidados com a mãe buscando incansavelmente encontrar o arranjo ideal aonde consiga harmonizar sua realização profissional com a satisfação familiar, ou seja, costurando o equilíbrio entre o viver e o cuidar.

Talvez você não seja ou não conheça a Fernanda mas, pode conhecer alguém que esteja passando pelos mesmos dilemas que ela.

Da combinação da longevidade humana com alguns fatores econômicos e sociais entre eles: a demora na emancipação dos jovens, a precariedade dos empregos, a maternidade tardia entre outros, emerge um novo arranjo familiar: as famílias multigeracionais. Desta realidade surge o conceito da Geração Sanduíche, caracterizada por pessoas de meia idade que possuem o desafio de cuidar ao mesmo tempo dos filhos, dos pais idosos e ainda conforme o caso suporte aos netos.

Este sanduíche difícil de engolir, faz pulsar a necessidade de um olhar prudente sobre a invisível geração sanduíche.

Esta nova realidade, que emerge da coexistência de várias gerações nas famílias, faz surgir o que a sociologia denomina de cuidadoriado: grupo de pessoas que ao cuidar simultâneamente dos seus ascendestes e descendentes além de não receberem remuneração pelo trabalho realizado convivem com a restrição ao exercício de outras funções sociais como: trabalho, autocuidado, ver e estar com amigos, investimento em sua atualização.

A Fernanda e outros representantes da geração sanduíche carecem de políticas públicas que, reduzam a pressão a qual são submetidos,  que lhes assegure além de um regime de trabalho diferenciado e flexível para que possa conseguir a renda necessária para sustentar a família e ainda continuar cuidando dos seus, a criação de redes de apoio familiar, de amigos e comunitária, bolsas de estudos em cursos de qualificação, redução na carga tributária entre outras ações para que possam resgatar a sua condição de seres sociais ativos e integrais, sob pena de termos uma pandemia de maduros emocionalmente e financeiramente debilitados.

Vai um sanduíche aí?

Nádia Yacoub

Gestora de projetos e operações na Zepp Filmes

4 a

me identifiquei muuuito! ótimo artigo cunha!

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