Uma carta de amor para a humanidade
No passado usávamos as florestas para fugir dos predadores, hoje os maiores predadores estão dentro de nós, como a ruminação de mágoas, a autopunição, a hipersensibilidade, o ciúme, a inveja, o sentimento de vingança, o baixo limiar para frustrações, o excesso de trabalho, a necessidade neurótica de mudar os outros e a necessidade ansiosa de poder e de estar sempre certo.
Esses predadores nos transformam em escravos vivendo em sociedades livres. Não há como fugir deles, a não ser que possamos domesticá-los. No passado, nos escondíamos nas cavernas com medo dos raios; hoje nos abrigamos em nossas cavernas psíquicas, assombrados pelos fantasmas mentais, como a ansiedade, a impulsividade, a autocobrança, o pessimismo, o conformismo, que sabotam nossa felicidade, liberdade e saúde emocional. Mas como educar nossos predadores mentais e domesticar nossos fantasmas emocionais para sermos felizes, livres e saudáveis? É necessário realizar diariamente o treinamento dos treinamentos: a gestão da emoção. Nunca esqueça que ser feliz, livre e saudável é treinar sua emoção para ouvir o inaudível e enxergar o invisível, pois, se você perceber apenas o tangível, jamais descobrirá as lágrimas nunca choradas e as palavras nunca expressas, sejam as suas, sejam as de quem ama. É ainda treinar pensar como adulto, mas sempre se sentir como uma criança.
Ser feliz é treinar seu Eu para questionar suas próprias verdades e se posicionar humildemente como um ser humano em construção, um eterno aprendiz, pois, se você for autossuficiente, uma pessoa completa, será estéril, deixará de inovar e de se reinventar como educador, amante, líder, profissional. Ser feliz é treinar sua empatia e seu altruísmo e declarar que, independentemente de cultura, sexo, condição social, somos membros de uma única família: a humanidade. É descobrir que nossas diferenças estão na ponta do iceberg da nossa mente, pois, na imensa base, somos exatamente os mesmos. É ter a convicção de que ninguém pode ser chamado de ser humano se não respeitar os diferentes.
Ser feliz é treinar pacificar a própria mente, não destruindo irresponsavelmente seus recursos naturais por sofrer por antecipação, por ruminar perdas e mágoas, ter dificuldade de conviver com pessoas lentas, ser viciado em apontar falhas e elevar o tom de voz. Saiba que, antes de o planeta Terra falir, primeiro vai à falência o planeta cérebro.
Ser feliz, livre e saudável é treinar o próprio olhar para ver charme nas limitações e nos defeitos dos outros, pois você também é imperfeito, e só não erra quem está morto. É saber que você pode conviver com milhares de animais e nunca terá uma decepção, mas, se conviver com outro ser humano, haverá frustrações. É saber que você também frustrará as pessoas que mais ama.
Ser feliz é deixar de ser um predador de quem falha, pois, por trás de uma pessoa que fere há uma pessoa ferida. É saber que a maior vingança contra um inimigo é compreendê-lo e perdoá-lo; e o maior favor que se faz a ele é odiá-lo, pois ele dormirá com você e destruirá seu sono.
Só é feliz quem é capaz de fazer os outros felizes. Ser feliz é treinar o próprio Eu para saber que ciúme é saudade de si mesmo, pois quem tem ciúme exige do outro a atenção que não dá a si próprio, cobra um reconhecimento do outro que nunca teve consigo.
Ser feliz é saber que, antes de namorar alguém, você precisa namorar a sua vida. Se ninguém lhe der ores, vá à floricultura e compre-as para si. Ser feliz, livre e saudável é reconhecer que, ao longo da história, atiramos pedras na parte mais generosa da humanidade, as mulheres. É entender que ainda hoje as apedrejamos com o padrão tirânico de beleza e com salários inferiores pelas mesmas atividades.
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Ser feliz é saber que as mulheres são os diamantes da humanidade. Se elas dominassem o mundo, haveria menos guerras, pois não teriam coragem de enviar os próprios lhos para os campos de batalha.
Ser feliz é ter convicção de que os tesouros da humanidade não são as empresas, o petróleo, o ouro, mas nossas crianças. É ser contra o assassinato coletivo da infância delas. Elas têm tempo para tudo, menos para ter infância. É não intoxicá-las digitalmente nem com excesso de atividades, pois o gênio de hoje se tornará o adolescente ansioso amanhã. É não dar drogas da obediência para quem tem a síndrome do pensamento acelerado, mas não é hiperativo – e apenas 1% o são. É saber que o melhor medicamento é seu tempo: tempo para brincar, ser palhaço, contador de histórias, ser um herói imperfeito.
Ser feliz é treinar a sensibilidade para entender que a vida é assombrosamente breve para ser vivida e dramaticamente longa para se errar.
Ser feliz não é estar alegre em todos os momentos, mas usar a ansiedade para nutrir a tranquilidade, as vaias para irrigar a coragem e as derrotas para dar musculatura à capacidade de se reinventar.
Ser feliz não é apenas festejar aniversários e datas importantes, mas festejar diariamente a existência de quem amamos. É dizer para os lhos: “Você é insubstituível, obrigado por existir!” É declarar para os pais: “Sem vocês, meu céu não teria estrelas.” É expressar para quem ama: “De todas as coisas que conquistei na vida, você é a melhor delas.”
Ser feliz é ser um engenheiro de janelas light nos solos do inconsciente de quem amamos. Portanto, ser feliz, livre e saudável não é uma fatalidade do destino, mas uma questão de treinamento, é aprender a perder o trivial para conquistar o essencial. É atravessar desertos fora de si, mas conseguir conquistar um oásis por dentro. É ter maturidade para perguntar: “Onde eu errei e não soube?” É ter sabedoria para dizer: “Desculpe-me, me dê mais uma chance.” E, acima de tudo, é nunca desistir da vida, mesmo que desistam de você. É saber que sua paz vale ouro e que o resto é insignificante.
Que você diariamente conquiste uma felicidade sustentável e treine ser livre mentalmente e saudável emocionalmente. Se treinar, não tenha medo de falhar; se falhar, não tenha medo de chorar; se chorar, corrija suas rotas, mas não desista, dê sempre uma nova chance para si mesmo. Que nas suas primaveras emocionais você seja amante da alegria e, nos seus invernos existenciais, seja amigo da sabedoria. Jamais desista de ser feliz. Lute sempre pelos seus sonhos. Seja profundamente apaixonado pela vida, pois, apesar de seus defeitos, a sua vida é um espectáculo único, imperdível e irrepetível.