Viva agora. Compartilhe depois! #3
"Simbora que o tempo é rei, vive agora não há depois." Emicida 💛 🌿

Viva agora. Compartilhe depois! #3

As redes sociais nos inseriram em uma verdadeira revolução envolvendo o que está acontecendo em tempo real. Não importa se são coisas boas ou ruins, a gente fica sabendo sobre tudo na velocidade da luz. Para os nascidos na era digital, esse detalhe na nossa existência é algo comum. Mas, para pessoas conscientes como eu, esse comportamento precisa ser avaliado com mais crítica. Vou te contar sobre os pontos que me ajudaram a aprender na marra a viver agora e postar (se eu quiser) só depois.

Construir e administrar a minha própria identidade digital tem sido um grande desafio, tendo em vista que eu mudo de opinião, me transformo, aprendo a ser diferente, repenso conceitos e estou suscetível a errar. Tudo isso pode acontecer dentro da minha casa ou em uma praça pública com transmissão ao vivo para o mundo inteiro. O que eu expresso relacionado aos meus gostos, interesses, atividades e características, busco escolher com critérios que eu mesma estabeleci seguindo a minha jornada de aprendizado ao longo dos meus 33 anos. Não existe mais separação entre online e offline, estamos na era do mundo figital (físico + digital), onde escolhemos quais são os fragmentos da nossa vida que desejamos compartilhar com amigos, familiares, seguidores e desconhecidos. Essa foi a parte mais difícil: entender que o único que vai se importar se eu desaparecer das redes sociais por um tempo é o algoritmo.

Quando estabelecemos ações tendo como base o impulso, a espontaneidade pode atrapalhar todo o processo de conscientização desse aprendizado. Não existe uma linha de raciocínio simples que eu consiga expressar o tamanho da complexidade que esse tema envolve, especialmente por termos descoberto a nossa individualidade com a ajuda da internet. Mesmo que queiram nos colocar em grupos, casa ser humano tem uma rotina, desejos, objetivos, desafios e limitações. Tudo isso e mais um pouco de tantas outras particularidades, fazem com que a reflexão seja algo não muito palatável.

Informação x Segurança

O nível de informações compartilhadas em um único post é surreal. Não se trata de descobrirem qual é o seu artista preferido, mas em qual show você foi, quando, com quem, onde, o que você estava bebendo e quando a sua casa está mais vulnerável. A gente compartilha detalhes da nossa vida pessoal para transmitir confiança ao mesmo tempo que sabemos que não podemos confiar em todo mundo.

O Itaú fez uma série de vídeos que aborda de maneira leve e bem humorada, o que acontece quando os nossos dados são expostos: estranhos podem saber tudo sobre nós. Qualquer pessoa pode ter acesso e fazer o que bem entender até mesmo divulgar por aí.

Até meados de 2015, eu usava o aplicativo Foursquare para fazer check-in em locais públicos e privados. Era um máximo poder contar para a galera que eu estava na balada x, no restaurante y, na cidade z. Eu não tinha noção dos riscos e quando me dei conta, lembrei do app há alguns meses e estava tudinho lá, inclusive endereço da casa dos meus familiares e amigos. Óbvio que eu deletei e isso assustou muito. Antes eu achava que era neura, até acompanhar diariamente relatos nos noticiário das mais variadas consequências envolvendo informações x segurança. Só esse motivo me fez desistir do real time da minha vida.

Real time é importante para o algoritmo?

Depende. Se tem uma coisa que as redes sociais amam é alimentar a insaciável fome dos algoritmos. Eles precisam de dados e informações e não poupam nem mesmo nossas conversas pessoais para se satisfazerem. Certa vez, briguei com o consagrado para que ele levasse o lixo para forma imediatamente e não deixasse para depois, como aconteceu tantas vezes. Discutimos e nos entendemos nos mesmos 5 minutos, não contamos para ninguém. Não foi nada demais, acertamos e ajustamos esse detalhe na nossa rotina e ficou tudo certo. Na mesma noite, fui impactada por um anúncio o Twitter. Era uma campanha da Brastemp que mostrava camisetas estampadas com desculpas esfarrapadas ditas por homens na hora de cumprirem com as suas obrigações domésticas. Mas, caramba! Será que eles também nos ouvem?

Sobre esse monitoramento do nosso comportamento, o TikTok é campeão em coletar seus dados, mas não se sabe o que o app faz com eles. O YouTube também está no topo do ranking da empresa de marketing URL Genius, que levou em consideração 10 diferentes aplicativos de redes sociais

Segundo Steve Satterfield, vice-presidente de privacidade do Facebook:

“Às vezes, é possível que você veja publicidade sobre algo que aconteceu na sua vida, mas é nosso trabalho. Estamos fornecendo publicidade relevante.”

Tirem suas próprias conclusões.

Dados x Dinheiro

Há alguns anos, conheci o Maurício Vargas (em memória), fundador do Reclame Aqui. Ele contou que depois de um problema que ele teve decidiu criar um site de reclamações para forçar que as empresas ajudassem os consumidores. Pouco tempo depois, ele percebeu que tinha uma verdadeira potência nas mãos. Ele poderia apontar para a marca X, qual era o produto com mais problema e em qual cidade ou região do país. Era o braço do call center, assistência técnica e pós-venda mais poderoso já construído em cima de dados.

Essa não é uma crítica ao ReclameAqui e sim ao sistema que envolve a nossa existência online. Informações são transformadas em dinheiro e na maioria das vezes não ganhamos nada com isso. Damos de graça aquilo que temos de valioso e nem nos damos conta que empresas terão um verdadeiro dossiê digital da nossa vida. No fim, querem nossa atenção e depois o nosso dinheiro.

No final das contas, tudo é equilíbrio e bom senso

Usamos a internet para nos expressar, aprender coisas novas, conversar com os amigos. Só que estamos negociando a nossa privacidade com as gigantes de tecnologia e só nos resta confiar. Eu escolho o que eu quero compartilhar depois que eu viver. Assim consigo refletir sobre todos os elementos de quais partes de mim quero transformar em públicas e quais permanecerão privadas.

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Proteger a minha privacidade a longo prazo é pensar: eu gostaria que esse foto ou vídeo fosse exibida na capa do G1? Ou exibida em uma matéria do Jornal Nacional? Não é fácil ter bom senso, por isso o real time é inimigo das boas decisões.

Eu descobri sentindo na pele que registrar tudo e postar o tempo todo pode ser sinal de ansiedade. Eu li alguns livros sobre esse assunto e o "Celular: como dar um tempo: O plano de 30 dias para acabar com a ansiedade e retomar a sua vida" realmente me fez agir. Eu segui as recomendações propostas e foi libertador ir ao supermercado sem levar o celular e caminhar na rua sem olhar para nenhuma tela. No começo não foi fácil não, foi assim que eu descobri o quanto me sentia apreensiva pensando nas mensagens e nas postagens que eu estava perdendo. Mas, entendi que eu estava ganhando mais tempo e conexão comigo e com a vida que acontece dentro de mim e à minha volta.

O ápice da minha evolução foi ver o show do Emicida com o celular no bolso. Os últimos anos foram tensos e pesados demais. Sorri e chorei ouvindo o álbum Amarelo. Esse foi um dos momentos mais especiais, significativos e simbólicos da minha vida. Fiz essa foto para me lembrar que "simbora que o tempo é rei, vive agora não há depois." 💛 🌿

Um assunto de extrema importância, com um leve tapa na minha cara para rever algumas atitudes.

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