VOARTE

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VOARTE

Ferrari

Um pássaro nasce num ninho, sem luxo, mas aconchegante, rodeado de zelo e carinho e nem imagina o que tem que passar, além de aprender a voar.

Igual a todos os outros, vêm ao mundo, diferente de todos os outros, com destino parecido com outros, mas com chance de destacar-se dos outros.

É alimentado de acordo com as condições dos pais, que não deixam faltar nada e da maneira que dá, passam ensinamentos para quando ele for livre.

O mundo parece tão grande quando se é pequeno, diferente de quando se torna grande e se percebe que tudo em volta é que é pequeno e repetitivo.

O ninho tem paredes largas que vão se estreitando conforme o tempo vai passando, deixando a árvore onde nasceu, velha, pequena mas ainda sua casa.

É hora de novos ares, é hora de alçar vôo, é o momento da decolagem, é o momento da coragem, que se têm quando se é pequeno e descobridor.

A primeira experiência de voar é a mesma do primeiro dia na escola, igual ao primeiro dia de trabalho, somado ao nervosismo do primeiro encontro.

O sentimento de sentir os pés fora do chão é que faz arriscar olhar para baixo, e tentar controlar o medo que será aliado nas outras muitas situações.

O conselho dos pais dizendo que vai dar certo, mistura-se a incerteza da primeira vez como o diabinho do lado esquerdo e o santinho no lado direito.

Mas como os mais velhos alcançaram o sucesso de voar, senão da mesma forma como Ícaro decidiu fazer o mesmo ? Ora, tendo asas e arriscando.

Daí para frente tudo é mais um objetivo cumprido, mais uma meta atingida, mais um prazer alcançado, mais experiência de vida e mais horas de vôo.

Mas quando chove, tirando o João-de-Barro, pedreiro por vocação da natureza, estão todos iguais, fugindo do pior, espremendo-se onde dá e só.

Quando chove, tudo se torna mais feio, as penas ficam molhadas e tanto visivelmente quanto sentimentalmente ficamos mais magros, mais frágeis.

A noite é hora de voltar para casa, carregando o peso do dia, arrastando a semana, o fardo da vida e o cansaço da mente que já pensa no amanhã.

E amanhã começa tudo de novo, a luta pela comida, a correria, ou melhor, a "voeria" para levar comida a todos os que são da nossa mesma espécie.

E é nessa hora é que se perde o entusiasmo que se teve no primeiro dia de vôo sozinho, na saída de casa, na mudança de ninho, no descobrir do "pio".

Chega a dar pena, ver um montinho de penas encolhido, quase virado para dentro, de olhos tristes, livre mas aprisionado, mesmo podendo ir e vir.

Quando um pássaro perde a alegria, aprisionado de coração ou corpo, perde também o canto, perdido num canto sem encanto, amuado e mudo.

Mas a natureza é perfeita e sabe o que faz, nunca desampara alguém que não têm maldade, que só faz o bem, que é inocente e que representa a paz.

E novamente o pássaro ressurge, não só como Fênix, mas ainda sim apagando o fogo que consumia e ao mesmo tempo esfriava o corpo e o ambiente.

O pássaro novamente é belo, já que é livre e solto, sempre foi, preso somente aos sentimentos bons que recebe daqueles que sempre o admiraram.

Daqueles que sempre os olharam, não só pela aparência, mas pelo coração, enxergando com os olhos internos, os verdadeiros olhos de todos.

Por isso a linguagem dos animais é diferente uns dos outros, talvez por isso dizem ser os cães o melhor amigo do homem, já que não falam assim.

A natureza é mesmo perfeita, sabe o que faz, têm um tempo diferente da Terra e isso só quem compreende são os animais irracionais, não nós.

Mas o pássaro volta ao seu estado de antes, arisco aos homens, pois sabem do que são capazes, são lindos, as penas brilham, são vidas simples.

Moram onde tiver um espaço, migram para sobreviver, enxergam longe, são discretos e têm dois mais valiosos poderes da liberdade, voar e cantar.

Não aparentam a idade que têm, não são cobrados por ninguém, são bem vindos onde quer que vão, são bonitos no jardim e juntos fazem verão.

Amadurecem rápido pois são tratados e treinados para serem assim, de pequenos se espelham aos mais velhos, ficam ligeiros e sábios enfim...

Quando aparecem e são vistos alegram e inspiram, e mesmo quando se vão, deixam saudades, mas mesmo assim deixa feliz uma parte de mim.

A parte que entristece é a mesma que espera amanhã outro dele voltar, já a metade contente é a que sabe que eu faria o mesmo se pudesse voar.


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