Voluntariar para ter saúde mental? Ou ter saúde mental para voluntariar?
Canva - Upset depressed man in therapy suffering from mental health problems

Voluntariar para ter saúde mental? Ou ter saúde mental para voluntariar?

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#10 Nessa edição você vai ler:

💆🏻♂️ Voluntariar para ter saúde mental? Ou ter saúde mental para voluntariar?


O voluntariado está no campo da solidariedade, do cuidado com o outro, da contribuição para o desenvolvimento sustentável de pessoas e comunidades.

Nessa edição, eu quero destacar a dimensão individual dessa contribuição solidária.

Quando fazemos trabalho voluntário, investimos não apenas o nosso tempo e nossos talentos.

Investimos nossa subjetividade, nossas emoções, nosso corpo e nossos desejos em relação aos outros. Pessoas e comunidades.

Assim como não basta ter uma ideia criativa para modificar contextos sociais, não basta fazer trabalho voluntário por impulso, ou para se curar de alguma coisa.

Aqui entra a minha pergunta para você: Voluntariar para ter saúde mental? Ou ter saúde mental para voluntariar?

Usarei a depressão como exemplo para falar da saúde mental como um todo. Já que depressão se tornou um termo genérico para o mal-estar mental de um indivíduo.

Segundo a OPAS/OMS, 300 milhões de pessoas de todas as idades sofrem com depressão. O Brasil tem o maior número na comparação com seus países vizinhos.

Essa é uma questão de saúde pública.

Mas, por causa da generalização do termo depressão e do estigma social ligado à tristeza, existem pessoas deprimidas que não sabem que estão doentes. E pessoas que confundem mal-estar de outra ordem com a depressão.

O fato é que recebemos essas pessoas todos os dias como candidatas a serem voluntárias em nossos programas.

Já recebi voluntários doentes emocionalmente, com o desejo de fazer trabalho voluntário e se verem livres da sua depressão.

Também já vi voluntárias adoecerem até fisicamente em função do trabalho voluntário.

Como gestores de programas, precisamos identificar os sinais e saber como agir.

Apoiar nossos voluntários que deprimem no processo, e saber como encaminhar para profissionais e serviços de saúde.

Até mesmo dizer não para alguém que chega muito adoecido e pode piorar no processo de trabalho voluntário.

Eu diria que é preciso ter saúde mental para fazer trabalho voluntário. E que "mais saúde mental" é efeito de uma boa experiência de voluntariado.

O trabalho voluntário não deveria ser uma forma de terapia para quem se sente deprimido.

Principalmente para aquelas pessoas que não sabem que estão deprimidas de verdade. E estão sem acompanhamento especializado de profissionais da saúde mental.

Alguns exemplos comuns nos programas comunitários e até empresariais:

  1. Pessoas atravessando um trabalho de luto podem tornar o trabalho voluntário um mecanismo maníaco, uma forma de consertar alguma coisa em outro lugar. Consertar aquilo que não pode ser consertado por dentro. Essas pessoas estão em risco ao fazer trabalho voluntário.
  2. Pessoas que começam muito apaixonadas pela causa, mas quando conectam os pontos entre a missão da organização e o tamanho do desafio social, deprimem. Algumas nunca mais voltam a fazer trabalho voluntário. É responsabilidade dos gestores de voluntariado apresentarem adequadamente a questão social a seus voluntários. E preparar o grupo para uma missão difícil e, muitas vezes, frustrante.
  3. O efeito contrário também é comum. Diante da grandiosidade do desafio social, o voluntário dá tudo que tem, intensivamente, e adoece no processo. Aqui entramos para regular horários e supervisionar o trabalho voluntário. Acompanhar de perto a intensidade que cada voluntário está dando para suas atividades.

Nem muito nem pouco é a meta ideal.

O trabalho voluntário não deveria ser uma forma de terapia


Precisamos estar atentos para identificar esses casos.

O primeiro passo é desenvolver uma relação ética e franca com nossos voluntários, dentro de uma experiência excepcional de voluntariado.

Ao ponto de conseguirmos dizer com tranquilidade:

"eu sugiro que você busque ajuda profissional"
"eu não posso aceitar você como voluntário nessas condições, mas estarei aqui esperando quando for o melhor momento"
"gostaria que você visse um profissional de saúde mental, e retornasse ao programa mais fortalecida emocionalmente"

Só uma experiência excepcional de voluntariado dá condições para esse nível de amizade e intimidade, onde você pode ajudar um voluntário buscando ajuda para ele em outro lugar.

Nossas depressões serão testadas a todo momento, na tentativa de mudar o mundo como ele está hoje.

Aquecido por altas temperaturas, por novas guerras, e pelo aumento da precariedade material e emocional de pessoas e comunidades.

Eu sugiro que cuidemos um pouco mais da saúde mental, antes de embarcar na jornada.


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Fazer o bem é só o começo.

Bom sábado!



Aline Khouri

Comunicação | Terceiro setor | Comunicação de Causas | Direitos Humanos | Impacto Socioambiental

2 m

Que discussão fundamental, Rafael. Precisamos fazer mais debates como esse, até porque é preciso estar bem para cuidar do outro.

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