A VIDA É DRAMA!
Deisi de Oliveira Rhoden
Tenho o hábito de ler a manchete de vários jornais e as matérias que julgo interessantes, navego pelas revistas corporativas e pelo LinkedIn. A cada dia vejo mais matérias que afirmam: desenvolva habilidades fantásticas para continuar empregável! Mas questiono: Eu/Você/Nós queremos ser absolutamente empregáveis?
A palavra empregável me parece um tanto ultrapassada para o formato que estamos criando nas relações trabalhistas. O trabalho flexível, por obra, do tipo intermitente, telejornada, home office, remoto, entre outros, já são uma realidade de conhecimento da maioria.
Sim, entendo perfeitamente que a terminologia empregável quer significar o quão interessante é você para o mercado de trabalho, mas por ora, o que vemos são intermináveis discussões do que você tem que fazer para desenvolver competências, habilidades e atitudes que lhe tornem atraente para as organizações, muitas vezes padronizando comportamentos, ensinando técnicas que mais uma vez o tornam a cópia de algo/alguém bem sucedido.
Olhamos as redes sociais e pensamos nossa, você está tão empregável hoje. É aquela foto que vale por mais de mil ações efetivas. Criamos influenciadores de imagem, de conteúdo restrito e de aplicação nula da ciência. Nossa base de acerto não é mais o potencial de alcance de determinado método e sua aplicação com resultados efetivos em produtividade e, sim, no alcance métrico de curtidas e comentários.
Nas matérias das revistas, Caras dos Executivos, matérias vazias do sucesso de alguém, seu carro, sua casa, suas viagens, seus mi-bi-trilhões. O esforço não dá Ibope. O sacrifício do caminho cansa, desmotiva, queremos chegar logo na parte em que tudo está bem, e desistimos sem encarar a jornada. Perceba, a trajetória e seus desafios são histórias preciosas para nossa motivação.
- E aquele dia que ele acreditou que nada daria certo, e não deu?
- E aquele planejamento todo errado que teve que ser refeito? (O planejamento sempre está errado rsrsrs).
- E as noites sem dormir porque estava sem dinheiro?
- E os nãos que recebeu?
SEJA EU O ALGUÉM EXTRAORDINÁRIO (em tom de ironia) - Faça exercícios matinais, tome seu café da manhã, leve os filhos para escola e tire uma selfie para redes sociais, trabalhe em casa, no shopping, na rua, na cafeteria e tire fotos de quão feliz você está por estar lá, demonstre interesse sempre, em tudo que faz, a qualquer hora e em qualquer tempo! Não se aborreça, seja resiliente, sempre educado e tranquilo nas adversidades. Você não irá se descabelar e desalinhar seu terno, não é mesmo? Sim, seria muito deselegante!
Desculpe-me, mas sinto falta dos artigos que escancaram as dificuldades superadas, estas sim motivadoras para quem trilha uma jornada “empregável”. Sabe... das pessoas de sangue quente? Que choravam sentadas no meio fio? Sinto falta de cenas como as do filme “E O Vento Levou” com a Scarlett O'Hara, determinada, sob os troncos da árvore e da sua desgraça, nas mãos um punhado da terra (a esperança), afirmando: Mesmo que tenha que mentir, enganar, roubar ou matar, Deus é minha testemunha que nunca mais terei fome! A VIDA É DRAMA!!!
Sobre o termo – empregável - que julgo ultrapassado estando tão em voga? Acredito que o velho conceito empreendedor é mais adequado para definir alguém para o mercado de trabalho. Gostaria de postar uma selfie e que alguém comentasse: VOCÊ ESTÁ TÃO EMPREENDEDORA HOJE!
Perceba a simples definição do Dicionário Aurélio para EMPREENDEDORISMO:
1 - Qualidade ou caráter do que é empreendedor.
2 - Atitude de quem, por iniciativa própria, realiza ações ou idealiza novos métodos com o objetivo de desenvolver e dinamizar serviços, produtos ou quaisquer atividades de organização e administração.
Sim!! Podemos ser Empreendedores de Carreira! Inovadores de Emprego e Função, mesmo estando empregados.
Terminologia meu caro! Empreendedor é tão Cult, e Cult é tão Cool.