VOCÊ TEM UM MINUTO PARA UM DEDO DE PROSA?

Não é de hoje que eu tenho uma extrema fascinação por velhos. E permito-me chamá-los assim, de velhos, porque me sinto, de certo modo, íntimo deles. Não à toa o meu projeto de fotografias e poesias colaborativas no Instagram tem o nome de @MeusVelhos.

Toda essa admiração que tenho por eles não nasceu do acaso ou de uma oportunidade de negócio, como muito se vê hoje, mas simplesmente porque desde criança eu adoro ouvir histórias, e eles -- melhor que qualquer publicitário metido a storyteller -- são os verdadeiros especialistas no assunto.

Mas toda essa introdução tem como por objetivo dizer apenas uma coisa: eles, os velhos, precisam e querem ser ouvidos. E não importa por quem; pode ser pelo neto, pela caixa do supermercado, pelo jornaleiro, pela moça do telemarketing ou por qualquer um que mostre um pingo de interesse pelo o que eles tanto têm a dizer.

A explicação dessa ânsia por falar, falar e falar, na minha opinião, é muito simples. Um "velho" lúcido explicaria mais ou menos assim: "eu vivi pra cacete, colecionei alegrias, frustrações, paixões, risadas, descobertas e uma porção de coisas. Não quero enterrar tudo isso comigo, rapaz. Você tem um minuto?"

Parece fácil, não é mesmo? Mas a impaciência, a intolerância e o descaso são mais poderosos e levam muita gente -- inclusive instituições voltadas a este público -- a ignorar esse detalhe. O resultado, evidentemente, é o pior dos erros: falar muito e querer impor coisas aos idosos sem antes (durante e depois) ouvi-los. Aí não tem mais jeito, meus amigos; a desconfiança e a repulsa dos coroas pelas suas marcas já estarão instauradas. E o pior: velhos contrariados falam muito mais que os velhos satisfeitos.

Bruno Varandas