A Sutil Arte de Opinar:
entre a velha opinião formada e a metamorfose ambulante

A Sutil Arte de Opinar: entre a velha opinião formada e a metamorfose ambulante

Assim como já discuti anteriormente sobre a arte de perguntar, recentemente, um comentário que encontrei em uma rede social sobre a facilidade de opinar sobre tudo e, muitas vezes, de nos sentirmos compelidos a nos posicionar sobre todos os temas, fez-me refletir sobre essas questões. Em um mundo cada vez mais inundado por informações, muitas delas falsas, incompletas ou que levam a interpretações equivocadas, tendo as redes sociais e a internet como facilitadores, parece existir uma aparente simplicidade para expressar opiniões, frequentemente motivadas por um pseudo ou inconsequente anonimato.

Isso trouxe à minha mente a reflexão contida na letra da música de Raul Seixas, "Metamorfose Ambulante", com seu dilema: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".

 

Facilidade de opinar sem fundamentos

Neste cenário digital, a disseminação rápida de informações é inegável, mas é fundamental questionar a qualidade dessas informações. As estratégias de engajamento nas redes sociais muitas vezes incentivam respostas precipitadas, baseadas em emoções momentâneas, sem a devida fundamentação em dados sólidos. Fazendo alusão à letra da música, preferimos o conforto da opinião formada, travestida muitas vezes de convicção, que nos impede de avançar para além das superficialidades, protegida por crenças e ideologias, limitando um diálogo mais profundo e a compreensão de forma abrangente da realidade.

 

A angústia da opinião construtiva

Para aqueles comprometidos com informação significativa e a geração de conhecimento genuíno, a incessante busca por informações precisas e confiáveis gera uma angústia peculiar, frequentemente resultando na escolha de não opinar, visto que o silêncio é uma escolha válida quando a responsabilidade da opinião não pode ser assumida. Além disso, outra provocação da letra "eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes", reconhece a dinâmica e rápida mudança que também podemos ter nos cenários, podendo ser uma resposta a essa pressão social por opinar, ou seja, é possível fazer essa metamorfose, abraçando o aprendizado contínuo, adaptando-se ao fluxo do conhecimento e mantendo-se receptivo a novas ideias.

 

O libertador "Não Sei"

A polarização vigente na sociedade nos leva a acreditar que, em toda situação, temos que escolher entre lado A ou B. Vejo que até em assuntos técnicos, especialistas são impelidos a isso. Neste contexto, surge uma alternativa libertadora: o reconhecimento honesto do "Não Sei". Admitir a falta de conhecimento não é sinal de fraqueza, mas sim de humildade e sabedoria. Para não restar dúvidas, dizer “não sei, mas vou pesquisar” demonstra claramente o reconhecimento de uma lacuna momentânea, mas também a disposição para a resolver, mostrando uma postura de crescimento pessoal.

 

Em resumo, a provocação da música de Raul Seixas nos leva a vários outros insights, além dos abordados, mas podemos concluir que mais relevante do que possuir opiniões sobre tudo é o comprometimento com princípios sólidos e o respaldo em conhecimentos consistentes, para uma opinião construtiva. A metamorfose ambulante representa, assim, a metáfora para a jornada de transformação contínua, onde a qualidade das opiniões prevalece sobre a inflexibilidade das opiniões já formadas. Ao nutrirmos essa metamorfose, não apenas exercemos nosso direito de opinar, mas também assumimos a responsabilidade de evoluir com o conhecimento em um mundo em constante mudança.

Suas palavras têm poder; opine com responsabilidade e construa pontes, não muros.

Sobre o Autor: Alexey Carvalho é administrador e pedagogo, mestre em tecnologia, doutor e pós-doutorado em educação. Atua como Reitor do Centro Universitário Anhanguera de São Paulo, Conselheiro no Setor Público e Privado, Membro da Comissão ESG da Board Academy, Pesquisador em Grupos da América Latina e Caribe, Conferencista Internacional, autor e coautor de 10 obras publicadas no Brasil e no exterior (www.alexeycarvalho.adm.br).

Fabio Frederico Fernando Rocha

Advogado I Professor Universitário I Coordenador de Curso.

11 m

Excelente reflexão, parabéns!

Marcelo Stefanoni

Graduado em Letras. Pós graduado em Psicopedagogia, Engenharia de Materiais, Neurociência em Educação e Produção Multimídia com ênfase em Audiovisual.

11 m

Acho que ainda estamos cedendo e vivendo a superficialidade do momento mas ainda assim tenho esperança de que isso vai mudar.

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