Usar inteligência artificial requer saber se expressar
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Usar inteligência artificial requer saber se expressar

Imagine estar diante de uma máquina que pode responder TODAS as suas perguntas, resolver todas as questões, sanar qualquer dúvida, mas para isso é preciso que você diga o que quer saber em um idioma específico, por exemplo, russo.

Se você não fala russo – e por isso nem consegue pedir para a máquina te ajudar – de que adianta estar diante de um aparelho tão maravilhoso?

Toda vez que a humanidade dá saltos tecnológicos isso acontece. Ou você aprende a se comunicar com a nova “máquina” ou ela é inútil para você e vice versa. Como a história já provou, o resultado da não adaptação é a obsolescência e, em muitos casos, a extinção. 

Hoje vivemos esse dilema quando o assunto é inteligência artificial. A “máquina” está se desenvolvendo diariamente, ficando mais “inteligente”, rápida e cheia de habilidades, mas e quem vai usá-la, está treinando para ficar cada vez mais apto a dar as ordens corretas?

Alerta do especialista

A reflexão vem depois de assistir a um vídeo do publicitário, administrador e hoje especialista em inovação e transformação digital, Walter Longo (em seu perfil no Instagram, @wlongo), no qual ele faz esse alerta:

“Um jovem de hoje tem 40% menos de extensão vocabular do que um jovem do High School americano na década de 50. Nós estamos com menos vocabulário. Sabe o que é que isso traz como consequência? Primeiro, você não consegue trabalhar com inteligência artificial com baixo vocabulário. Por que? Porque você vai explicar como se não tem riqueza de vocabulário?
Se você não souber a diferença entre afrontar, defrontar e confrontar, não sai o desenho que você queria. Se você não souber a diferença entre teto e abóboda, não sai o projeto arquitetônico que você estava interessado. Não sai.
Tanto que a gente está vendo que as pessoas mais velhas estão conseguindo mais colocações com inteligência artificial do que os mais novos. Porque os mais velhos leram mais, têm mais extensão vocabular e assim por diante.
Nós precisamos entender que a tecnologia não traz um problema. A tecnologia é usada por alguém para sobrar mais tempo e ler mais e, para outro, para ficar no videogame. Tá bom, não tem problema. O destino desses dois será diferente. Nós somos donos do nosso destino. 
Eu preciso ter cada vez mais – em tempos de inteligência artificial – mais imaginação. Para eu ter imaginação eu tenho que ler muito. Você falar assim: ‘ler, que coisa antiga’. Pode achar antigo e eu também posso achar, mas a leitura é a única forma de transmissão de informação onde eu imagino junto com o autor”. 

Alguém discorda do ponto de vista de Longo?

De novo, essa necessidade de evoluir como ser humano para poder interagir com a nova tecnologia é parte do nosso processo de desenvolvimento como espécie. Para dirigir um automóvel ou pilotar um avião foi preciso desenvolver novas habilidades motoras e de atenção para lidar com diversas informações da “máquina” ao mesmo tempo, por exemplo.  

O ponto mais interessante desse momento é que – diferentemente de outros na história da humanidade – a interação com as novas tecnologias requer cada vez menos habilidades físicas e cada vez mais habilidades intelectuais, daí a juventude não ser necessariamente uma vantagem, ao contrário.

Talvez o único paralelo histórico seja o surgimento e posterior democratização do livro como o conhecemos hoje à partir do século XVI. Imagine a revolução que foi ter o conhecimento, que antes era restrito e passado oralmente, registrado em folhas de papel que podiam ser lidas se você soubesse decodificar as letras.

O livro continua sendo a maior invenção tecnológica para o intelecto humano de todos os tempos.

As novas gerações têm um grande desafio pela frente

Em seu best-seller “A fábrica de cretinos digitais” (Vestígio, 2022), o especialista francês em neurociência cognitiva Michel Desmurget, apresenta resultados de estudos que provam que o tempo que crianças e jovens ficam diante de telas interfere em seu poder de concentração, atrapalha o sono e acarreta em problemas de saúde.

O alerta do pesquisador é sério e penso que podemos perceber sua materialização observando as crianças e jovens à nossa volta. Não tenho dúvida que eles interagem bem com a tecnologia, mas vejo cada vez menos traquejo social e segurança entre eles.

Também me chama atenção a falta de conhecimento (e de vocabulário, como diz Longo em seu vídeo). Ao contrário do que se imaginou no passado, o acesso a conhecimento gratuito e quase ilimitado na internet não tornou as pessoas mais interessadas em cultura, idiomas, filosofia, história, etc. Principalmente os mais jovens. O desafio das gerações mais novas me parece grande nesse sentido.

E você, o que acha? Como está se preparando para lidar com uma inteligência artificial cada vez mais inteligente?    

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Gustavo Candido é consultor de marketing digital. Também é jornalista e autor de livros sobre Trade Marketing, Atendimento e Multicanalidade, Cadeia de Suprimentos e Gestão de Marcas que você pode encontrar na Amazon.

Instagram/Threads: @gustavocandidomktdig; LinkedIn: gustavo-candido

Lívia Inglesis Barcellos

Doutoranda em Mídia e Tecnologia | Jornalista | Bolsista CAPES | Mãe

9 m

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