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Se você já ouviu falar sobre contornos e iluminações faciais, perucas lace, enchimentos de quadril, lingeries modeladoras, cintas de compressão, espartilhos e meias-calças perfeitas, pode ser que você esteja sofrendo de “influenza drag” – uma febre nada nova que ronda, influencia e molda os universos da moda, da beleza e da maquiagem há, pelo menos, meio século.

De início, vale frisar: drag é uma linguagem artística, como a pintura, a escultura ou a tapeçaria. Mas, historicamente, na maioria das vezes, ela é feita por grupos socialmente minorizados, como pessoas racializadas, gays, lésbicas, pessoas trans e travestis. Há muito debate sobre a origem do termo “drag”, e as duas teorias mais difundidas remontam a práticas dos séculos XVI e XIX. Respectivamente, o teatro elisabetano, na Inglaterra, e a luta contra a escravidão nos Estados Unidos. No primeiro caso, como papéis femininos eram desempenhados por homens, o próprio Shakespeare teria cunhado um acrônimo para distinguir a caracterização desses atores: “Dressed Resembling A Girl” (vestidos para lembrar uma menina, em tradução livre). Já a segunda teoria, amplamente mais sustentada na academia, foi defendida pelo pesquisador estadunidense Channing G. Joseph, que estuda a cultura das populações negras recém-libertas no sul dos Estados Unidos durante os séculos XIX e XX, mais especificamente William Dorsey Swann, a primeira pessoa que temos registro de se autointitular uma drag queen.

Independente da origem do termo, o fato é que a criação de personas capazes de emular um gênero existe na gênese do teatro grego e do cinema. Em 1903, os irmãos Lumière produziram um filme chamado Now That Takes the Cake!, em que um dançarino em drag (Jack Brown) apresenta uma versão do cakewalk – uma dança comum para pessoas negras no sul dos Estados Unidos que, depois, viria a se tornar o voguing, que conhecemos hoje. Parece que a arte drag sempre exerceu fascínio sobre múltiplos artistas e os intercâmbios de inspiração são muitos. É possível traçar uma cronologia de influências drag desde 1900.

O início dos anos 1980 marca, no Ocidente, um recrudescimento do preconceito e dos ataques contra os grupos associados à epidemia letal de HIV e aids. Uma resposta coletiva do campo artístico foi deliberadamente formulada a esses ataques. Na moda e na beleza, um dos imperativos era “bagunçar” a linha imaginária que separa o “masculino” do “feminino”. Figuras como Boy George, Prince, David Bowie, Annie Lennox e RuPaul são alguns dos nomes mais icônicos do showbiz a encarnarem esse contra-ataque cultural. Na moda, Thierry Mugler fez história ao ter em sua passarela a drag estadunidense Lypsinka; Jean Paul Gaultier eternizou sua coleção de 1992 com saias para homens e ternos de risca de giz para mulheres; Marc Jacobs fez seu nome em 1993 ao desfilar uma coleção na qual todas as modelos estavam maquiadas como drags. No mesmo ano, a própria RuPaul se tornou um sucesso internacional com o single Supermodel e chegou às capas de revistas como Vanity Fair e Cosmopolitan. Pouco depois, a marca de maquiagem M.A.C Cosmetics a escolheu para estrelar a campanha Viva Glam (1994) de arrecadação de fundos e conscientização sobre a epidemia.

Nos anos seguintes, drag queens se tornaram sucessos de bilheteria ao redor do mundo em filmes como Priscilla, a Rainha do Deserto (1994) e Para Wong Foo, Obrigada por Tudo! Julie Newmar (1995). A estética drag saía das telas para as premiações toda vez que artistas decidiam desafiar as normas de gênero impostas a eles de forma divertida e audaciosa – Celine Dion encapsula este momento em 1999 com seu smoking invertido para a cerimônia do Oscar.

Ao longo dos anos 2000, várias artistas abusaram de referências do universo drag para construírem looks inesquecíveis, como Britney Spears no VMA, em 2001, e Gwyneth Paltrow no Oscar de 2002. Alexandre McQueen se tornou um nome incontornável da indústria, e sua paixão por drags aparece de forma icônica na sua coleção para a primavera de 2005.

Lady Gaga edificou uma das maiores plataformas de influência visual de massas no mundo com seu terceiro álbum de estúdio, Artpop, lançado em 2013, que marcou uma intensa troca com a cena drag. Isso aconteceu em videoclipes, como Applause; parcerias com RuPaul, em 2013 e 2017; e colaborações com o estilista Brad Callahan, que assinou um dos figurinos da turnê. O designer, cuja carreira começou na cena drag nova-iorquina, disse que a potência das drags de criarem imagens virais era a essência do pop na década de 2010, e Lady Gaga foi uma das artistas que melhor compreendeu essa dimensão.

Começamos os anos de 2020 com RuPaul’s Drag Race como um dos programas mais premiados da história do entretenimento (14 Emmys, três GLAADs e um Tony). Em sua turnê mais recente, a Celebration Tour, Madonna escolheu Bob, the Drag Queen como mestre de cerimônias e, no Brasil, convidou ao palco, no maior show de sua carreira, a drag superstar Pabllo Vittar

Resumir as influências que a cultura drag trouxe à mídia mainstream é uma tarefa quase impossível, o intuito deste texto é apontar para a capacidade inventiva e irreverente de uma forma de arte que leva um trio de coisas muito a sério: subverter valores, desafiar normas e contestar tradições. Ao longo das décadas, a arte drag nos lembra que toda imagem é uma “montação” e que devemos ter coragem para sustentar nosso desejo de sermos algo de propósito. Não importa o que digam, dar corpo à fantasia é uma força de libertação irrefreável que todos deveriam experimentar. E, você, qual drag vai montar hoje?

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