A valorização da valorização
Um dos discursos mais comuns que tenho ouvido é este: "a escola nunca foi tão valorizada. Os professores vão sair dessa crise como verdadeiros heróis. As famílias vão finalmente dar o devido valor aos educadores". Eu não vejo assim.
Para muitos, a escola continua sendo o lugar onde se deixa os filhos enquanto sua vida acontece. Isso significa que um dos fatores que catapulta a pressão para o retorno das crianças à escola é a necessidade de os adultos voltarem a seus postos de trabalho. As questões que têm a ver com protocolos sanitários ou a capacidade de nossas crianças e jovens manterem o distanciamento social seguro são colocadas em um segundo plano.
Às pessoas que mantêm o discurso de que os professores terão um tempo de valorização e bonança pergunto: quantas mães você conhece que levaram questionamentos à escola dessa natureza?
"Os salários dos professores foram reduzidos? Por quê? Os pagamentos estão em dia?"
"Se a conexão da professora é ruim, a escola está pagando um plano de internet melhor para melhorar a qualidade do seu serviço?"
"Os filhos dos professores serão levados em conta na hora de montar os horários das aulas, para que eles também tenham condição de participar do revezamento de alunos?"
"A professora que é do grupo de risco não vai ser obrigada a voltar às aulas presenciais, certo?"
É muito possível que em nenhum grupo de mães de que você participa essas perguntas tenham sido feitas. Há preocupação com desconto nas mensalidades, reposição de aulas, qualidade das aulas remotas, entregas de apostilas e avaliações online. As equipes pedagógicas apagam incêndios constantes desde março, quando a pandemia nos tirou a vida que tínhamos e que talvez não valorizássemos. Nem por isso acordamos.
Permanecemos na expectativa de soluções mágicas. A vacina a jato, a escola esterilizada, o "professor guerreiro".
Mais do que nunca, é preciso tirar a capa vermelha dos professores e pensarmos ações concretas para que essa valorização se constitua na dura realidade que estamos vivendo.
Que valor você realmente dá aos profissionais que você diz que valoriza?