VACA NO BREJO

Lamentavelmente, joguei a toalha para 2022. Não vejo nenhuma perspectiva econômica ou política, que possibilite reverter a estagflação que vamos enfrentar. Quer conhecer as razões deste pessimismo?

 A palavra economia vem do grego “oikonomia”, que significa administração da casa. Ninguém melhor do que a dona da casa para administrar a escassez. Ela sabe que nunca terá dinheiro suficiente para atender todas as necessidades e expectativas da família. A forma que ela encontra para se virar nos 30, tem o nome técnico de trade-off: o que deixo de comprar para tentar ter pelo menos o essencial. Este trade-off fica quase impossível quando o poder de compra da renda familiar não chega para comprar o básico. Milhões de brasileiros estão nesta situação agora e vão continuar nela por um bom tempo, já que as mudanças em uma economia gigantesca como o Brasil são lentas.

RAZÕES PARA PESSIMISMO

Em diversos artigos publicados em 2021, venho alertando para os riscos de uma crise socioeconômica. Vejamos alguns títulos: “Brasil por um fio” (28/jan); “A conta chegou” (15/jul); “Luz Amarela” (26/ago) e o último “Aviso do Garçom” (21/out). Até o Posto Ipiranga decretar o fim do Teto de Gastos, estávamos à beira de um abismo econômico. Ele deu um passo à frente e decretou o fim de qualquer expectativa positiva para a economia brasileira em 2022. Vamos ver as razões desta opinião, sem nenhum viés ideológico. 

FATORES ECONÔMICOS EXTERNOS

Continuidade da inundação de liquidez nos países ricos; bolha imobiliária chinesa, crise energética mundial; colapso na logística mundial (modal marítimo). Isto provoca inflação e valorização do dólar frente a moedas fracas (como o Real). 

FATORES ECONÔMICOS INTERNOS

Uma frase do economista Thomas Sowell, traduz bem o momento do fim da responsabilidade fiscal no Brasil, lamentavelmente, decretado por um liberal, que sujou seu currículo: 

A primeira lição da economia é a escassez: nunca há algo em quantidade suficiente para satisfazer os que o querem. A primeira lição da política é desconsiderar a primeira lição da economia.

Alguém duvida que foi esta a máxima, que Paulo Guedes seguiu para jogar o Brasil na categoria dos países economicamente irresponsáveis, onde estávamos antes do Plano Real?

FATORES COMPORTAMENTAIS EXTERNOS E INTERNOS

As principais decisões econômicas (compra e investimento) dependem da combinação do cenário econômico atual, com as expectativas futuras dos consumidores ou investidores. Uma projeção pessimista faz com que os possíveis compradores retardem a decisão de compra, e os investidores adiem ou cancelem investimentos. A combinação dos fatores econômicos (externos e internos) com o fim da âncora fiscal (Teto dos Gastos) baixou o “humor” dos compradores e dos investidores (ainda mais os estrangeiros), com relação ao Brasil. É impossível reverter esta perspectiva até o final do atual mandato presidencial.

RISCO EXPLOSÃO SOCIAL

Como não tem nada tão ruim que não possa piorar, o desemprego alto combinado com uma inflação que é muito mais alta para os pobres é um verdadeiro barril de pólvora. Enquanto a inflação anual total atinge cerca de 10%, a cesta básica dos que ganham menos subiu 20%. Desde o início da pandemia, o aumento foi de 40%. Isto significa, passar fome para quem tem que viver com um salário mínimo. Mais grave: antes que estes números melhorem, vão piorar bastante. Já vimos este filme em 2015, na parte final do (des) governo dilmista. 

CENÁRIO 2022

O mercado, aquele com o qual os governos populistas de esquerda ou direita não convivem bem, projeta uma taxa de inflação acima de 9% no final de 2021 e 10% em 2022. Como resultado, o dólar deve ficar acima dos R$ 5,50, pressionando o custo das importações, especialmente combustíveis, o que alimenta a inflação e inibe investimentos, impedindo a redução do desemprego.              

ECONOMIA BRASIL 2022 = EM TEMPO DE MUDA, PASSARINHO NÃO CANTA. ESPERE POR 2023

Resumo da ópera - A somatória: indicadores macroeconômicos + expectativas de mercado + ano eleitoral, comprometerão a economia brasileira em 2022. Só nos resta torcer por um 2023 melhor.   

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Sou Ismar Becker, empresário, conselheiro, mentor, estudei em Harvard Business School, no curso de Owner and President Management Program. Sou especialista no mercado de cerâmica em mais de 70 países e acumulo experiência de mais de 40 anos de viagens pelo mundo. A experiência e conhecimento que adquiri, e continuo a ganhar diariamente, busco repassar às pessoas e empresas por meio de uma visão cosmopolita e holística em novos desafios.