valor, valores

Quando uma sociedade decide que algo é ruim e deve ser evitado, cria mecanismos de coerção e de repressão para impedir que os indivíduos adotem tais comportamentos. E quando algo é considerado um valor, a sociedade incentiva e promove a adoção de ações e práticas que correspondem a ele e o reforçam. Surge, desse modo, o que Karl Marx designou de aparelhos ideológicos: os mecanismos sociais que servem para imprimir nos indivíduos o conjunto de ideias motriz de suas condutas. A família, a escola, a religião e o Estado, são as principais instituições que cuidam de informar o que se deve e o que não se deve fazer. As leis, os princípios religiosos, os códigos morais e as lições escolares formam o caráter das pessoas de modo a que corresponda ao padrão moral adotado, ou seja, à ideologia dominante. Numa sociedade patriarcal, por exemplo, todos crescem sabendo que o pai é a figura central na família, a mulher lhe deve obediência e respeito, as principais tarefas sociais são desempenhadas por homens, os homens controlam a política e a religião, e assim por diante. Os aparelhos ideológicos nos ensinam como as coisas devem ser. Numa sociedade baseada no modo capitalista de produção, os aparelhos ideológicos tendem a nos tornar pessoas preocupadas em consumir, pois é isso o que movimenta o mercado.

A ética é o campo dos valores. Valor é aquilo que pode ser adjetivado como bom, desejável, digno de imitação, verdadeiro, justo, responsável etc. Por exemplo, ser honesto é bom. Portanto, a honestidade é um valor. A desonestidade, ao contrário, pode ser qualificada como um mal, um contravalor. Pensar nas gerações futuras, preservando o meio ambiente, é uma atitude louvável, responsável, eticamente correta, e assim por diante. Ao contrário, destruir o meio ambiente ou adotar um estilo de vida que não leve em conta o futuro da humanidade é agir de forma irresponsável e, portanto, contrária à ética. Acontece que, às vezes, não se sabe direito o que se deve escolher. Os valores se confundem, se misturam. Isso ocorre quando, por exemplo, as pessoas não sabem se é melhor ganhar a vida honestamente ou usar de meios ilícitos para enriquecer (há quem ache que a desonestidade é simplesmente uma questão de esperteza). Recentemente, uma reportagem de televisão mostrava funcionários públicos afirmando que cobrar comissões indevidas para aprovar projetos faz parte da “ética do mercado” . Isso é confundir tudo, trocar o bem pelo mal como se fossem sinônimos. E esse é o caminho certo para o que se pode chamar de crise ética.

(CRISE DE VALORES: DESAFIO À SUSTENTABILIDADE Paulo Eduardo de Oliveira)

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