EMPRESAS PRECISAM TRATAR A PROTEÇÃO DA MATERNIDADE COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO TRABALHO E COMO PRINCÍPIO DE DIREITOS HUMANOS.

EMPRESAS PRECISAM TRATAR A PROTEÇÃO DA MATERNIDADE COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO TRABALHO E COMO PRINCÍPIO DE DIREITOS HUMANOS.

Em setembro de 2019 a Maternativa realizou uma pesquisa que levantou os medos e desafios das mulheres desde o desejo de engravidar, passando pela gestação até o retorno e continuidade no trabalho após a chegada dos filhos.

Apresentamos os resultados dessa pesquisa no Fórum WEPS da ONU Mulheres em outubro de 2019 para que todas as empresas presentes tivessem acesso a esse conteúdo e pudessem refletir sobre a importância de desenvolver estratégias para ampliar o equilíbrio de gênero no mercado de trabalho.

Resolvemos ampliar a divulgação sesses dados nesse momento porque sentimos que a crise ocasionada pela pandemia afetou de forma muito mais intensa as mães trabalhadoras.

Hoje quero abordar o medo de não conseguir conciliar maternidade e carreira citado por 73% das respondentes entre mulheres com desejo de engravidar, durante a gestação, retornando de licença .

Pensar em como um filho irá impactar a carreira faz parte da vida de toda mulher desde o momento que ela decide engravidar ou quando é surpreendida por uma gestação não planejada.

Para uma mulher ativa profissionalmente, com ambições e intensão de se desenvolver na carreira e que tem uma jornada padrão de trabalho (aproximadamente de 12h , considerando deslocamento do trabalho) incluir os cuidados de um filho nessa rotina e no planejamento da carreira é um dos momentos mais tensos e que despertam muito receios e medos.

Uma questão biológica que deveria ser simples e muito mais reconhecida socialmente, a chegada dos filhos, tem sido apontada como um grande degrau quebrado na carreira das mulheres e uma das razões pelas quais as mulheres não estão subindo ao topo e alcançando posições de liderança nas empresas onde atuam.

Quando escutamos as mães em relação ao trabalho nas pesquisas que realizamos e em nossa comunidade é possível encontrar facilmente mulheres altamente qualificadas e com filhos que deixam o trabalho ou fazem uma pausa por longos períodos de tempo.

É possível recolher facilmente centenas de relatos de mães que retornaram de licença, depois de apenas 4 meses, e contam as terríveis experiências de retorno.

Muitas empresas, gestores e colegas são incapazes de exercitar a empatia e atuam sem nenhum plano de acolhimento dessas mães.

O resultado são mães se sentindo culpadas, tristes, privadas de sono e que começam a se perguntar o que estão fazendo naquele trabalho enquanto seus bebês de apenas 4 meses estão em casa.

Quando a mãe que encontra essa situação tem condições financeiras e um boa formação elas reavaliam suas carreiras e muitas deixam temporariamente ou definitivamente o mercado corporativo. Já as mães que não podem tomar essa decisão por conta de sua condição financeira se esforçam para enfrentar todas essas micro agressões e desenvolvem altos níveis de estresse.

Temos aqui um ponto decisivo: Ou as empresas mudam ou vão passar longos períodos tentando implementar suas metas de diversidade e igualdade de gênero.

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A flexibilidade, licenças maternidade de ao menos 6 meses e o desejo real de acolhimento estão no topo dos desejos das mulheres em relação ao mercado de trabalho.

A verdade é que nos dias atuais a boa conciliação entre a vida pessoal, trabalho e família faz parte dos desejos de grande parte dos novos trabalhadores e a avaliação da cultura da empresa em relação a esse tema defini de perto a atração e retenção de talentos.

Essa reflexão já é tema da academia, faz parte do debate e do diálogo social recorrente e precisa estar em pauta no Estado e na gestão empresarial.

Quando avaliamos a atuação da esmagadora maioria das empresas, a realidade é que elas ainda enfrentam, vários desafios no gerenciamento de questões relacionadas à gravidez e retorno ao trabalho de suas colaboradoras , incluindo:

  1. Confusão e incerteza sobre suas obrigações legais e sobre os direitos dos funcionários;
  2. Confusão ao gerenciar os prazos e o acolhimento no retorno das funcionárias ao trabalho;
  3. Dificuldades em registras e avaliar e mesmo desenvolver políticas que atendam às solicitações dos funcionárias para trabalhar de forma flexível ou em meio período;
  4. Encontrar espaço e trabalhar recursos limitados para arcar com os custos diretos associados ao treinamento de um funcionário de substituição temporária;
  5. Acomodar as necessidades específicas de funcionárias grávidas e funcionárias que retornam da licença parental e garantir um ambiente de trabalho seguro.
  6. Alterar a cultura que mantem estereótipos , atitudes e comportamentos negativos entre gerentes, colegas sobre funcionárias grávidas ou voltando ao trabalho após licença.
  7. Pequenas empresas podem enfrentar problemas específicos, que vão desde falta de recursos e capacidade para gerenciar os colaboradores com filhos que trabalham, além de restrições financeiras e dificuldades em gerenciar a licença ou transferir uma funcionária para um emprego mais seguro.

 É essencial que as empresas tenham um entendimento preciso e detalhado de suas responsabilidades legais e direitos dos empregados e que considerem esse entendimento como primordial para investirem recursos de capacitação e treinamento tanto de suas equipes de RH quanto de gestores de times.

A discriminação contra as mulheres em relação à maternidade é um problema generalizado em todo o mundo. Onde a legislação existe, garantir que seja efetivamente implementado continua sendo um desafio persistente. Por essa razão o Estado precisa melhorar e muito a lacuna de falta de informações claras e facilmente acessíveis. Precisa elaborar guias com o passo a passo e ter um canal específico para que empregadores e cidadãos possam obter informações sobre direitos e responsabilidades relacionados à gravidez, licença maternidade, paternidade e retorno ao trabalho.

A maternidade, o cuidados com a saúde e com a segurança das mães e bebês está no centro da própria existência humana.

As empresas que pretendem agir em direção a igualdade de gênero no trabalho ampliando a participação das mulheres e aumentar sua participação em cargos de liderança precisará tratar a proteção da maternidade como direito fundamental do trabalho e tratado como princípio de direitos humanos.
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Olhando para todas essas dificuldades encontradas pelos empregadores e as lacunas deixadas pelo Estado em relação a informação sobre a proteção da Maternidade em relação ao trabalho e acompanhamento do cumprimento da legislação não é difícil entender porque grande parte das mulheres sentem medo ao pensar em como irão conciliar maternidade e trabalho.

Seguimos trabalhando para trazer luz a questão e provocar reflexões que nos levem para uma direção onde as transformações reais poderão acontecer.


Texto: Vivian Abukater

Vivian Abukater, sócia e diretora executiva na Maternativa, uma empresa de impacto social que hoje é a maior rede de mães empreendedoras do Brasil e que já contribuiu com milhares de mães a melhorarem suas relação com o mercado de trabalho. Graduada em Comunicação Social, Pós Graduada em Administração pela FIA e em Metodologia da Educação, desde 2012 dedicada ao estudo do empreendedorismo e seu ecossistema. Atuou como executiva de marketing e consultora por mais de 15 anos para em grandes empresas multinacionais. É mãe de dois meninos que ensinaram que a maternidade é a melhor escola de negócios que existe.


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