Uma violência imperceptível
Estamos vivendo numa época pobre de negatividade e rica em positividade. A positivação do mundo leva ao surgimento de novas formas de violência, como a violência da positividade, resultado do excesso de produtividade, de desempenho e da comunicação, que leva ao colapso psíquico.
Nossa sociedade se caracteriza pelo desaparecimento da alteridade e da estranheza. No lugar da alteridade surge a diferença. A estranheza se neutraliza nos hábitos de consumo. O estranho se torna exótico. Essa positivação faz surgir novas formas de violência que são imanentes ao sistema. Uma violência resultante da superprodução, do superdesempenho e da supercomunicação.
A violência neuronal, livre de negatividade, é inerente ao sistema. Essa violência da positividade não é particular, mas saturante; não excludente, mas exaustiva, o que a torna inacessível a uma percepção direta. A exaustão, o esgotamento e o sufocamento frente a demasia, são manifestações dessa violência imperceptível.
O adoecimento atual, segue a dialética da positividade. A violência neuronal leva ao colapso psíquico. A depressão, a Síndrome de Burnout (SB), o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e o transtorno de personalidade limítrofe (TPL) são tipos de doenças neuronais provocadas pelo excesso de positividade.
Portanto, é preciso ficar atento, pois, “a violência não provém apenas da negatividade, mas também da positividade, não apenas do outro ou do estranho, mas também do igual” como bem destaca Byung-Chul Han.
Adriano Batista, Psicanalista e Especialista em Psicologia Organizacional