Universidade e Empreendedorismo

Recentemente participei de um painel onde foi discutido o papel e a interação da universidade com as empresas em desenvolvimento - um assunto de extrema importância para um país com grande potencial mas que patina há décadas quando se fala em crescimento econômico recorrente.

Para desenvolvermos o assunto, vamos fazer algumas considerações:

• Segundo dados do IBGE e Ministério da Economia, mais de 75% dos CNPJs ativos em 2023 se enquadram como MEI (Microempreendedores Individuais) e outros 15% se enquadram como EPP (Empresas de Pequeno Porte) - portanto, aproximadamente 90% das empresas brasileiras se enquadram entre MEI e EPP;
• Entre os Microempreendedores Individuais, 44% possuem ensino médio completo e 17% têm formação superior (SEBRAE 2023);
• Já entre as EPPs, 57% possuem formação superior (SEBRAE 2023);
• Também segundo o IBGE (2020), 23,4% dos brasileiros com 18 anos ou mais possuem ensino superior completo, índice este que fica abaixo da média de 29,3% entre os países do G20, onde os primeiros quatro (Canadá, Coreia do Sul, Japão e Israel) têm índices acima de 50% (OCDE 2020).

Ainda que não haja uma relação direta ou uma linearidade entre o índice quantitativo de graduados e o nível educacional dos empreendedores, creio que poderíamos questionar se a universidade seria o momento em que se daria o principal suporte ao empreendedorismo ou se esse ambiente seria a continuidade de um trabalho originado no ensino básico e médio. É um questionamento importante visto que uma pequena parcela da população chega à universidade. 

Sendo assim, podemos deduzir que o sistema educacional brasileiro não está com o melhor foco quando se trata de preparar a população para o empreendedorismo - vamos ressaltar que o SEBRAE faz um trabalho maravilhoso de apoio ao empreendedorismo, ainda que grande parte dos empreendedores não tenha a formação básica para entender as metodologias de gestão disponíveis.

Também devemos considerar que o nível educacional dos sócios não é o único fator determinante de sucesso de um empreendimento, mas certamente aumenta as chances.

Durante o painel, alguns empreendedores responderam perguntas do grupo ali presente, inclusive de universitários. Uma delas chamou a minha atenção:

• “Qual a melhor metodologia para escolher os funcionários do empreendimento?”

É uma pergunta que demonstra o grande despreparo para empreender, pois quando estamos abrindo uma empresa (75% se enquadram como MEI) a disponibilidade de caixa é bastante limitada, o que exige que o próprio fundador atue em todas as frentes, como idealizador, executor, controlador, vendedor,  etc.

Apesar de já presenciarmos algumas iniciativas e investimentos no preparo ao empreendedorismo na educação básica, ainda temos um longo caminho a percorrer.

Não existe imediatismo, mas planejamento visando resultados em uma década ou mais. Não se faz uma nação desenvolvida em apenas quatro ou oito anos.

Além de formar empreendedores, precisamos capacitar professores e bem remunerá-los para que haja interesse e empenho, muito além de amor somente.

E aqui deixo uma sugestão para acelerar o processo: 

O Brasil está repleto de profissionais seniores, bastante preparados e experimentados.  Profissionais estes que estão sendo desconsiderados pelas empresas e corporações por puro etarismo e também devido a uma legislação trabalhista ainda atrasada e onerosa (apesar das últimas reformas). Creio que aí está uma grande oportunidade de interação entre gerações. 

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