Vendemos o Neymar?

Vendemos o Neymar?

Não há outro assunto no nosso ecossistema essa semana: a notícia da aquisição da 99 pelo grupo chinês Didi pelo valuation de US$1 bi tomou conta dos posts no LinkedIn, dos jornais e das rodas de conversas de todos que estão inseridos ou acompanham o contexto de empreendedorismo/startups no Brasil. 

É motivo de orgulho e comemoração? Sem dúvida! Enfim temos o nosso primeiro unicórnio, esse bicho mitológico que virou obsessão de muitos empreendedores - e investidores - e com isso começamos a deixar pra trás o nosso complexo de vira-lata: afinal, como engolir que não tínhamos sequer 1 unicórnio brasileiro "oficial" sendo que países "comparáveis" como Argentina (Decolar.com), Colombia (Life Miles), Indonesia (Go Jek, Traveloka), Republica Checa (Avast!), Coreia do Sul (Coupang), Africa do Sul (Cell C) e Nigéria (Africa Internet Group) já faziam parte do grupo de países com seus unicórnios, e nós ainda não?

Mas, para jogar lenha na fogueira, fica uma pergunta: e se a 99 ficasse por aqui mesmo? Se ao invés de cair nas mãos de um poderoso grupo chinês, tivesse sido adquirida por um fundo de investimentos brasileiro - desses grandes mesmo, com bilhões de reais sob gestão? Ou então fosse comprada por algum grande grupo empresarial nacional? Ou ainda: e se a 99 continuasse crescendo, ganhando corpo, e fizesse um IPO?

Não sejamos ingênuos: a briga nesse mercado é absurdamente feroz e há efetivamente 2 players globais no ringue, o Uber e a própria Didi (ambas com valuation estimado em + de US$50 bi). Nesse contexto seria dificílimo a 99 caminhar sozinha, ainda que já contasse com aportes da Monashees, Qualcomm Ventures, Riverwood Capital, Tiger Global e da Didi. E evidentemente (ainda) não há no Brasil um grupo ou fundo com as características agressivas e o bolso necessários para efetuar uma tacada dessas. Oxalá em breve teremos.  

Quando o Santos vendeu Neymar para o Barcelona houve festa: a maior venda de um craque brasileiro para o exterior. Palmas e fogos de artifício! Naquele momento não vibrei tanto: queria ele aqui, jogando perto do nosso público, valorizando nossos campeonatos, dando mais visibilidade para os jogadores brasileiros aos olhos dos gringos, aumentando a competitividade dos torneios locais, enfim… jogando no Brasil e aumentando o valor do produto “futebol brasileiro”. E seguindo essa lógica, se mais Neymars ficassem por aqui também (imaginem: Philippe Coutinho, Gabriel Jesus, Willian, Paulinho, Casemiro, Marcelo, Thiago Silva, Dani Alves e companhia), no médio prazo teríamos certamente um campeonato tão bom (ou melhor) que o campeonato inglês ou espanhol. O mesmo raciocínio se aplica ao nosso embrionário ecossistema?

Ainda é cedo para avaliar qual será de fato o impacto da aquisição da 99 pelo gigante chinês. Mas é evidente que a 99 vai continuar se beneficiando (e muito!) da expertise do grupo e do seu poder financeiro. E é realmente sensacional termos finalmente nosso primeiro unicórnio (e que muitos outros venham ao longo de 2018!). 

Mas…. e se o Neymar continuasse jogando por aqui? 


Daniel Chalfon

General Partner na Astella | Membro do conselho. Investindo em quem busca construir o futuro.

5 a

Ótima reflexão. Tenho o pressentimento que a resposta para sua pergunta ficara clara nos próximos meses...

Bela comparação! Parabéns pelo texto.

Cassio Sztokfisz

Partner at Schneider, Pugliese, Sztokfisz e Figueiredo Advogados

6 a

Bela reflexão Binho!

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