A verdadeira meritocracia no mundo corporativo

Não, eu não estou aqui para dizer que você vai conquistar tudo o que quiser nesta vida, pois não vai. Quem vende essa positividade descolada da realidade é a autoajuda exposta nas livrarias de norte a sul deste país.

Vamos tratar aqui deste termo, levando em conta que nem todos partem do mesmo ponto. Nem todos têm as mesmas oportunidades, a mesma história de vida ou os mesmos traumas. E isso conta muito no início, na jornada e no destino.

Cada um sabe onde o seu sapato aperta, mas não faz ideia da intensidade da dor alheia.

Por isso, convém não julgar os outros a partir das suas experiências.

Mas vamos tratar do que então?

Do ponto em que você se encontra. Daí mesmo é possível dar um salto exponencial!

A palavra meritocracia é um neologismo. Do Latim MERITUM, que é um “ato digno de recompensa, elogio”, e de MERERE, “merecer”, mais o Grego KRÁTOS, “regra, força, poder”.

Meritocracia é o poder do merecimento.

Quando dizemos que alguém tem um mérito por algo, ela receberá o reconhecimento, o valor pelo o que foi feito. Já quando dizemos que uma pessoa é benemérita, queremos dizer que é uma pessoa bondosa, que concede tudo o que pode dar.

A maioria das pessoas entende por meritocracia quando alguém passa a ser reconhecido por seu esforço. Portanto, para estas pessoas meritocracia é quando o poder daquele mérito, daquele valor da atitude, vai para a pessoa.

Nas organizações empresariais, meritocracia é um processo de reconhecimento normalmente ligado ao valor da entrega.

Podemos também acrescentar um conceito um pouco diferente de meritocracia, que pode mexer com nossas cabeças. Se mérito vem de meritum, que significa benevolência, doação, dar benefícios a alguém, podemos inverter esse conceito para construirmos na nossa mente um caminho melhor, e até mesmo mais otimista e positivo.

Meritocracia é válida e verdadeira quando você atinge a escala máxima entre bom e o optimus (o melhor, do grego). Bom é aquele que atingiu a plenitude, já o ótimo é quem potencializa indo além da plenitude. O estágio ótimo é atingindo quando se incorpora algo que não está na expectativa de alguém. E aí está o impulso da meritocracia.

Muita gente pensa erroneamente que atingir o bom resultado já habilita o profissional a requerer a meritocracia, o poder do mérito. Aliás, requerer, exigir o reconhecimento não é algo recomendável a um profissional, dentro dessa nova visão que quero propor.

Quando a meritocracia é reconhecida, é dado “o poder” em função das entregas acima das expectativas. Quando eu digo para mudar o conceito de meritocracia, quero que você mude e pare de pensar na recompensa.

Em vez de pensar na recompensa, pense no plantio.

Processos meritocráticos efetivos, positivos e otimistas na vida de alguém acontecem quando a doação pessoal é feita para que outros possam crescer.

Esse é o processo verdadeiro da meritocracia.

Meritocracia também prescinde que você convença! E a palavra convencer também tem um significado importantíssimo, pois é derivada da junção do com, que é junto, e vincere, vencer. Portanto, quando convence alguém, você está dizendo: “vamos ganhar juntos”. É isso que é convencer e não simplesmente mudar a opinião das pessoas.

Se o profissional colabora, trabalha muito e convence, propõe a colegas, chefia, clientes, fornecedores e colaboradores a ganhar juntos, automaticamente está trabalhando muito mais focado em dar benefícios aos outros do que propriamente buscando o reconhecimento alheio.

Atribuir a si um reconhecimento sobre algo gera distância do verdadeiro mérito.

Certa vez, estive em uma das melhores escolas de negócios do mundo, a espanhola ESIC INTERNACIONAL, em dois papéis: como aluno e também como professor do Módulo Internacional, em Madrid.

Como aluno, fiquei encantado com as aulas que tive na Espanha. Aprendi muito com os melhores. Como professor, vi que deveria ser aquela a melhor aula da minha vida, estudei muito, me preparei e pensei qual seria a forma mais eficaz de entregar cada conceito que trabalharia em sala.

Havia expectativa de todos, desde aos alunos, motivo principal de tudo aquilo; da Instituição, que tem um nome reconhecido mundo afora; e dos organizadores, que haviam preparado um grande evento com gente de toda a parte. Enfim, foi a busca de uma entrega excelente. Não por mim, mas por respeito a todos os envolvidos.

Ouvi, ao final da minha aula, que eu estava alinhado com a vanguarda de tudo que acontece no mundo. Fui reconhecido com mérito.

Então, relembrando:

-Terá mérito na vida aquela pessoa que se preocupar muito mais com o plantio do que a colheita, ou seja, pensar em dar muito mais para o outro do que reter para si. Vai se preocupar muito mais em convencer, em ganhar juntos.

-Quando falamos sobre meritocracia, deveremos ter o poder, e usá-lo para auxiliar os outros, colaborando para uma melhora na vida alheia. Isso o torna uma pessoa benemérita.

- Ultrapasse o bom e busque ser o optimus, ótimo em português. O bom, lembre-se, atingiu a plenitude, e quando se chega ao optimus, está indo além do pleno, trazendo coisas novas, surpreendendo, sendo fora do comum! Isso é relevante, pois buscar vitórias por meritocracia é mirar no ótimo. E nunca sozinho. Sempre dando oportunidades às pessoas que, juntamente com você, conseguirão atingir resultados surpreendentes.

- Convença, convide pessoas a vencer com você. Este é o poder de auxiliar os outros. A meritocracia está muito presente quando você usa o seu poder para ajudar os outros, e não o poder conquistado pelo reconhecimento. Entende a diferença dessa construção, que se faz em equipe, sem almejar benefícios apenas para si?

           Todos os gestores que admiro muito são pessoas que quanto mais conquistavam, mais tinham a preocupação de compartilhar, de oferecer e de auxiliar os outros. São pessoas que têm o meritum, a bondade, a colaboração, o sentido de “trabalharmos juntos”, e de serem dignos de recompensa.