Vai passar!

A imagem abaixo seria publicada no dia 19 de março de 2020. 

Há um ano eu voltaria a trabalhar. 

Job ✅

Coworking ✅

Cuidadora ✅

Dois dias antes começou o lockdown. 

O job foi cancelado. 

O coworking fechou. 

Sabe aquela sensação de esperar por horas na fila do banco e na sua vez o caixa fechar? 

Foi exatamente assim que eu me senti. 

Quer conhecer detalhes dessa história? 

O mísero tempo da licença-maternidade passou voando. 

Dizem que quando estamos muito ocupados nem vemos o tempo passar. 

E assim foi. 

Mas, não foi suficiente para as minhas escolhas: amamentação exclusiva e em livre demanda, sem chupeta, sem babá, mas com muito acolhimento. 

Embora alguns pensem que licença-maternidade é férias, na verdade é um dos trabalhos mais árduos que existem. 

Mas você pisca (nem chega a dormir) e ela acaba. 

Aí você é chamada para voltar ao trabalho e dar um gás (aquele que você ainda não recuperou).   

Não tive coragem de deixar um bebê de 3 meses e 17 dias que dependia exclusivamente de mim (lembra das escolhas que comentei?). 

Segundo a CEO da B2Mamy, Dani Junco, a cada dez mulheres que entram em licença-maternidade, quatro não retornam ao trabalho. 

Quando você trabalha há mais de 20 anos e nunca pensou em parar é difícil fazer parte dessa estatística. 

Mas, lá estava eu, sendo uma das quatro. 

Eu ouvia dizer que na maternidade os dias são longos (as noites muito mais) e os anos são 

curtos. Mas, ainda não compreendia isso muito bem. 

Prestes a completar sete meses aquele bebê, até então indefeso, já sentava sozinho, experimentava todo tipo de alimento e rastejava pela casa. 

Finalmente, era o momento de voltar ao trabalho! 

Surgiu então um freela.

Conheci um local "mommy friendly", com espaço reservado para amamentar (sem ser background para a call de alguém) e ainda tinha uma cuidadora inclusa.

Era um sonho!

Aí veio o Decreto 515/2020 determinando o estado de emergência em todo o território catarinense e estabelecendo o lockdown. 

O sonho acabou. Acordei um tanto confusa. Tentando recalcular a rota. 

Uma nova rotina surgiu. 

Máscaras; álcool em gel; muito sabão; saídas somente ao ar livre; um certo ar de desconfiança no ar (ou seria uma neurose?). 

A meta era achatar a curva. 

Depois dobraram a meta. 

Até que a meta ficou aberta. 

O bebê completou seu primeiro ano. 

Aquela frase começou a fazer sentido. 

O ano que se arrastou, de repente parece que passou rápido demais. 

A maternidade é muito contraditória. 

Talvez poucas coisas nela sejam coerentes. 

Mas uma, eu tenho certeza que é. 

A expressão: "vai passar". 

A ansiedade pelo parto. 

A dor da transformação. 

Os primeiros dias. 

O início da amamentação. 

Os perrengues. 

A solidão. 

A introdução alimentar.

Os primeiros passos. 

As noites em claro (essas passam quando?).

As primeiras palavras. 

A adaptação escolar. 

Tudo isso vai passar. 

A primeira infância de uma criança só acontece uma vez. 

Ela vai passar e nunca mais poderá ser recuperada. 

Já o emprego, o cliente ou o job, esses podem ser recuperados. 

Mas e a pandemia? Será que ela vai passar? 

Será que recuperaremos o direito de sorrir sem máscara? 

Será que a "moda do álcool em gel" vai passar? 

E a liberdade para aglomerar, será recuperada? 

Essas respostas ainda parecem distantes. 

Enquanto isso, vamos nos adaptando, com muita criatividade. 

Inclusive, você sabia que:

mães são mais produtivas e criativas justamente porque as atividades neurais, ligadas à criatividade, aumentam durante a gestação?¹

E, haja criatividade para manter um bebê de quase 19 meses entretido dentro de casa. 

Mas, enquanto o Coronavírus estiver à solta, precisamos ficar em segurança. 

Quase um ano depois do previsto eu voltei a trabalhar. 

A demanda ainda é pequena, mas o entusiasmo não. 

A "criatividade materna" está rolando solta. 

Agora só falta uma coisa: a Covid 19 passar. 

Vamos continuar em segurança. 

Tudo isso vai passar!

¹ Fonte: Correio Braziliense