O que "A Grande Aposta" tem a ver com o mercado de comunicação?
Ontem assisti A Grande Aposta.
O filme, que concorreu ao Oscar, mostra como alguns poucos investidores ganharam muito dinheiro apostando contra a economia americana entre 2005 e 2008.
Para quem não se lembra, foi nessa época que aconteceu a crise do subprime. Subprimes eram títulos podres, vendidos no mercado como coisa fina.
Se você não entende nada de mercado financeiro, vou resumir mais ainda. Subprime era tipo um produto falsificado, de qualidade muito duvidosa, mas que era vendido com ares e, pior ainda, preço de produto legítimo.
Agora imaginem que esses produtos formavam a base do mercado financeiro americano. Só podia dar merda, e quem percebeu isso se deu muito bem. Mas, antes disso, é claro que foram tratados como Dom Quixotes.
Só que esse post não é para falar do filme em si. Ontem saí da sala de cinema pensando em todos os "subprimes" que existem por aí, nas diversas indústrias e mercados que compõe nossa economia.
Na publicidade, por exemplo, posso citar alguns:
- A indústria de likes, que é completamente inflada, não serve pra muita coisa, mas pega super bem nos relatórios que as agências entregam para os clientes. "Por causa da nossa campanha, sua fanpage aumentou de 1 mil para 100 mil likes, embora você não vá faturar um real a mais com isso".
- Os aplicativos factóides. A empresa gasta milhares de reais para fazer um aplicativo que tem uma funcionalidade bonitinha, porém ordinária. As pessoas vão achar o máximo compartilhar notícias sobre ele, mas ninguém vai usar de fato, por mais do que um dia. Uma semana depois o aplicativo inexiste na vida das pessoas, mas, de novo, ficará ótimo em um videocase de premiação.
- Pegue qualquer termos da moda, como "big data", "inbound marketing" ou até mesmo "storytelling". Contrate alguém que não sabe direito o que isso significa, mas promete resultados espetaculares. Faça uma campanha igual a qualquer outra (inovar de verdade dá trabalho e tem riscos), mas diga que isso é "design thinking", "transmídia" ou "internet das coisas". Faça um press release bem bonito e pague para algum veículo especializado fazer uma matéria. Pronto, agora a empresa vai posar bonita como "inovadora".
Em todos esses casos o "subprime" é uma cadeia de picaretagens. A agência vende porque ganha dinheiro. O cliente compra porque fica bonito no relatório. O chefe do cliente aprova porque vai pegar bem na reunião do board. E o board aplaude porque a farsa vai ajudar a aumentar o valor percebido da empresa. Para completar o ciclo, a imprensa divulga porque recebe um por fora, e os prêmios premiam porque seus jurados fazem parte da festa.
O problema disso é que, no final da cadeia, o consumidor não compra. Mas quem está ligando pra isso, não é mesmo?
Instrutor de Formação Profissional Treinamentos para Capacitação Profissional
8 aApesar da ignorância e dada a complexidade do assunto para mim, as vezes penso que o marketing tem se revelado um dos grandes males do nosso tempo. Palavra de um leigo. Me ajudem.
Analista de processos - estampagem e injeção plástica
8 aO pior é saber que mesmo com a crise que aconteceu e que é relatada no filme pouquissimas medidas foram tomadas para proteger a economia global de uma possivel quebra generalizada no futuro Quanto mais as décadas passam mais a politica esta amarrada á economia e aos poucos que possuem o poder de decidi-las. E sempre sobrando para a população e contribuintes pagarem por erros que na maioria das vezes ja eram previstas ou ja eram esperadas por especialistas
Product Owner | Product Manager | Liderança e Inovação| Transformação Digital | Especialista em IA | User Experience | CRM e Dados | Canais Digitais | Customer Service | Customer Experience | MBA in Business Management
8 aÓtimo texto Bruno Scartozzoni, realmente definiu muito bem como o mercado ainda está repleto de falsas promessas e farsas.
Especialista em Marketing e Vendas | Inovação I Responsabilidade Social
8 aFantástica colocação. Quando vi o filme, muito complexo para minha cabeça de RP, passei a repensar o que é investimento, o que é justiça e o que o idiota (na cadeia alimentar de comunicação e negócios). Obrigada por expandir o tema!
CEO Valori Marketing Co-founder Conecta Business RP
8 aConcordo! Já falei diversas vezes para amigos em reuniões de briefing: "Pessoal, nós não vendemos produtos para nosso clientes, nós vendemos esperança de venda" Números no relatório, gráficos bacanudos enchem os olhos dos Dr. do Marketing... FATO!