UMA HISTÓRIA SOBRE SER RICO OU SER FAMOSO.
Cresci vendo meu pai ser cada dia mais reconhecido e valorizado como jornalista. Um dia ele disse a minha mãe que precisava continuar com o seu cargo público, onde realmente ganhava muito bem, porque o jornalismo não bancava as despesas da nossa família. A curiosidade de adolescente me fez buscar mais informações sobre a situação financeira do meu pai. Fiquei chocado. O contracheque dele no jornal era infinitamente inferior ao de Oficial de um cartório de Registro Civil. Meu pai era rico por conta de uma atividade que ele praticamente escondia de todos. E era um jornalista famoso.
Já na faculdade, conversando com colegas, lembro que eu vivia repetindo uma frase que revelava o quanto essa descoberta sobre meu pai me causou um pequeno trauma: “Eu prefiro ser famoso do que ser rico!”
Mais ou menos nessa mesma época, meu pai decidiu colocar em prática esse meu desejo, tantas vezes repetido aos colegas e amigos. Deixou de ser o dono do cartório, tornando-se mero funcionário público. Dali para a frente, meu pai deixou de ser rico.
E, por obra do destino, também no jornal as coisas foram mudando paulatinamente, especialmente por conta do regime militar e da censura. Ou seja, o nome do meu pai deixou de aparecer nas manchetes e nas chamadas de capa, sempre junto de políticos de grande expressão, em momentos históricos decisivos.
Não sei se meu pai fez uma escolha consciente entre ser famoso ou ser rico. O que sei é que deixou de ser as duas coisas.
Recomendados pelo LinkedIn
A vida é uma sucessão de acontecimentos que surpreendem nossos planos. Acabei me enfiando em uma profissão onde se poderia, facilmente, ser tão famoso quanto rico: a publicidade. Alguns publicitários da época eram tão famosos e ricos como os artistas de televisão. Lembrava das minhas conversas na faculdade e sorria para mim mesmo, pensando: “Pois é, tanto tempo pensando em fazer uma escolha, para enfim descobrir que não somos nós que a fazemos.”
Meu pai, sem ser rico e nem famoso seguiu sua vida na maior paz, proporcionando conforto à família e, ao falecer, deixou uma excelente pensão para minha mãe, com as duas aposentadorias: a de rico e a de famoso.
Hoje, quando penso naquele jovem cheio de sonhos de grandeza que fui um dia, rio de mim mesmo. Foi preciso a passagem de muitos anos, décadas sobre décadas, para que descobrisse que a resposta certa não é nem ser rico e nem ser famoso. É exatamente a oportunidade que a vida tem me dado de poder continuar lutando, diriamente, para ser uma coisa ou outra. Ou as duas.
Tudo na vida é questão de ter metas.