Uma carta de despedida. Até para o ano

Desculpa pelo que te vou fazer amanhã: de fininho digo que vou beber um copo e nunca mais te vou ver.

Faz quase um ano que te conheci.

Com calma, fomos partilhando os dias. Contigo viajei até Cabo Verde, fizeste-me o prazer de estarem 21 graus quando estavam todos a bater o dente aqui, ouvi a morna e senti-me diferente, ensinaste-me a respirar melhor.

Apanhei alguns sustos, o Gui foi operado duas vezes, a família passou por momentos que juntos ultrapassámos.

Fizeste-me perder cabelo, contigo percorri mais quilómetros, conheci ainda melhor este país que gosto que seja o meu em busca de uma vida melhor para mim e para os que me rodeiam.

Aprendi muito contigo, e com os que durante este ano estreitei amizades. Aos que não pude ver, fica a lembrança e a estima.

Conheci muito boa gente. A que não era boa, não me lembro. Tenho essa qualidade, das poucas que me acompanham. 

Contigo acordei muitas vezes a meio da noite: porque nem sempre os aplausos correspondem a rendimentos e é preciso reinventarmo-nos constantemente. Graças a isso aprendi a gostar muito do que faço agora. Mas descobri isso contigo.

Bebemos bom vinho, petiscámos boa comida, fomos juntos na última viagem da noite em comboios.

Também chorei por tua causa: por pessoas que partiram, ainda que não próximas diariamente. Ainda não me ensinaste a crer numa vida para além da morte. Para mim a morte dói porque é final. Isso não conseguiste.

Quanto às malandrices que fizeste a todos, deixo isso para os comentadores políticos. Eu importo-me mas prefiro lutar todos os dias.

Mas não dá mais! Lamento mas temos de acabar a nossa relação. Porque depois de amanhã chega um novo ano. Novas ideias, um “caderno em branco”.

Não vou prometer exercício, não vou prometer comer melhor, vou prometer ser fiel a 2016 como fui a ti.

A todos como eu que estão no fim de uma relação como esta, espero que o vosso 2016 seja tão bom como o que quero que seja o meu. Como se diz no Norte “nunca pior”!