Visão sistêmica no mercado digital
Nos meus mais de 20 anos de carreira (mais de 10 em digital), sempre trabalhei em grandes empresas e via uma dificuldade das áreas e de boa parte dos profissionais em conseguir identificar e entender o impacto do trabalho que executa nas demais áreas que fazem parte da empresa. Quando o mercado começou a evoluir para jornada do cliente e experiência multicanais, essa deficiência ficou muito mais latente.
No entanto, para mim essa falta de visão sistêmica estava atrelada ao tamanho das empresas, as muitas áreas com focos e objetivos distintos, centenas de funcionários com agendas pessoais de desenvolvimento de carreira e alinhamento estratégicos simultâneos, interesses conflitantes e carreiras colidindo.
Mas neste último mês, empreendendo junto com minha esposa no mercado de pequenas empresas, entendi que esse problema é muito maior do que eu era capaz de ver estando dentro de grandes empresas ou as atendendo.
Trabalhei com diversos profissionais fantásticos em suas áreas de atuação, como mídia, SEO, planejamento, CRM, Marketing, Arquitetura, BI, entre outras várias áreas, no entanto os que efetivamente conseguiam ver a integração destas áreas, pensar na experiência do cliente multicanal e em diferentes pontos de contato, entendendo como essa jornada está conectada a estratégia da empresa que é cliente ou que trabalha, vi pouquíssimas pessoas.
Por outro lado, vejo cada vez mais pessoas com especialização em um recorte do mercado vendendo fórmulas mágicas para empreendedores e pequenos negócios, falando que “feed bonito é o que vende” ou “deu certo pra mim, então virei especialistas e vou vender o mesmo processo pra você”. Mas será que é isso que as pequenas empresas deveriam mesmo estar olhando?
Estou estudando esse mercado e vejo cada vez mais empresas que “tem um negócio”, mas não tem nem um simples Canva montado para definir sua estratégia e tirar o máximo de proveito do seu diferencial, ou seu financeiro para entender o quanto entra e quanto sai e como pode melhorar os resultados.
Vejo negócios que estão investindo muito dinheiro em mídia para trazer seguidores para as páginas de Instagram ou TikTok sem ter ideia se esses seguidores têm alguma chance de efetivamente virarem clientes, pelo simples fato de ter mais seguidores.
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Vejo também diversos empreendedores digitais medindo o sucesso pelo faturamento obtido, mas sem nem mencionar as margens ou ainda inúmeros negócios que operam digital como forma de vender um único produto sazonal no chamado lançamento que tem como indicador de sucesso, na maioria das vezes, os dígitos gerados e não o resultado líquido alcançado.
Resultado, parece loucura, mas muitas empresas operam com margens muito pequenas mesmo com altíssimos faturamentos.
E nisso tudo, o que me deixa mais estarrecido é que as pessoas continuam olhando para o digital como se ele fosse um “bicho novo”, um negócio completamente diferente dos outros. Negócios continuam sendo negócios, seja no mundo online (digital) ou no mundo offline (físico), ou seja, margem é margem, faturamento é faturamento e estratégia é estratégia, e é essencial em qualquer negócio.
Digital não é um bicho novo, mas um novo canal, ele altera bastante o ambiente, reduz barreiras de entrada, cria novos mercados, sem dúvida. A 20 anos o modelo da Netflix com filmes por assinatura era impossível por impossibilidade técnica de implementação. No entanto, estratégia, faturamento, margem, folha de pagamento, são questões que as empresas têm que lidar desde sempre.
Ter visão sistêmica para entender a empresa, seu(s) produto(s), como potencializar ele no mercado com uma margem minimamente decente é essencial para que se tenha uma empresa saudável e sustentável no tempo, seja no mundo físico ou no mundo digital.
Por isso, na minha visão o mercado digital como um todo e principalmente os profissionais que atuam nele, precisam dar esse salto e começar a olhar mais para essa integração sistêmica, deixando de pensar apenas na sua especialidade para entender o impacto dela no todo e como ela contribui para melhoria da entrega das empresas.
E as pequenas empresas, que não tem recursos para ter especialistas de tudo, precisam ter claro o objetivo que tem para, assim, contratar as pessoas e especialistas corretos para ajudá-la a efetivamente acelerar os resultados.