Uma breve relação entre Clarice Lispector, Chacrinha,televisão e internet.
Em algum lugar da internet uma frase da Clarice Lispector circula fora do contexto, desde uma simples frase com um significado intenso ou algo lúdico. No entanto, isso acontece pela intensidade da obra da escritora, especialmente por sua escrita densa.
Apesar disso, durante muitos anos ela escreveu diversas crônicas para jornais brasileiros, sobretudo nas décadas de 60, 70 e 80. Nesses anos o Brasil passava por diversas mudanças, inclusive na tecnologia da informação. Em especial a televisão e o rádio que representava o avanço mais moderno, alcançava uma massa de pessoas.
O que relaciona Clarice a isso é o olhar atento que ela manteve para essa questão. Para além da língua portuguesa a escritora era uma crítica ácida da televisão. Tal qual ao jornalismo e a maneira como as pessoas consumiam informações. Em sua crônica intitulada de “Chacrinha?!” publicada no Jornal do Brasil no ano de 1967, ela fez críticas a estrutura e participantes do programa.
De acordo com Lispector, “dizem-me que esse programa é atualmente o mais popular. Mas como? O homem tem qualquer coisa de doido, e estou usando a palavra doido no seu verdadeiro sentido”. Diante disso é perceptível o espanto dela com um formato que nos anos seguintes ocuparia muitas horas nas grades dos mais diversos canais. Até mesmo sendo mais popular em outros países da América e Europa.
Apesar disso, o que chama atenção na crônica é como essa maneira “doida” ainda é um formato utilizado na televisão e na internet. Em sociedade de espetáculo, onde limites são ultrapassados por likes e aprovação de pessoas desconhecidas. O trecho que mais deixa isso claro é o seguinte: "e os calouros? Como é deprimente. São de todas as idades. E em todas as idades vê-se a ânsia de aparecer, de se mostrar, de se tornar famoso, mesmo á custa do ridículo ou da humilhação”.
Hoje em dia é notório que Chacrinha era um comunicador com lentes de inovação, ele viu naquela oportunidade uma forma de tornar viável os lucros atingindo uma massa que ansiava por esse tipo de espetáculo. E as pessoas, elas não se importavam com o ridículo, sobretudo em serem expostas para uma massa nacional que acompanhavam suas doidices.
Os tempos mudaram, hoje em dia todo produtor de conteúdo que busca essa audiência massiva faz isso pelas mídias sociais. A televisão hoje em dia se tornou em vídeos curtos, onde as buzinas de Chacrinha são botões de likes, a plateia são números de engajamento. No final das contas todas possuem um Chacrinha dentro de si, bem como fazem qualquer coisa de doido para alcançar a fama em uma sociedade dominada por algoritmos.