Viés do Viés de Não Tenho Viés?
E se o digital for uma mídia superestimada? E se os carros maiores e mais pesados forem mais perigosos para a sociedade porque matam mais pessoas? E por que os especialistas ficam tão irritados comigo?
Dias atrás publiquei uma coluna sobre os dados Cenp-Meios que mostram um crescimento de 16% da publicidade no Brasil no primeiro semestre, com desaceleração da receita da TV aberta e crescimento significativo do digital. No segundo trimestre, a receita do digital inclusive já ultrapassou a da TV aberta. Mas faz sentido?
A TV aberta é massiva no Brasil. É consumida ao vivo, mas também em milhares de memes e cortes que aparecem nas redes. Inclusive, em São Paulo ela é apontada como uma das razões para Nunes ter crescido na última pesquisa Datafolha e Pablo Marçal ter caído nas pesquisas (Marçal não tem espaço de TV no horário eleitoral).
No Reino Unido, um novo estudo da EssenceMediacom indica que os gastos com publicidade paga em redes sociais podem estar três vezes acima do nível ideal para o crescimento das marcas, enquanto a TV pode estar recebendo menos crédito — e investimento — do que merece.
Também publiquei um vídeo comentando a reportagem de capa da Economist com o título What to do about America’s killer cars, que realizou um levantamento que aponta o aumento do peso dos carros como uma das razões para o crescimento do número de mortes nas ruas e estradas americanas, mesmo com os carros sendo muito mais modernos e seguros.
Ironicamente, foram alguns especialistas destes respectivos setores (marketing digital e automotivo) que ficaram mais irritados com as minhas publicações. Teve até quem não leu as reportagens, mas disse que as publicações eram “tendenciosas”, portanto eram incorretas. Também não faltaram comentários do tipo: eu trabalhei X anos em lugar tal ou eu sou formado em XYZ há muito tempo.
Ao ler estes comentários lembrei deste vídeo do Adam Grant no qual ele explica o que chama de “Viés do Viés de Não Tenho Viés”. A ideia consiste no seguinte, “as pessoas acham que elas não são enviesadas, e que quem as questiona é que é enviesado”, explica Grant. O irônico é que quanto mais inteligente são as pessoas, parece que pior é este problema.
O fato é que as pessoas ficam desconfortáveis quando se veem diante de uma perspectiva que questiona suas crenças, mas jornalismo também é isso. E o conteúdo que produzo tenta justamente trazer um olhar diferente.
Ainda nesta newsletter temos o YouTube avançando na criação de ferramentas para detectar o uso de Inteligência Artificial em músicas e rostos (o famoso eu posso fazer, meus concorrentes não). A falha no Chase Bank que gerou furor no TikTok e um monte de gente devendo dinheiro e respondendo por fraude. E por que o Kremlin ama as redes sociais.
Por fim, Tomer Cohen, do LinkedIn, compartilhou suas principais dicas para a mentalidade capaz de levar ao sucesso profissional.
Notícias relevantes:
O YouTube está desenvolvendo ferramentas de detecção de Inteligência Artificial para ajudar a identificar o uso de IA em músicas e rostos. O principal objetivo é que essas ferramentas ajudem a proteger a propriedade intelectual de artistas, além de garantir o uso ético da tecnologia.
A plataforma também planeja introduzir controles que permitam aos criadores escolher se suas obras podem ser usadas para treinar modelos de IA, oferecendo mais autonomia sobre o uso de suas criações.
A medida seria uma resposta às preocupações crescentes entre criadores que veem suas obras sendo usadas para alimentar algoritmos sem compensação adequada ou consentimento.
Com as novas ferramentas, a meta é equilibrar a inovação com a proteção dos direitos autorais, mantendo o YouTube como uma plataforma segura e justa para os criadores de conteúdo.
Opinião: Não deixa de ser irônico que o Google, que usa conteúdo de jornalistas e criadores de conteúdo para treinar IA, mas sem remunerar ninguém, queira defender a propriedade intelectual. A notícia é positiva, mas expõe mais um dos crescentes conflitos de interesse da gigante que também oferece soluções de IA.
Uma falha no sistema do Chase Bank causou um grande alvoroço entre os usuários do TikTok, onde foram compartilhados vídeos ensinando como explorar a vulnerabilidade para aumentar seus saldos, resultando em inúmeras fraudes.
O conteúdo viralizou rapidamente, com influenciadores financeiros oferecendo "dicas" perigosas de como se aproveitar do momento e que poderiam levar a problemas legais para os usuários que seguissem tais "conselhos".
A resposta do banco foi rápida, resolvendo a falha, mas o incidente evidenciou os desafios que instituições financeiras enfrentam no combate a fraudes impulsionadas pela disseminação rápida de informações irresponsáveis nas redes sociais.
Além disso, mostrou a necessidade de maior regulamentação sobre conteúdos financeiros na internet, especialmente em plataformas como o TikTok, onde usuários mais jovens podem ser facilmente influenciados por práticas inadequadas.
Opinião: Os “espertinhos” que exploraram a vulnerabilidade, um número considerável, a julgar pelas filas nos caixas eletrônicos do Chase, terão de devolver todo o dinheiro e ainda podem responder na Justiça por fraude. Ou seja, ouvir conselhos financeiros nas redes sociais pode ser bastante arriscado.
O cenário atual de eleições em várias partes do mundo está cada vez mais imerso em debates sobre a influência das redes sociais e a manipulação da opinião pública. Influenciar eleições mundo afora por meio dos meios digitais seria a estratégia do governo russo, que aproveita os influenciadores e as redes sociais para espalhar desinformação e teorias conspiratórias, moldando a percepção de eventos globais e protegendo seus interesses políticos.
Ao explorar essas estratégias digitais, o Kremlin consegue alcançar um público vasto e influente sem depender da mídia tradicional, se utilizando de técnicas de manipulação da opinião pública.
Além disso, a Rússia explora a fragmentação das redes sociais para aumentar a polarização nos debates, principalmente em países ocidentais, fomentando divisões políticas e sociais. O principal objetivo desta tática é desestabilizar democracias, aproveitando a liberdade de expressão nas plataformas para impulsionar narrativas pró-Rússia.
Vale citar que o Kremlin tem se mostrado habilidoso em utilizar redes sociais em momentos críticos, como na invasão da Ucrânia, para moldar o discurso público e distorcer os fatos. Com isso, eles continuam a se adaptar e a inovar suas táticas de manipulação digital para se manterem relevantes na geopolítica global.
Opinião: Governos e grandes grupos econômicos sempre vão tentar explorar plataformas de mídia com alcance e influência para influenciar as pessoas. Mas a mídia tradicional ao longo de décadas de evolução, e com o desenvolvimento da regulação do setor, limitou consideravelmente essas influências externas. Nas redes sociais esse "amadurecimento" ainda não aconteceu em grande parte por resistência das big techs que lucram com o caos.
O primeiro canal de TV dedicado a apostas, o BetBox, surge com a promessa de consolidar o mercado de apostas esportivas no Brasil. Agora, além de aparecer nos intervalos comerciais dos canais de TV, as casas de apostas esportivas também ocuparão lugar na produção de conteúdo.
Com uma programação variada que abrange transmissões ao vivo, análises de jogos e conteúdos voltados para apostadores, o canal surge em resposta ao crescente mercado de apostas no país, aproveitando a regulamentação e o aumento do interesse do público.
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A iniciativa busca engajar apostadores e criar uma plataforma que combine entretenimento e apostas, oferecendo uma experiência mais acessível e organizada. Além disso, o BetBox planeja expandir sua interação com o público por meio de aplicativos e plataformas digitais, conectando-se especialmente ao público mais novo.
A expectativa é que essa abordagem inovadora fortaleça ainda mais o setor de apostas no Brasil, criando uma oferta de mídia diversificada e conectada com as tendências globais.
Opinião: Bancos e até empresas de alimentos já notaram em seus resultados o impacto das bets. As pessoas estão se endividando e deixando de comprar comida para apostar. Esquecem que no final o cassino sempre ganha. A indústria do jogo, assim como a do cigarro, bebidas e redes sociais podem ser altamente nocivas, uma regulação apropriada e que evite o estímulo de consumo é essencial.
A Austrália está avançando com uma nova legislação que, se aprovada, estabelecerá nada menos do que a proibição do uso das redes sociais por crianças menores de 16 anos. O objetivo é proteger os jovens dos riscos associados ao uso dessas plataformas, como exposição a conteúdos problemáticos e impactos negativos na saúde mental.
A medida surge em resposta à crescente preocupação sobre o impacto das redes sociais no bem-estar das crianças e as dificuldades enfrentadas por pais e responsáveis em monitorar seu uso.
Se a lei for sancionada, as redes sociais deverão implementar sistemas de verificação de idade para assegurar que apenas usuários com 16 anos ou mais possam criar contas. As empresas de tecnologia serão obrigadas a adotar novas tecnologias e processos para garantir a conformidade e poderão enfrentar penalidades caso não cumpram as normas estabelecidas.
Tal proposta é vista como uma das mais rigorosas no mundo, em termos de restrições de idade para redes sociais, e pode servir como um modelo para outros países que enfrentam desafios semelhantes. A aprovação e implementação efetiva da lei poderão influenciar futuras regulamentações sobre a proteção de crianças em ambientes digitais.
Opinião: Diante da resistência e poder das big techs, é natural que governos mirem em regulações altamente restritivas para nas conversas posteriores ao menos chegarem a um meio termo.
Na última sexta-feira (6), o órgão regulador de concorrência do Reino Unido, a Autoridade de Concorrência e Mercados (CMA, na sigla inglês), emitiu uma declaração alegando que o Google prejudicou a concorrência ao usar seu domínio em publicidade online para "favorecer seus próprios serviços de tecnologia de anúncios".
Tais práticas prejudicariam a competição e colocariam os rivais da gigante das buscas em desvantagem, além de restringir a escolha dos anunciantes e afetar os resultados de mercado. Se comprovadas as infrações, o Google poderá enfrentar multas significativas, podendo chegar a 10% de seu faturamento anual.
O Google, por sua vez, nega todas as acusações, afirmando que suas ferramentas ajudam empresas de todos os tamanhos a alcançar clientes de maneira eficaz e a financiar conteúdo online.
O comunicado intensifica a pressão regulatória sobre o Google, que já enfrenta investigações parecidas na Europa e nos Estados Unidos.
Opinião: Mais uma semana, mais um novo processo de monopólio contra o Google. Após anos dando “pedaladas monopolistas”, a conta está chegando. O caminho mais fácil é dividir a empresa, separando suas principais áreas de negócio, evitando os inerentes conflitos de interesse da gigante. Isso permitiria fazer as pazes com as autoridades.
Em um episódio recente do Lenny's Podcast, o diretor de produto do LinkedIn, Tomer Cohen, compartilhou suas principais dicas para a mentalidade capaz de levar ao sucesso profissional. Na ocasião, ele destacou a importância de adotar uma mentalidade de crescimento e estar sempre aberto a aprender e se adaptar sempre.
Cohen acredita que a curiosidade contínua e resiliência diante dos desafios é essencial para avançar na carreira e atingir objetivos de longo prazo e enfatiza o valor de buscar feedbacks constantemente e usá-los para melhorar suas habilidades.
Ele recomenda que profissionais se envolvam em conversas honestas sobre suas forças e áreas de desenvolvimento, aproveitando essas informações para impulsionar seu crescimento pessoal e profissional. E sugere ainda investir no desenvolvimento de habilidades interpessoais e na construção de relacionamentos.
Cohen também contou que, quando entrou no LinkedIn, enxergou uma boa oportunidade de encabeçar mudanças e causar impacto positivo, foi assim que ele acabou liderando o esforço para reformular o feed da plataforma e ajudou a iniciar a implementação da Inteligência Artificial na empresa, antes que essa tecnologia se tornasse tão presente nas mais diversas áreas do mercado.
Opinião: Após anos de crescimento anêmico, o LinkedIn parece ter encontrado nos últimos tempos um caminho eficiente equilibrando moderação de conteúdo e crescimento do engajamento em seu feed.
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Entrepreneur, ex-Mutato, WPP
3 mEsperando ansiosamente seu podcast semanal, e as conversas que você vai estimular ao redor dessa tua produção toda Guilherme. Aliás esse artigo do viés do viés do não viés já seria um lindo episódio de lançamento hein? 😅parabéns pela escolha editorial e pela curadoria. keep it coming! ✨
Professora no Univag - Centro Universitário
3 mGostei muito dos conteúdos.