URGE O RETORNO DE UMA CULTURA DA SOLIDARIEDADE PARA SUPLANTAR A COMPETITIVA
Na subjacência da crise da sociedade contemporânea se esconde sutilmente há mais de dez mil anos culturas que alimentaram um imaginário do construto político socioeconômico, que tem sua base principal na educação de gênero.
Tal realidade tem sido cultivada tanto no Oriente como no Ocidente, e hoje, sentimos consciente ou não as razões últimas desse comportamento ao verificar as consequências que atinge a essência do tecido social, embora vendo sob o ângulo do sistema financeiro e da economia de mercado parece ser algo interessante, mesmo sendo um modo de vida cruel e desumano. Por ex: “O maior índice de suicídios de jovens no mundo acontece no Japão”. (MURARO, Rose Marie – Reinventando/capital dinheiro – ed. Ideias&Letras – 2012 –p.106).
Por quê? Há uma exigência de muito estudo, ou seja, são doze horas de estudos integrais para capacitar e competir os jovens para serem os melhores, com o risco de serem punidos não alcançando o objetivo e desejado. A China segue o mesmo caminho. No mundo Ocidental também é exigido o máximo, embora com menos rigidez, ao menos aparentemente. “Para essas culturas, o amor tem muito a ver com a violência, e aguentam a violência da sociedade competitiva, achando, desde a infância, que ela é “natural”. (MURARO, 2012).
No mundo Ocidental, que durante séculos foi constituído como os países mais “avançados” do mundo, especialmente os anglo-saxões, agora estão em declínio acelerado. Tudo era muito rígido, uma disciplina implacável e por trás havia um puritanismo religioso, ou seja, para o protestantismo, salvava-se aquele que era trabalhador, e o preguiçoso era condenado. De acordo com Muraro, em meados do século XIX, “...a cultura de massas criou, por meio da tecnologia moderna, uma sociedade de consumo”.
Os interesses consumistas obrigaram a um afrouxamento dessa rigidez dos costumes, como criar necessidades de compra, usufruirem cada vez mais dos bens, sem nenhum critério, e, isso no momento histórico percebe-se a camisa de força em o tecido social se meteu. Os valores humanos parecem que não são mais importantes, consequentemente essa lógica da competição e do consumismo trouxe no bojo desse início do século XXI, menos alegria, medo, insegurança, ganância, violência, desigualdade social em significativa escala e o respeito pela dignidade do ser humano passou a ser uma espécie de subcultura no mundo dos negócios.
O que pensar em termos de futuro das novas gerações? Dentro da lógica da economia de mercado, transmutado em capital financeiro parece não dizer nada, pois a multiplicação dos cursos superiores de “Marketing” estão a todo vapor, no entanto o consumidor não é devidamente preparado para que com critérios sensatos possam consumir sem ser escravos do “consumismo”. É um círculo vicioso que necessita de ajuste através de um processo educativo.
COMO RETOMAR UM DESENVOLVIMENTO SAUDÁVEL E QUE NÃO ESTEJA BASEADO NA COMPETIÇÃO?
Historicamente se percebe que tanto a Europa como os Estados Unidos passaram de uma formação rígida no comportamento quanto na formação das novas gerações, um total afrouxamento dos valores. “De puritanas, essas sociedades passaram a ser hedonistas e não aguentando mais a competição”. (MURARO, 2012).
As relações interpessoais precisam avançar em termos de igualdade, ou seja, mesmo dentro da família é necessário cultivar o diálogo, o respeito de pais e filhos e filhos e pais, é preciso superar a ideia de patrão x empregado, de professor x aluno e todos os binômios que não favorecem a cultura da solidariedade.
A família é a célula que deve iniciar esse processo de solidariedade entre si, assim as religiões da mesma forma, as diversas organizações e tudo o que diz respeito ao ser humano. É possível crescer e avançar tecnologicamente sem massacrar ninguém.
Ter algum cargo importante não significa que é dono, e sim servidor, alguém que agrega e torna a solidariedade em todas as dimensões como relações verdadeiramente humanas. “O amor romântico, como conhecemos hoje no Brasil, é um fato muito recente na história humana e ainda é muito mal assimilado [...] Ele só pode ser assimilado, como deve, em uma sociedade solidária”. (MURARO, 2012).
E segue: “Hoje, por causa desses valores antigos, o mundo é dividido em senhores e escravos, opressores e oprimidos, e a maioria das pessoas julga isso natural”. Felizmente o ocidente está em uma fase de transição. Em uma sociedade competitiva, o altruísmo é impossível. Segundo Muraro, “...foi a sociedade de consumo que começou a questionar esse inconsciente coletivo de dominação.
Portanto, urge uma ação consciente dos responsáveis pelas organizações políticas, socioeconômicas e religiosas para retomar como bandeira de humanização valores e virtudes para edificar uma nova educação que tire o mundo dessa enrascada competitiva que só atrapalha o surgimento de um mundo melhor mais justo e fraterno!