VBHC não é uma questão técnica, é gerencial. Bem vindos ao mundo real, senhores gestores da saúde!

VBHC não é uma questão técnica, é gerencial. Bem vindos ao mundo real, senhores gestores da saúde!

Saiu um artigo no NEW ENGLAND JOURNAL OF MEDICINE (NEJM)-uma das publicações de maior prestígio na medicina mundial-que recomendo aos interessado na transformação do sistema de saúde suplementar no Brasil.

A mensagem é esta: 𝐜𝐡𝐞𝐠𝐨𝐮 𝐚 𝐡𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐜𝐫𝐢𝐚𝐫𝐦𝐨𝐬 𝐏𝐑𝐎𝐉𝐄𝐓𝐎𝐒 𝐂𝐎𝐌 𝐈𝐍Í𝐂𝐈𝐎 𝐌𝐄𝐈𝐎 𝐄 𝐅𝐈𝐌 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐭𝐫𝐚𝐧𝐬𝐟𝐨𝐫𝐦𝐚𝐫 𝐬𝐢𝐬𝐭𝐞𝐦𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐬𝐚ú𝐝𝐞 𝐦𝐮𝐧𝐝𝐨 𝐚 𝐟𝐨𝐫𝐚, 𝐚 𝐩𝐚𝐫𝐭𝐢𝐫 𝐝𝐚 𝐞𝐱𝐩𝐞𝐫𝐢ê𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐚𝐜𝐮𝐦𝐮𝐥𝐚𝐝𝐚 𝐞𝐦 𝐩𝐫𝐨𝐣𝐞𝐭𝐨𝐬 𝐩𝐢𝐥𝐨𝐭𝐨 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐜𝐮𝐢𝐝𝐚𝐝𝐨 𝐜𝐨𝐦 𝐛𝐚𝐬𝐞 𝐞𝐦 𝐯𝐚𝐥𝐨𝐫 em vários lugares. O artigo está aqui .

A proposta literal é a seguinte: "𝐦𝐨𝐧𝐭𝐚𝐫 𝐮𝐦𝐚 𝐚𝐠𝐞𝐧𝐝𝐚 𝐌𝐎𝐎𝐍𝐒𝐇𝐎𝐓 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐪𝐮𝐞 os 𝐠𝐨𝐯𝐞𝐫𝐧𝐨𝐬, 𝐞𝐦 𝐜𝐨𝐨𝐩𝐞𝐫𝐚çã𝐨 𝐜𝐨𝐦 𝐩𝐚𝐫𝐭𝐞𝐬 𝐢𝐧𝐭𝐞𝐫𝐞𝐬𝐬𝐚𝐝𝐚𝐬 𝐝𝐨 𝐬𝐞𝐭𝐨𝐫, 𝐜𝐫𝐢𝐞𝐦 𝐨𝐬 𝐬𝐢𝐬𝐭𝐞𝐦𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐬𝐚ú𝐝𝐞 do futuro 𝐛𝐚𝐬𝐞𝐚𝐝𝐨𝐬 𝐞𝐦 𝐯𝐚𝐥𝐨𝐫". 

"Moonshot" é um termo que identifica projetos ambiciosos- com início, meio e fim- como o que os americanos implantaram no início dos anos 1960, para colocar um homem na lua em 10 anos. Em 1969, o primeiro americano pisou lá.

A ANS e Ministério da Saúde deveriam estar liderando iniciativas para projetos desse tipo no Brasil.

**

O médico Atul Gawande definiu a questão como um físico o faria:

"Há dois tipos de problemas sobre sistemas de saúde: os que são passíveis de solução técnica e os que não são. Por exemplo, a decisão de implantar um sistema de cuidado universal, pertence à primeira categoria: você escolhe um dos formatos possíveis, aprova um projeto de lei, e pronto".

Já o problema de tornar funcional o caótico sistema suplementar existente no Brasil, é de outro tipo. Não há solução técnica para ele. Problemas desse tipo não são resolvíveis tecnicamente. Eles têm que ser gerenciados.

Os fracassos nas tentativas de melhorar sistemas de saúde, originam-se na forma errada de definirmos o problema que (dizem) estamos tentando resolver. MUDANÇA DE PARADIGMA significa mudança das "lentes" através das quais um problema é interpretado. Só então as soluções podem emergir.

O exemplo mais radical de mudança de paradigma aconteceu em Física há 100 anos, quando a solução de certo tipo de problema exigiu a mudança de "lentes" Newtonianas para quânticas. As lentes conceituais por meio das quais se interpretava o mundo físico, tiveram de ser substituídas. Não apenas adaptadas, mas substituídas. Sem essa mudança não teria havido avanço.

**

O sistema de saúde é um sistema complexo- que é como chamamos sistemas compostos por agentes conectados, que reagem aos comportamentos uns dos outros, buscando satisfazer seus próprios interesses.

Economias. O cérebro humano. Um formigueiro. O corpo humano. Uma cidade, são exemplos de sistemas assim.

Em saúde, os agentes que estão conectados são:

usuários, prestadores, pagadores, contratantes, indústria, governo/reguladores, conselhos médicos.

**

Sistema complexos têm as seguintes duas características (entre outras):

1-Cada agente captura informação do ambiente segundo sua "lente" própria, e a interpreta segundo critérios individuais. Por isso, vemos grandes empresas abrindo CANCER CENTERS (Einstein, DASA, D'OR), operadoras e prestadores construindo hospitais (Einstein+Bradesco), grandes grupos buscando atrair capital (DASA); a AMIL descontruindo-se aos pouquinhos (provavelmente preparando-se para cair fora); uma multidão de healthtechs apostando que haverá espaço para elas num futuro próximo; a ANS perdidinha, sem conseguir emplacar uma única medida estruturante no setor, porque nada entende de regulação de um sistema complexo como da saúde. etc

𝐎 𝐪𝐮𝐞 se interpreta como "problema a resolver", é resultado da 𝐟𝐢𝐥𝐭𝐫𝐚gem do que se vê 𝐩𝐞𝐥𝐚𝐬 "𝐥𝐞𝐧𝐭𝐞𝐬" 𝐪𝐮𝐞 𝐜𝐚𝐝𝐚 agente 𝐮𝐬𝐚 𝐩𝐚𝐫𝐚 enxergar 𝐨 𝐦𝐮𝐧𝐝𝐨.

2- Qualquer sistema complexo, se deixado por conta própria, se desorganiza, e acaba morrendo, vitimado por um princípio físico que chamamos de "ENTROPIA".

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Entropia é um princípio cósmico. O natural- o que acontece sem intervenção- é a “não ordem”, a desestruturação.

Tudo que tem certa permanência no mundo real- uma rocha, um óvulo, um grão de sal, uma sociedade- é estruturado por fluxos de energia que minimizam sua deterioração. Qualquer tipo de mecanismo- orgânico ou não- "enferruja" e perde a funcionalidade por ação da entropia.

Às vezes é possível contornar a entropia temporariamente, e então surgem coisas como o DNA, o óvulo, o feto, a vida. Mas os triunfos dessas estruturas são sempre temporários; a entropia sempre vence no final. Nada pode ter sequer a mais fugaz permanência sem fluxos de energia.

Em sistemas sociais também, o natural é a perda de funcionalidade do que um dia funcionou.

É o que está acontecendo em saúde- um sistema agonizante implorando por novos fluxos de energia.

**

Em organizações humanas (como sistemas de saúde) o papel do gestor é agir para contrabalançar o efeito da entropia, evitando o colapso.

Pouquíssimos gestores e líderes têm noção clara dos tipos de intervenção que devem ser feitas num sistema complexo para evitar que a entropia vença.

**

Meu trabalho é aplicar conceitos e fundamentos da ciência dos sistemas complexos à sistemas como o da saúde.

Meu curso MODELAGEM PRÁTICA DO PARADIGMA DO VALOR PARA EMPRESAS BRASILEIRAS DE SAÚDE- trata da aplicação prática dos fundamentos da ciência da complexidade, com base em dois livros e num caso brasileiro. Seu objetivo é dar ferramental para quem quer implantar projetos moonshot em suas organizações.

*

A segunda turma começa em 30 𝐝𝐞 𝐌𝐚𝐫ç𝐨 de 2023.

Informações aqui

Deseja outras opções de pagamento? Fale comigo por INBOX.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

***

Evandro Mulinari

Medico Peditra - Emergencia na Hospital Moinhos de Vento

1 a

𝐎 𝐪𝐮𝐞 se interpreta como "problema a resolver", é resultado da 𝐟𝐢𝐥𝐭𝐫𝐚gem do que se vê 𝐩𝐞𝐥𝐚𝐬 "𝐥𝐞𝐧𝐭𝐞𝐬" 𝐪𝐮𝐞 𝐜𝐚𝐝𝐚 agente 𝐮𝐬𝐚 𝐩𝐚𝐫𝐚 enxergar 𝐨 𝐦𝐮𝐧𝐝𝐨. Na medicina chamamos relação médico paciente! Entropia é um conceito da termodinâmica que mede o grau de desordem das partículas de um sistema físico. Em outras palavras, na Física, é uma grandeza que mede o grau de liberdade molecular de um sistema, associado ao número de configurações possíveis com as partículas que ele possui. Ou seja a vontade do usuário! A vontade do paciente e o poder de convencimento médico. A final o conhecimento médico não é mais domínio exclusivo do médico! Agora dispomos da inovação chamada algoritmo. Alisas tratar usuário/ pacientes como itens de produção em série , bens ou produtos ou sistemas de saúde como nichos a serem quebrados e compartilhados , onde acabamos com atravessadores para termos apenas o um “monopolizador “ tipo Amazon como fizeram com os táxis e horteis também terá um custo ! Quais usuárias do sistema de saúde irá pagar ? Os saudáveis ou os doentes e necessitados

Gustavo Barcelos

Médico Intensivista e Diretor de Provimentos em Saúde na Unimed Vale do Aço

1 a

As reflexões propostas por esse artigo são interessantes e se aplicam a praticamente todos os sistemas de saúde implantados no mundo até hoje. Nosso desafio, dentro de tamanha disfuncionalidade, mais do que prover soluções de sobrevivência e respostas aos problemas hoje postos, é influenciar uma verdadeira mudança de paradigmas aproximando o sistema atual de uma lógica de entrega de Valor, com o Paciente no centro do cuidado e do negócio.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Clemente Nobrega

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos