Você quer ter razão ou ser feliz? Eu escolhi ser feliz!
No nosso post anterior, havíamos dito que o próximo texto também traria uma história sobre mudança. Hoje, eu, Natácia, trago meu relato, minha vivência e percepção que ainda se encontra em construção e lapidação. Mudar! Um verbo tão curto e de fácil escrita, que via de regra está acompanhado das colegas, decisão e atitude, que nem sempre se correlacionam com a simplicidade da pronúncia dele. Penso que a nossa mente cria quimeras, junta aqui e acolá experiências boas, outras nem tanto, coloca algumas boas pitadas de medo e insegurança (talvez mãozadas mesmo), cristaliza ideias, preocupa-se demais com as opiniões dos outros. Ah! As famigeradas opiniões... Dos nossos pais e mães, irmãos, filhos, amigos, maridos, esposas, namorados, parentes, professores, tutores, colegas, vizinhos, transeuntes, pombos, formigas... Melhor não continuar essa lista para o post não se tornar enfadonho. Mas, fato é que todos esses personagens têm seu quinhão de perturbação na mente de uma criatura que não se conhece, ou que se limita por aquilo que lhe foi passado.
Alguns de nós sequer percebe que age em virtude da influência e opinião do outro. Há pessoas amadas, ou de bom coração que sim, oferecem-nos bons pontos de vista, preocupam-se conosco e nos influenciam para um direcionamento saudável e construtivo a partir de suas opiniões e/ou sugestões. Posto que estamos no mundo, natural é que haja essa interação entre seres. O problema começa quando ao pensar em tomar uma decisão, ou um simplesmente fazer qualquer coisa, o coração se inunda de medo e a primeira frase que vem a mente é: O que ele vai pensar de mim? Como vai ficar minha reputação depois disso? Será que ela vai pensar mal de mim? E se eu falhar? E se eu não me posicionar? E se eu não fizer isso? E se eu falar que não farei? E se eu discordar? E se eu não quiser me envolver? Nesse instante, um nó chegou a sua garganta, possivelmente seu coração acelerou, seu estômago esfriou, e caso você tenha tido êxito em fazer o que queria, sofreu bastante no caminho. Ah amigos, aqui é uma ferida!
Às vezes essas perguntas borbulham em nossa mente em virtude da opinião de um ser amado, às vezes é simplesmente por conta da formiga que andou no seu açúcar. Nós precisamos nos apropriar de nossas vidas e assumir a postura de comando. Afinal de contas, é a nossa vida... Todas as noites somos nós quem deitamos na cama com as nossas alegrias, aspirações, mas também as lamentações, as inseguranças e o medo do julgamento alheio. Não nos damos o direito de pensar diferente, porque nem sabemos que podemos ou como fazer isso... Está tudo tão moldado, tudo tão formatado, fomos ensinados a seguir o fluxo, a não ter opinião, a pensar em blocos – lembre das matérias da escola ou da faculdade que pouco conversam entre si, mesmo sendo de um mesmo curso. Você se lembra de que na escola, quando crianças (exemplo válido para a década de 90 e anos anteriores), os trabalhos vinham com o enunciado “copie do texto...” ou “faça uma pesquisa na enciclopédia...”? Não sei vocês, mas eu e minha turma inteira copiávamos ipsis litteris (Ctrl c e Ctrl v) a danada da enciclopédia Barça. Enquanto aprendíamos, fomos ensinados a reproduzir e não a pensar sobre um dado conteúdo.
Bem, depois de umas boas filosofadas, vamos ao meu ponto de mudança. Eu sempre acreditei que a receita para sucesso de uma pessoa se pautasse nos seus títulos acadêmicos, associado à estabilidade de um concurso público. Que sucesso? Eu pensava do ponto de vista profissional e financeiro, mais uma vez separando em gavetinhas. Nossa vida não se encontra compartimentada, pelo menos não deveria.
Minha mãe foi funcionaria pública e eu via nisso uma boa e única receita para sobrevivência de cada criatura. Todos ao meu redor prestavam o concurso e nele depositavam todas as expectativas de uma vida segura, porque no final do dia o importante é pagar as contas, o resto a gente toca no peito. Aqui não é uma crítica a quem está na jornada de concurseiro ou quem é concursado, mas minha vivência. Com essa mentalidade de que “só é possível de um jeito” eu ingressei na faculdade, graduei, tornei-me mestre e doutora, fiz meu pós-doutorado, e a cada ano a ideia obsessiva de passar em um concurso tornava-se mais e mais fixa. Só que agora eu tinha afunilado mais, concurso para docente de universidade pública. Você pode dizer: “Nossa, mas isso é foco!” Eu lhe digo: é doença!
Condicionar o sucesso de sua vida a um único evento é um pensamento tóxico, nocivo. Necessário se conhecer para identificar se está feliz tentando, ou se aquilo não satisfaz mais seu coração. Caso vocês queiram saber sobre como eu ingressei na vida acadêmica e minhas vivências nos 14 anos de envolvimento podemos abordar em outro post.
Eu já me inscrevi, repetindo o número – gosto dessas coisas! –, em 14 concursos, alguns não pude fazer a prova, em outros fui classificada... Fui desclassificada e passei por processos que tiveram fraude – inclusive, um no qual me classifiquei em segundo lugar. Talvez alguns leitores digam: “mas você está tão perto, não pode desistir agora!”, “nossa, mas você desistiu de prestar concurso porque não teve sucesso em nenhum, isso é recalque”. Não, eu não desisti de prestar concursos públicos para docente, eu escolhi parar.
Eu fiquei doente, fiquei doente da mente, porque acreditava que só isso me traria felicidade, ou que só assim eu poderia me sustentar, ou que eu estaria sendo fraca em desistir, ou que era só tentar, ou o que os outros iriam achar de mim, ou o que meus pais achariam disso, como meus orientadores me veriam... Entristeci-me… Já não sentia aquela mesma felicidade ou empolgação – características da minha personalidade – para iniciar qualquer projeto científico... Vivenciei a academia. Percebia que aquele ambiente não me trazia mais satisfação. Eu me condoía pelos estudantes e achava que a universidade não estava provendo o que era necessário para eles… Na minha opinião, é preciso uma restauração das universidade, mas também assunto para outro momento. Entristeci-me porque como poderia eu, depois de tantos anos, optar por não mais estar ali? Isso reverberou em alergias na minha pele, ansiedade, contaminou minha convivência familiar – eu não tinha tempo para um telefonema. Adoeci e ninguém percebeu, mas a caixa de e-mail estava sempre abarrotada, e as cobranças que eram minhas só aumentavam... Eu cai, e também ninguém percebeu...
Minha vontade de não prestar concurso para docente só tinha insucessos nas tentativas de diálogo com a razão. Pobrezinhas, sempre frustradas! Eram brigas homéricas! Até que um dia meu coração perguntou para minha mente:
Natácia, você quer ter razão ou ser feliz? Eu escolhi ser feliz!
Claro que não foi tão simples assim, tem muita leitura, conversa, meditação e reflexão. Mas gente, o ponto é: eu mudei! Fui atrás de histórias de gente muito competente e feliz que sequer tinham terminado o ensino fundamental. E eu me sinto livre e com autoridade para dizer, você pode ser feliz escolhendo e mudando a todo instante... O "você de 10 anos atrás" não é o mesmo "você de hoje”. Por que continuar mantendo decisões antigas que não agradam mais? E sobre a preocupação com o outro? Sim, eu não vou mentir, ela ainda tem umas duas garrinhas presas em mim... Mas eu mudei de opinião, eu não preciso ser concursada para ser alguém de sucesso, e deixa eu lhe falar... ISSO É LIBERTADOR!
Conheça o Mudeu, um local que conversamos sobre isso e muito mais, um local para sentirmos bem e acolhidos! https://linktr.ee/_mudeu
Lembre-se: juntos vamos mais longe!
Coordenador de Projetos na Biota Projetos e Consultoria Ambiental
4 aParabéns, Natácia de Lima! Obrigado por se abrir com tanta coragem e promover reflexões tão importantes. :)