Vendedores de Enciclopédias

Vendedores de Enciclopédias

Faz uns poucos anos eu estava numa aula de publicidade, foram algumas disciplinas que eu fiz sem o objetivo de terminar o curso, por diversão e para aprender algumas coisas pontualmente, nisso adentram a sala umas pessoas falando das maravilhas de se ter uma gramática em casa, de poder consultar e estudar a qualquer hora, de poder escrever textos, como esse, sem os erros de concordância, pontuação e tempos verbais que eu sempre cometo.

Logo ofereceram, para venda, exemplares de tão magnifico instrumento, solução para todos os problemas. Até me empolguei em comprar, vi colegas puxando o dinheiro do bolso como se aquilo fosse lhes dar o dom do bom texto, pensei, analisei os colegas e vi que seria mais um livro para ficar na estante sem ser nunca aberto, mas a consciência de estar investindo no seu saber seria apaziguada. Fiquei firme e não comprei, disfarçando para não parecer ser um inconsequente que não se preocupa com o crescimento próprio, alguém que não investe em sua melhoria contínua.

Lembrei da época que vendiam enciclopédia nas portas das casa e transferiam culpa para os pais por não investirem na cultura e futuro dos filhos, como se a falta dela, enciclopédia, fosse o fracasso da vida escolar dos rebentos.

Sabendo hoje que o desenvolvimento está em buscar o que se quer e colocar a mão na massa, seja visitando uma biblioteca, pedindo emprestado para alguém ou, nos dias de hoje, buscando as facilidades da tecnologia, não são objetos (nunca usados) que fazem as coisas acontecerem e sim o empenho.

Hoje não se vendem mais enciclopédias, vendem muitas outras coisas, mas a técnica de imputar culpa e oferecer um produto que ameniza a mesma continua. E não são só mais produtos para filhos e agregados, desperta-se a culpa por não estarmos fazendo nada pela natureza, pelos animais indefesos, pelos oprimidos e explorados de países distantes e em bairros e vilas próximos e qual o produto que se vende para resolver os problemas do mundo?

  • Políticos.

Criam-se muitos problemas, vilões, atrocidades e injustiças, mas não oferecem soluções práticas, não chamam para a ação e sim oferecem o serviço de “terceirização” de resolução de problemas do mundo. E muitos, sem tempo ou paciência para resolver os próprios problemas se vem culpados por todos os males do planeta e para apaziguar sua culpa votam em salvadores da pátria, achando que fizeram a sua parte e o melhor, sem precisar colocar a mão na massa.

Temos que parar de nos iludir, acreditando que muitos problemas se resolvem simplesmente comprando objetos ou ideias, é preciso colocar a mão na massa, ou então conviver com a culpa, sem se iludir que terceirizando ela o problema será resolvido.

Sou movido a frases e citações e a melhor dos últimos tempos é:

“Para cada mil pessoas dedicadas a cortar as folhas do mal, há apenas uma atacando as raízes.”

Sim, a maioria dos políticos, 99,9% dos eleitos, só “poda” o mal, jamais acabará com ele, pois acabar com ele é acabar com seu alimento. Políticos continuarão mostrando esse mal, criarão culpa em quem não quiser “enfrentá-lo” e, obvio, eles se oferecerão para “cuidar” dos males do mundo.

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