Uma outra liberdade

Não...não estou trabalhando com o que amo, não encontrei o amor da minha vida, não estou com a vida ganha, não estou viajando (coisa que amo fazer), não estou sequer morando na cidade que amo viver e de quebra está rolando uma pandemia que limita minha liberdade - meu valor primordial. Ainda assim estou vivendo a melhor fase da minha vida até aqui!

Pela primeira vez experimento uma profunda e silenciosa paz de ser. Essa minha melhor fase não tem nada a ver com o que faço, com o que tenho, com como vivo, com quem me relaciono....tem a ver com uma deliciosa liberdade interna.

Tenho rompido minhas amarras, meus condicionamentos limitantes, meus padrões estruturantes. Tenho ruído as minhas ilusões e pisado com pés firmes no chão. Tenho feito o que precisa ser feito, goste eu ou não. Tenho rompido aquelas ilusões que eu alimentava e que me faziam estar numa idealização irreal e exigente da vida.

Por tempos eu projetei fora os motivos do meu bem estar: um trabalho que fizesse sentido, um relacionamento idealizado, um estilo de vida alinhado a quem eu sou, em dar alguma contribuição pro mundo. Sigo acreditando que isso importa. Mas o que mudou aqui dentro é que isso não me define e não condiciono mais minha identidade, meu existir a isso.

Essa busca por propósito, por colocar todos os checks em todas as áreas da vida tem sido, inclusive, motivo de sérios transtornos de ansiedade nas pessoas. Foi em mim também. Acredito sim que cada um de nós somos seres únicos, com paixões, talentos e história de vida próprios e que merecemos viver toda a nossa potência. Mas percebi o quanto é ilusório e nocivo à saúde mental e emocional projetar nossa existência no fora, no ter, no fazer, no conquistar algo, no chegar em algum lugar.

Estou aprendendo a ser! E isso é difícil de explicar, de definir. É um processo silencioso, solitário e um tanto doloroso. Assim tem sido. Não veio de uma hora pra outra e sim construído num movimento - que começou há 12 anos e se intensificou nos últimos 2 - de conhecer profundamente cada pedaço de mim. De me deparar comigo mesma e meus condicionamentos.

Tenho trabalhado sombras profundas, padrões de comportamento e crenças estruturantes que estão ruindo e me colocando num profundo vazio. Um vazio fecundo, em que floresço, em que me torno eu.

Um lugar em que experimento toda sorte de sentimentos que tentamos ao máximo evitar, que nos assustam e que são símbolos de insucesso: raiva, tristeza, solidão, medo, dúvida, incapacidade...Mas como me fez bem entrar em contato com desconfortos, com o que me tira do “quentinho”. Tem me feito forte, capaz, inteira.

Essa liberdade...nova pra mim. Porque liberdade, antes, eu achava, era aquela de fazer o que eu quisesse. Essa, interna, silenciosa é de outra natureza...essa liberdade de ser. Não importa onde eu esteja ou o que eu esteja fazendo ou com quem. Porque não é fora. E essa liberdade dá espaço à vida que acontece no aqui e no agora, com todo o pacote chamado vida: chatices, êxtases, amor, dor, solidão, solitude, desafios, desconfortos, serenidade, instabilidades e tantas outras nuances.

Uma vida que não é fantasia. Uma vida desprovida de ilusões. De expectativas. De uma falsa perfeição. De um desejo de bem-estar a todo custo. De controle. Uma vida que é bela em suas imperfeições, em sua impermanência, em sua rotina, em sua simplicidade.

Estar vivendo a melhor fase da minha vida nem passa perto de "estar tudo resolvido". Nem significa que eu não tenha dias difíceis. Tenho. Aos montes. Significa, apenas, estar em paz com tudo exatamente como é. E seguir tendo em meu coração todos os sonhos e desejos do mundo!

(Foto pelo olhar sensível, artístico e certeiro da querida Fernanda Abrantes)

#liberdade #amor #verdade #paz #autoconhecimento #autodesenvolvimento #desenvolvimentopessoal