Você já parou para pensar em como a sobrecarga do trabalho de cuidado impede que muitas mulheres cresçam profissionalmente?
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Você já parou para pensar em como a sobrecarga do trabalho de cuidado impede que muitas mulheres cresçam profissionalmente?

Vamos falar da economia do cuidado quem ela liberta e quem ela aprisiona!

Compreender a sobrecarga das mulheres no trabalho de cuidado é o primeiro passo para concluir que a equidade de gênero no mercado de trabalho jamais será atingida sem uma divisão justa das atividades de cuidado da casa e dos filhos.

As definições de economia do cuidado ainda não são um consenso mas de uma forma geral os debates acadêmicos tem usado o termo para tratar das tarefas de atenção e cuidado às pessoas e de manutenção dos lares e demais ambientes da vida social. A economia do cuidado , care (cuidado em língua inglesa) tem sido utilizado para caracterizar as atividades que são desenvolvidas no âmbito da economia dos cuidados que tratam do cuidado de crianças, idosos e doentes, do trabalho doméstico e trabalho reprodutivo e que constituem trabalhos imprescindíveis à reprodução social biológica e ao bem-estar da sociedade.

Para quem desejar se aprofundar no tema em 2016 o Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada lançou um documento chamado ECONOMIA DOS CUIDADOS: MARCO TEÓRICO-CONCEITUAL.

Para tentar colocar esse pensamento em termos práticos quero tangibilizar as tarefas em horas trabalhadas.

O número de horas trabalhadas nos cuidados pode variar bastante dependendo da configuração familiar, se a mulher consegue dividir o cuidado com outras pessoas na casa, se tem condições financeiras para pagar uma rede de apoio ou uma funcionária. Também existe a variação de acordo com a idade dos filhos e quão independente eles já são.

A ideia aqui é representar o que significa o trabalho em relação a cargo horária de uma mãe chamada de “dona de casa” pela nossa sociedade. Vamos usar como base de calculo “uma configuração considerada típica” - 2 Filhos, sendo 1 bebê e o outra criança de até 5 anos que moram com a mãe. A presença paterna pouco interfere nessa conta considerando que na grande maioria dos lares a responsabilidade fica quase que exclusivamente com a mulher.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) As mulheres brasileiras trabalham o dobro de horas que os homens nos afazeres domésticos e cuidados de parentes, Enquanto as mulheres dedicaram, em média, 21,3 horas semanais a estes afazeres, os homens só empenharam 10,9 horas.

Uma pesquisa realizada pela Organização Internacional do Trabalho OIT de 2016, aponta que as mulheres realizam pelo menos duas vezes e meia mais trabalho doméstico não remunerado e trabalho relacionado aos cuidados do que os homens. 

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TABELA DE ATIVIDADES DE CUIDADO DA CASA E CRIANÇAS:

  •  Auxiliar crianças pequenas a se trocarem, escovarem os dentes após acordar: 20 minutos;
  • Preparo do café incluindo lavar a louça pela manhã : 30 minutos;
  • Preparo do almoço incluindo lavar a louça : 60 minuto;
  • Preparando jantar incluindo lavar a louça: 40 minutos;
  • Lavar, estender, recolher, passar, dobrar e guardar roupas : 90 minutos;
  • Auxiliar as crianças no banho: 40 minutos;
  • Limpeza rotineira da casa como varrer, passar pano, tirar poeira do dia dia: 45 minutos;
  • Amamentar: 20 minutos por mamada, 8 vezes ao dia: 160 minutos;
  • Trocar fraldas: 6 trocas de fralda, 10 minutos por troca: 60 minutos;
  • Auxiliar crianças as idas ao banheiro: 15 minutos
  • Brincar com as crianças e pausas para auxiliar as crianças ao longo do dia: 60 minutos;
  • Colocar as crianças pra dormir: 40 minutos;
  • Em período escolar levar e buscar criança: 60 minutos;

Essa jornada soma 12h de trabalho.

Tripla Jornada @Maternativa

Qualquer mãe que estiver lendo esse artigo ainda pode dizer que o tempo é subestimado em muitas das funções .

Você leitor também pode sentir falta do horário de pausa, de refeições, banho, estudo, trabalho remunerado dessa mãe e o mínimo de auto cuidado e tempo para si. Mas a verdade é essa: Não sobra muito tempo para além de dormir. 

A sobrecarga de trabalho doméstico faz com que mulheres sacrifiquem oportunidades de aprendizado e de crescimento pessoal. Faz com que não tenham tempo para atuarem de forma plena nos trabalhos remunerados, faz com que atuem em trabalhos informais ou tenham poucas horas disponíveis para seus negócios ou trabalhando contratadas e que tenham dificuldade de encontrar sua independência financeira!

Romantizar a atuação dessa super mãe “dona de casa” exemplar, que com amor faz todo trabalho de cuidado sozinha porque coloca seus filhos e seu lar como prioridades sem se queixar, faz parte das engrenagens machistas da sociedade capitalista.


Contando essa que bonita história e repetindo ela incansavelmente, o discurso padronizado replica um padrão de comportamento que mantem as mulheres aprisionadas em um lugar de fragilidade, onde sempre dependerão dos homens, que dispensados de todo trabalho de cuidado, podem desempenhar seu papel provedor. Eles seguem enriquecendo enquanto as mulheres seguem sustentando esse sistema.

Mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado – uma contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia global – mais de três vezes o valor da indústria de tecnologia do mundo.

Para todos aqueles que atuam pautando a diversidade e a equidade de gênero, a mídia e publicidade responsável, as empresas que buscam realizar a diversidade temos que conhecer todos esses aspectos que sobrecarregam as mulheres. Precisamos falar e promover ações todos os dias, falar até que nossa vozes sejam escutadas e, quando precisar, precisamos gritar com toda força dos nossos pulmões até chegar o dia em que o trabalho que as mulheres realizam para manutenção da sociedade seja reconhecido com justiça e com divisão justa.

Texto: Vivian Abukater

Vivian Abukater, é sócia e diretora na Maternativa. Apaixonada por compartilhar conhecimento, estudiosa e pesquisadora da relação entre maternidade e trabalho , líder de comunidade , mentora e palestrante. Graduada em Comunicação Social, Pós Graduada em Administração e em Metodologia da Educação. É mãe de dois meninos que ensinaram que a maternidade é a melhor escola de negócios que existe.



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