Histórias
 


Na madrugada de um domingo, 15 de março de 2020, a vida da administradora e psicóloga em formação Juliana Gava (@jugava_andrada) mudou completamente. O prédio em que ela morava com a família, em Barbacena, Minas Gerais, foi alvo de um incêndio criminoso. A tragédia resultou na morte do seu companheiro, o publicitário Thiago Faria, 38 anos, e da filha, Helena, de apenas 4 anos.

Helena foi retirada do prédio já sem vida. O pai resistiu por quase um mês, mas morreu no dia 12 de abril, um domingo de Páscoa. Para Juliana, perder sua família foi algo inacreditável. "Descrever a dor do luto, principalmente da morte de um filho, é algo extremamente difícil", afirma. Mas, como ela mesma diz, escolheu "viver o amor que eles ensinaram e não a dor".

Tempo depois, ela decidiu ir até a penintenciária e conversar com o responsável pelo incêndio. "Perdoar foi a sementinha do meu renascimento", conta. Depois disso, decidiu reconstruir sua vida. Ela casou novamente e, hoje, quatro anos depois, espera o terceiro filho — uma menina, fruto do relacionamento com Bonifácio Andrada Neto. Curiosamente, o parto está previsto para a mesma data de nascimento da filha que ela perdeu, Helena.

Em depoimento à CRESCER, Juliana contou como foi a última noite antes da tragédia, a ressignificação do luto e a expectativa para a chegada dessa nova vida.

À esquerda, Juliana com Helena e o pai, Thiago. À direita, grávida de Maria Antonela — Foto: Reprodução/Instagram
À esquerda, Juliana com Helena e o pai, Thiago. À direita, grávida de Maria Antonela — Foto: Reprodução/Instagram

Última noite em família

"Era noite de sábado. Lembro que foi muito agrádavel — recebemos um casal de amigos e a filha deles, amiguinha da Helena. Fizemos planos juntos, rimos e as meninas brincaram bastante. Quando eles foram embora, Helena disse que queria dormir na casa da amiguinha. Ela nunca tinha dormido fora em casa, então, eu disse que, mais pra frente, eu deixaria ela ir pois 'a mamãe ainda não conseguia dormir sem ela'. Deitei com ela, fizemos uma oração e, depois de alguns minutos em silêncio, ela me pediu um beijo e adormeceu, como todos os dias, enquanto eu fazia massagem nos seus pezinhos.

Eram quase 5h da manhã, o sol ainda não havia saído, quando fomos acordados por alarmes de carros e muitos barulhos de estouros, como se fossem tiros. Thiago levantou, foi até a janela da nossa cozinha e não viu nada de diferente, a rua estava deserta. Assim que ligamos a luz da sala, sentimos um cheiro de fio queimado. Sugeri que ele fosse até o salão do prédio desligar o relógio de energia. Ele foi até o quarto buscar um chinelo, eu parei na porta do quarto da Helena, e ela dormia serena, abraçada à sua bonequinha. Quando voltamos para a sala, a fumaça já era mais intensa e resolvemos sair do apartamento.

Incêndio de grandes proporções

Ele pegou a Helena no colo e, quando abri a porta, uma fumaça preta invandiu nosso apartamento. Não era possível enxergar mais nada. Fomos para a escada do prédio, e eu cai, pois estava muito escorregadia. Escutei o barulho dos dois caindo também e minha filha respirando pela última vez. Era impossível entender o que estava acontecendo — foi tudo muito rápido. Tínhamos acabado de acordar, assutados, sem entender nada. Somente quando consegui sair do prédio que entendi a dimensão do incêndio, parecia um pesadelo. Sei que foi Deus que me tirou dali, era impossível enxergar ou respirar lá dentro. Eu pensei que tinha perdido os dois naquele momento, mas Thiago ainda saiu com vida e tentou, por diversas vezes, voltar para salvar Helena.

Eu tive certeza da morte dela ainda dentro do prédio. Lutei para sair porque pensei na minha mãe. Lembro que, lá dentro, eu estava confusa — não sabia onde eu estava, nem o que estava acontecendo. Só tive mais consciência quando sai, mas acho que entrei em estado de choque: paralisei, era surreal demais ver aquele prédio em chamas e imaginar minha filha lá dentro. Foi uma dor sem tamanho. Thiago chegou até mim e disse que não tinha conseguido salvar Helena, e eu disse a ele que não saberia viver sem a minha filha. Ele voltou, entrou naquele prédio quantas vezes foi preciso — e no ato mais heroico que já vi em minha vida, ele não mediu esforços para salvá-la, mas não conseguiu. Ele voltou até mim e disse que não tinha conseguido, que estava muito queimado e precisava de ajuda.

Luto em dobro

Ele ficou internado por 28 dias, e teve 80% do corpo queimado. Foi um período de muita angustia, de muita oração. Eu tive a oportunidade de visitá-lo duas vezes, mesmo em coma. Porém, depois de 28 dias, ele foi a óbito. Foi desesperador receber a notícia de que havia morrido. Eu esperava que ele sobrevivesse, não me imaginava sozinha. Já estava difícil demais viver o luto da nossa filha, e era inimaginável viver o dele também. Eramos uma família muito unida, o amor prevalecia dentro da nossa casa, fazíamos tudo juntos. Thiago, além de meu marido, era meu melhor amigo. Antes de a gente começar a namorar, fomos amigos por seis anos.

Helena e o pai foram vítimas de um incêndio — Foto: Reprodução/Instagram
Helena e o pai foram vítimas de um incêndio — Foto: Reprodução/Instagram

Eu implorava a Deus para que ele sobrevivesse. Em uma das visitas, eu disse a ele que nossa filha não tinha morrido. Queria que ele ficasse bem para, juntos, enfrentarmos a perda da nossa princesa. Quando eu soube da morte dele, meu mundo terminou de desabar, foi como se a minha vida não fizesse mais sentido. Foram dias e meses extremamente difíceis. Hoje, olhando para trás, nem sei como sobrevivi. Acredito que foi graças ao amor de Deus e a oração da minha família, dos meus amigos e de toda uma cidade que se mobilizou e rezou por mim. Eu não tinha vontade de nada — comer era difícil, dormir e acordar era difícil e até mesmo olhar as horas no relógio doía. Descrever a dor do luto, principalmente da morte de um filho é algo extremamente difícil.

Helena morreu aos 4 anos — Foto: Reprodução/Instagram
Helena morreu aos 4 anos — Foto: Reprodução/Instagram

O perdão

Helena e Thiago me ensinaram tanto sobre o amor. O que vivemos foi tão intenso, tão forte, que eu jamais esquecerei. Mas eu precisava seguir a minha vida. Eu procurava entender o propósito de ter ficado. Tinha certeza, no meu coração, que os dois estavam no céu e eu precisava cuidar de mim para que, um dia, a gente posso se reencontrar. Então, escolhi viver o amor que eles me ensinaram e não a dor, e perdoar foi a sementinha do meu renascimento. Desse dia em diante, uma paz muito grande invadiu meu coração. Sabia que, no céu, eu tinha dois fortes intercessores, e que eu não poderia ser a 'juiza' da vida desse homem [que causou o incêndio de forma intencional]. Então, liberei meu coração para que a justiça dos homens e a de Deus fosse feita.

Nova família

No princípio, formar uma nova família era algo que eu não pensava, até porque, eu vivi uma relação muito bem estruturada, repleta de amor, respeito e cumplicidade. Ter Thiago como meu esposo e Helena como filha foi um presente maravilhoso de Deus. E eu jamais imaginava perdê-los tão cedo. Nós tínhamos tantos planos... Eu só pedia a Deus que, se um dia, ele restaurasse a minha vida, que Ele fizesse como na vida de Jó — me desse tudo em dobro e jamais deixasse eu perder a minha fé. Tudo aconteceu de uma forma muito natural e no tempo Dele na minha vida.

Conheci meu marido, Bonifácio, através de amigos em comum. Ele também foi um presente de Deus na minha vida — secou muitas lágrimas e me ajudou a compreender a morte. Passamos por um período de muito amadurecimento e descobrimos que tínhamos os mesmos objetivos: alcançar o céu através do sacramento do matrimônio. Sei que Deus cuidou dos detalhes no nosso relacionamento, como se soubesse que precisávamos um do outro naquele momento das nossas vidas.

Bonifácio e Maria Antonela

Fico emocionada todas as vezes que falo sobre o nascimento do meu príncipe, Bonifácio. Ele foi presente de Nossa Senhora, que sabia o tanto que eu precisava ressignificar a maternidade. Ela sabia do amor que tinha ficado aqui. Jamais para substituir o amor que sinto pela Helena — ela foi única e inesquecível —, mas ele veio trazendo luz, me mostrando o tanto que vale a pena confiar nos planos e nas promessas de Deus. Às vezes, fico pensando em tudo o que precisou acontecer para que ele nascesse e, ao olhar para ele, eu percebo que Ele é fruto do amor de Deus na minha vida.

E Deus não faz a obra pela metade. Eu rezei pedindo a Ele o dobro e, agora, ele me presenteou com a minha Maria Antonela. Confesso que a ficha ainda não caiu ainda. Anunciei a gravidez no dia 15 de março — dia que devolvi minha Helena para Deus e, por incrível que pareça, a data prevista do nascimento dela é a mesma da irmãzinha. Deus foi simplesmente perfeito, mostrando, mais uma vez, o seu amor pela minha vida. Aguardamos ansiosos a chegada desta princesa!

Juliana com Bonifácio e o filho — Foto: Reprodução/Instagram
Juliana com Bonifácio e o filho — Foto: Reprodução/Instagram

Aprendizados

Hoje, eu sou uma nova Juliana — sem dúvidas, mais madura, mais forte. O sofrimento nos aproxima de Deus. Claro, ainda tenho os meus momentos de muita saudade. Dizem que, com o tempo, a dor passa, mas não acredito nisso. Acredito que aprendemos a conviver com a saudade. Superar? Essa palavra também não existe no meu vocabulário, não se supera a morte de um filho. Mas sou testemunha do amor de Deus. O que Ele fez na minha vida, de lá para cá, foi um processo de restauração muito grande, cuidando para que a minha saudade fosse amenizada. Eu só tenho a agradecer pela família que eu tive e pela família que tenho hoje, meu esposo e meus filhos são meus amores — quero cuidar, amar e zelar porque diante de tudo o que vivi, aprendi que nada nesse mundo é nosso. Por isso, devemos desempenhar o nosso papel de forma a sempre agradar a Deus e viver a sua vontade.

O que eu posso dizer para quem enfrenta o luto é: nunca perca a fé. Vivemos em uma sociedade que evitar falar sobre a morte, mas, a partir do momento em que a compreendemos, fica mais fácil aceitar. Na minha crença, a morte não é o fim, é uma passagem para a vida eterna, onde não há dor nem sofrimento, apenas a felicidade plena. Dói, sim, porque se separar de quem amamos é difícil, mas eu sempre digo que eles vivem em mim. O amor não acabou, ele não morre com a morte e tenho o privilégio de te-los como meus intercessores no céu. Vivo a vontade de Deus para que, um dia, possamos desfrutar, juntos, dessa morada que Deus preparou para todos nós. Enquanto isso, sigo na missão de cuidar dos presentes que Deus me deu."

Juliana com o filho, Bonifácio, e grávida de Maria Antonela — Foto: Reprodução/Instagram
Juliana com o filho, Bonifácio, e grávida de Maria Antonela — Foto: Reprodução/Instagram
A pequena Helena — Foto: Reprodução/Instagram
A pequena Helena — Foto: Reprodução/Instagram

Sobre o incêndio

O incêndio que atingiu o prédio e tirou a vida da pequena Helena e do pai dela foi criminoso. O ex-marido de uma moradora do edifício, por não aceitar o fim do relacionamento, ateou fogo no carro dela, que estava na garagem. A partir daí, as chamas se alastraram. Ele foi preso em flagrante e confessou o crime, segundo a polícia.

Depois de um tempo tentando processar o que tinha vivido, Juliana decidiu fazer o inacreditável: foi até o presídio, conversar com o responsável pelo crime e perdoá-lo. A psicóloga lembra que estava calma no dia em que foi à penitenciária, em agosto de 2020. Ela e o criminoso conversaram por pouco mais de uma hora. “Era uma pessoa que realmente estava doente”, disse. Juliana conta que o homem se mostrava arrependido, mas sabia que não era possível reparar os danos. “Sem dúvida, foi um momento difícil, mas eu sentia a presença de Deus o tempo todo. Saí de lá com o coração em paz, pronta para dar o primeiro passo para o meu renascimento”, lembra.

Abaixo, o chá revelação de sexo da Maria Antonela:

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