Verdade número 1 : Eu fui recepcionista por 5 anos.

Verdade número 1 : Eu fui recepcionista por 5 anos.

Saí diretamente do programa de aprendizagem para esse emprego, como contratada como terceirizada na mesma empresa onde fui aprendiz.

Atuava na recepção do setor de Medicina do Trabalho, essa experiência foi uma das minhas maiores escolas. Foi lá que aprendi muito sobre empatia, o poder de uma boa comunicação, a importância de reconhecer o valor do que a gente faz para entregar o nosso melhor.

Dentre as muitas lições que carrego comigo, tem duas que considero como principais: a que me levou até lá e a que me tirou de lá para buscar novos desafios.

Essas duas que vou compartilhar agora!

Me tornei aprendiz em 2004. O acesso ao programa, além de produzir mudanças significativas no dia a dia da minha família - até então, todo o nosso sustento dependia do salário que minha mãe recebia como empregada doméstica - produziu também mudanças importantes em minha percepção de mundo. Era a primeira vez que convivia com pessoas que tinham uma visão de futuro que ia além da mera sobrevivência.

Desde o primeiro dia, eu tinha uma única certeza: precisava encontrar um jeito de ficar depois do um ano e meio de estágio. Me comprometi com o programa, participei de todas as atividades extras que apareceram, atuei como voluntária em projetos de educação.

E fiz uma outra ação, que talvez tenha aberto mais portas do que minha imaturidade me permitia imaginar: uma das atividades dos aprendizes do meu setor era fazer o café do time. A cafeteira ficava em um setor vizinho. Quando era meu dia de fazer, não somente fazia o café do meu setor, como um gesto de gentileza, também fazia o café da área onde a cafeteira estava localizada e da área vizinha a ela.

Vivi um ano e meio nesse ir e vir de garrafas de café. O que não esperava é que no mês que meu contrato encerrou, a recepcionista da área vizinha à da cafeteira pediria demissão.

Na hora de buscar alguém para o time, adivinhem de quem todo mundo lembrou?

Da aprendiz que além de ser comprometida com as atividades, também era comunicativa e preparava um café no jeito!

Essa pequena história me lembra do poder da gentileza, dos relacionamentos e também o quanto é importante aprendermos a extrair oportunidades do nosso contexto.

A segunda história tem uma importância tão grande em minha jornada que a personagem dela recebeu menção honrosa em minha monografia. Fazia mais de um ano que eu estava nesse trabalho, vivendo as transformações que ele estava me proporcionando. Eu era uma menina periférica que tinha experienciado todo tipo de vulnerabilidade e achava um luxo poder abrir a geladeira lá de casa e ter coisas que antes não eram uma possibilidade para nós. Mas esse era o máximo de ascensão que tinha experimentado até então. Éramos eu e minha mãe, cuidando de uma casa com mais 03 pessoas.

Um belo dia, voltando do almoço, essa colega de trabalho que virou amiga me perguntou como andava a faculdade. Eu ri e disse que não fazia faculdade. Ela me perguntou porque não, eu respondi que essa não era uma opção para mim.

Naquele momento ela me disse algo que mudaria todo o meu caminho: "enquanto você acreditar que algo não é para você, nunca será. Mas se mudar sua visão, encontrará um jeito, mesmo com os desafios.

Ela era uma mulher na casa dos 50 anos que naquele momento, depois de muita necessidade de adiar o plano, estava realizando o desejo de fazer uma graduação. Aquela frase ecoou em minha cabeça.

Hoje eu sei que ela é simplista e elimina todos os fatores socioeconômicos que impedem o acesso de muita gente à faculdade.

Mas naquele momento ela me fez refletir o quanto eu nunca tinha pensado na faculdade como algo para mim. Talvez por viver em uma comunidade onde o ensino superior não era comum na comunidade, por não ter em minha família pessoas com graduação, pela necessidade de trabalhar que nunca me fez ver o ensino público diurno como opção. O fato é que mesmo com opções de incentivo estudantil, a possibilidade de ir além do ensino médio não passava pela minha cabeça naquele momento. No entanto, aquela semente plantada no finalzinho do ano, virou uma busca por fazer acontecer. No ano seguinte, estava eu na secretaria da faculdade, com meu 13º salário que garantiria as primeiras 3 mensalidades e a certeza de que encontraria soluções para os desafios que viriam pela frente.

E consegui.

Foram 4 anos dormindo 4 horas por noite, trabalhando em meu emprego formal e fazendo pequenos serviços por fora - preparando e vendendo sanduíches, atuando como recepcionista em eventos.

Foram 8 semestres, e em cada um deles eu tinha certeza que não conseguiria bancar o próximo. Mas deu certo.

Em 2011 me tornei a primeira pessoa de todas as gerações da minha família a ter o ensino superior. E isso mudou a minha vida.

Aquela conversa mudou a minha história.

E me ensinou que o modo que nos vemos também molda a nossa realidade. Que existe poder em estar perto de quem nos incentiva e provoca nossas crenças.

Deixei esse emprego para viver novos desafios, no final de 2010 e até hoje lembro da experiência com amor e gratidão, pois sei que ela mudou os rumos da minha história.

E você o que aprendeu em seu primeiro emprego?

Neidy Christo

Consultora em Desenvolvimento Humano/ Mentora de Líderes/ Especialista em Carreira / Coach / Palestrante / Analista Comportamental / Docente / Administradora / Especialista RH

5 m

Kamilla Matos como é bom nos lembrarmos e sermos gratas por tudo que nos trouxe até aqui! Bom demais relembrar nossas batalhas e conquistas e melhor ainda, termos essa gratidão no coração! Ainda vamos comemorar muitas e muitas coisas boas, juntas!!!!

Mariana Mattos

Executiva de vendas BYD, Banco Safra( Gerente de financiamento de veículos ) Mestranda Fucape, Experiência em Gestão estratégica Vendas e Marketing, Docente EAD educação Profissional e Educação Superior.

6 m

Orgulho de você.

Romulo Gomes, Phd

Doutor em Administração de Empresas UFES Gestor de Desenvolvimento Educacional e Social no SENAC ES. Educação profissional | Projetos Sociais | Organizações de Impacto Social

6 m

Kamilla Matos me emocionei real! Me reconheço em várias partes de sua história de aprendizagem e desenvolvimento no mundo do trabalho! Histórias reais e potentes como a sua, a minha e de tantos outros brasileiros que não vieram das classes mais favorecidas da sociedade, apontam tecnologias poderosas de carreira que não costumam ser ensinadas nas escolas profissionalizantes! Alem de tanta potência, você escreve maravilhosamente bem! Agradeço pela generosidade e sensibilidade de saber que é importante dar caminho real e possível para quem esta buscando se desenvolver no mundo do trabalho! Sigo na sua corrente, em breve vou compartilhar as 09 verdades e 01 mentira sobre minha carreira! Agradecido pela inspiração!

Débora Sabino

Coordenadora de Melhoria Contínua @ Paytime | Processos | Qualidade e Treinamento | ISO 9001 | Gestão de Pessoas

6 m

que história!!! amo ler suas experiências Kaka ✨ você transmite e compartilha tudo que vive com muita sabedoria e amor.

Luciana Hosken

Coordenadora de Recursos Humanos

6 m

E eu te conheci la. Simpática, cheia de vida, cheia de vontade. Se destacava no cuidado que atendia cada pessoa e nos vínculos que formava.

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