Valorização X Suborno de Pessoas

Valorização X Suborno de Pessoas

Há uma distorção do sentido de valorização de pessoas, tanto pela parte empresarial como por parte dos empregados. Quando deveria ser entendido como além do respeito ao próximo e fornecimento adequado das condições (físicas, ambientais e emocionais) para a execução saudável do trabalho, o reconhecimento - financeiro ou não - da produção eficiente e este, no limite da motivação, da necessidade de reconhecimento, como apontada por Maslow, sem caracterizar suborno para doação além dos limites. Este “suborno”, pode trazer lucros imediatos... porém é importante lembrar que esta condição também trará fadiga e desgaste, resultando em baixa produtividade e até em doenças psicológicas e/ou físicas do trabalho, resultando em prejuízo no segundo momento.

Outro engano é que até para os mais “Pollyana’s”, o mundo não é tão cor de rosa, é um erro desvincular a mudança de comportamento organizacional com a busca do lucro. Que seja admitido: o melhor investimento, não é em infra estrutura ou tecnologia, mas sim, em PESSOAS. Não há erro ou maldade neste investimento, desde que não haja a manipulação de princípios pessoais e a desconsideração dos limites mentais e físicos de cada um, a favor do marketing de responsabilidade social, para criar a imagem de “Empresa Humana.”

A valorização de pessoas nas organizações é capitalista, e isto não é injusto, nem feio. O que não é tão bonito é a origem da preocupação com o próximo ser, em maioria, somente o cálculo matemático de: pessoas + felizes, (-) ações trabalhistas, absenteísmo, boicotes clandestinos = ( igual) a Lucro Maior.

Se não houver a sustentabilidade e o retorno aos investidores, não há porque existirem, deixam de gerar empregos, de rentabilizar os trabalhadores. O ciclo é: o colaborador ganha, se a empresa ganha. O que deve ser repensando é: o que se ganha, o que se perde?

O sucesso empresarial depende também da relação com seus stackeholders, e estes constantemente pressionados pela ética e responsabilidade social, cobram a valorização de pessoas, e assim é firmado o contrato do bem estar comum, não sendo apenas uma escolha de posicionamento humanitário, e sim capitalista.

O que considero a usurpação da imagem de “valorização de pessoas” se dá quando há a troca de algumas vantagens (algumas muito atrativas e tentadoras mesmo) por esforços demasiados, como por exemplo, a atração de talentos com benefícios não obrigatórios e o assédio moral aplicado para coagir ao alcance de metas que requerem dedicação extraordinária tanto de tempo de trabalho como de suas capacidades e habilidades, gerando o tão presente “stress” ou “fadiga” do trabalhador, sem que este perceba o início de seu esgotamento. Afinal, está ganhando em troca a vantagem de algum beneficio, e está treinado socialmente que tudo tem um preço, então quanto mais trabalho... mais ganha! E seu limite, está sendo respeitado? O próprio trabalhador o respeita?

Outro engano, tanto de nomenclatura, como de conceito popular é o chamado “capital humano”. Pois pode ser construído, adquirido, desenvolvido o “capital intelectual”, ou seja o conhecimento, e não a pessoa. As empresas não possuem em seus bens e direitos as pessoas, e sim o conhecimento destas, a partir das condições favoráveis e motivadoras para isto, mas... capitalizar a pessoa?

Por que acontece esta apropriação indevida? Por que o despeito com a personalidade individual? Porque pessoas mal formadas, com princípios e personalidade incompletos, estão mais propícias (carentes) de aceitarem o complemento faltante da organização que está inserida, outorgando o direito de moldar sua personalidade de acordo com interesse empresarial.

E não é justo culpar as empresas por esta manipulação, pois está sendo terceirizada a elas a educação e a formação do indivíduo. E estas, estrategicamente, estão caladamente aceitando esta responsabilidade basicamente familiar, usando o nome da “valorização de pessoas”, da imagem de “empresas humanas”.

Até quando será interessante este engano pactuado mutuamente? A troca subliminar de: a empresa dá o salário e educação em troca de trabalho e alma do empregado???

A ética e o respeito com as pessoas não devem ser considerados como vantagens competitivas para a atração e retenção de talentos e usados como marketing social, e tampouco que as pessoas esperem que as empresas sejam extensão de seus lares, e assumam responsabilidades que não são inerentes as mesmas. 

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