Curva ascendente

“Nossa estratégia de crescimento se baseia em dois pilares: bom relacionamento com os franqueados e estudo de mercado”, diz Costa. “Temos a meta de chegar a 5.500 lojas num futuro próximo”. Os planos não param por aí. A Cacau Show espera ter 1 milhão de revendedoras diretas em cinco anos - hoje são 100 mil -, além de fincar a marca no exterior. A companhia também investe em entretenimento: inaugurou dois hotéis e adquiriu o Grupo Playcenter.

O desempenho da Cacau Show reflete o mercado de franquias no ano passado, que chegou a R$ 240,6 bilhões de faturamento - com crescimento real de 9,18%, superando as expectativas. No total são 3.311 marcas franqueadoras, que respondem por 195.862 operações e totalizam 1.701.726 empregos diretos.

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Para Tom Moreira Leite, presidente da Associação Brasileira de Franchising, além da melhora do quadro macroeconômico, com inflação menor, retomada do emprego e PIB positivo, o avanço da digitalização e a adoção de melhores práticas, tanto em relação a processos como no relacionamento com consumidores e dentro da própria rede, também contribuíram para o resultado positivo.

Os números do primeiro trimestre sinalizam que as expectativas de aumento para este ano - 10% do faturamento, 5% no número de redes e de 5,5% no volume de operações -, poderão ser superadas. O crescimento nominal foi de 19,1% na comparação com o mesmo período de 2023.

Para a Casa Bauducco, que registrou crescimento de 30,5% entre janeiro e abril deste ano, as expectativas foram superadas. A performance, segundo a diretora de expansão, Renata Rouchou, decorre do aumento do tíquete médio (7%), mas, principalmente, do crescimento do fluxo de clientes nas lojas (21,8%). “Estamos trabalhando fortemente as ativações de marketing, fizemos o rebranding da marca, além da repaginação das lojas que deverá ser concluída até junho de 2025”, relata. “Também trabalhamos na flexibilização das operações por clusters, de acordo com as características de consumo. Cardápio com refeição nos edifícios corporativos, desjejum nos hospitais, tabelas diferenciadas nos aeroportos”. Com 160 lojas em operação, a marca deve fechar o ano com 190 unidades e faturamento de cerca de R$ 250 milhões.

Para Altino Cristofoletti, co-fundador da Casa do Construtor, o segredo da expansão está na sustentabilidade das operações e na tomada de decisão mais assertiva com base em dados bem estruturados. “Boa parte das redes ainda não transformam informação em conhecimento a partir da sua base de dados e isso impacta nos resultados”, afirma. “Enxergo muita oportunidade com a adoção da IA generativa”. A rede - que dobrou de tamanho nos últimos três anos e deve faturar R$ 960 milhões - aposta no adensamento de suas operações em cidades com mais de 100 mil habitantes, além de estudar novos modelos de franquia (lojas menores e store in store), para municípios entre 40 a 80 mil habitantes. “Nossa meta é buscar as mil lojas, com a responsabilidade de preservar as margens dos franqueados”, diz Cristofoletti, adiantando que a marca deverá colocar os pés na Europa em 2025.

O franchising brasileiro passa por um momento de alta profissionalização. “Temos um número significativo de redes em estágio avançado de maturação e governança, o que provoca um amadurecimento dos franqueados”, afirma Leite, da ABF. “Isso aguça o interesse dos bancos e fundos de venture capital de médio e grande portes. No início de junho, um fundo global nos procurou interessado em entender melhor o ecossistema de franquias no Brasil”. Não à toa, estima-se que os próximos anos serão marcados por um número significativo de fusões e aquisições.

O interesse dos investidores se confirma até mesmo junto à novas redes. Com quatro anos de fundação e desde 2023 no franchising, o hospital veterinário VPR - primeira rede de clínicas de apoio ao médico veterinário especializada em procedimentos de alta complexidade - se prepara para captar R$ 120 milhões. “Recentemente, a empresa foi avaliada em R$ 105 milhões, quase dez vezes mais do que em 2022, quando 10% do capital foi comprado por um investidor-anjo”, afirma João Marcos Rios, sócio-fundador. Prestes a inaugurar a terceira unidade, a franqueadora detém 51% do negócio e o franqueado 49%. “Somos B2B2C, nosso foco são os médicos veterinários parceiros, que usam nossas instalações para tratamentos de alta complexidade e UTI”, diz. Já são mais de 600 médicos cadastrados e faturamento estimado de R$ 15 milhões para 2024.

A VPR está em um dos segmentos que mais cresceu no franchising no último ano, o de serviços e outros negócios (15,9%), acompanhado de alimentação-food service (17,9%); saúde e bem-estar (17,5%), hotelaria e turismo (16,4%), e moda (14,3%). Integrante deste último segmento que tem a meta de 700 lojas em cinco anos, o Grupo Hope recorreu a uma consultoria para repensar o planejamento estratégico. “Eles nos provocaram tanto com relação à indústria quanto à franqueadora”, diz a CEO Sandra Chayo. “O resultado foi a criação de linhas de produtos mais acessíveis para ampliar o público endereçável da marca e o desenvolvimento de um novo modelo de franquia, a loja Full, que reúne as marcas Hope e Hope Resort, com foco em cidades acima de 500 mil habitantes”. A rede deve movimentar cerca de R$ 400 milhões este ano.

Mas existem desafios importantes no setor, na visão de Moreira Leite. “Ainda temos alguns obstáculos pela frente como ajustar operações omnichannel, acompanhar a constante mudança do comportamento do consumidor e, sobretudo, equacionar a elevada carga tributária, a pressão inflacionária, melhorar o acesso a crédito e a quitação de compromissos assumidos durante a pandemia”, afirma. “Não é possível mensurar, mas o setor também será impactado pela tragédia no Rio Grande do Sul, uma vez que muitos franqueados foram afetados”. Segundo estimativa da ABF, há 10.959 operações de franquias no Estado, de 2.104 diferentes redes, que geram em torno de 91.600 empregos diretos.