ChatGPT e afins: o risco da ilusão de autoridade nas redes

ChatGPT e afins: o risco da ilusão de autoridade nas redes

O surgimento de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) como o ChatGPT tornou previsível seu uso massivo na criação de conteúdo em redes sociais. Isso reflete uma mudança significativa, mas também traz consigo uma reflexão: estamos utilizando essas ferramentas de forma consciente e responsável, ou apenas criando uma ilusão de autoridade? Esse conceito refere-se à criação de uma aparência de conhecimento ou expertise que não corresponde à realidade, frequentemente sustentada por ferramentas como a IA, que podem gerar conteúdos polidos e convincentes mesmo sem base em vivências ou conhecimento genuíno.

O uso da IA tem o potencial de transformar carreiras e otimizar processos, mas seu impacto depende diretamente de quem a utiliza e, principalmente, de como o faz. Ferramentas como ChatGPT podem amplificar nossas competências, mas não devem ser vistas como uma solução para mascarar o que desconhecemos. Para produzir textos que se conectem com a audiência, é necessário mais do que palavras bem alinhadas – é preciso vivência, experiência e a coragem de compartilhar uma história autêntica. Entre complementar o que sabemos e criar uma aparência de autoridade que não existe, há uma linha tênue que não pode ser ignorada.

Sou um entusiasta das tecnologias de IA e acredito profundamente no seu poder de transformar carreiras, melhorar processos e otimizar o aprendizado. Ferramentas como ChatGPT são catalisadores de inovação, permitindo que mais pessoas acessem o poder da criatividade e da produtividade de maneira acessível. Sou a favor do uso dessas tecnologias. Assim como usamos corretores ortográficos, acredito que não há problema em recorrer às ferramentas de IA para "polir" o que estamos produzindo ou falando. Se alguém tem boas ideias e conhecimento, mas enfrenta dificuldades para se expressar, utilizar ferramentas de IA para superar essas barreiras é uma solução válida. Algumas pessoas podem discordar, mas, pessoalmente, vejo nelas um recurso útil para potencializar nossas competências.

Porém, como qualquer ferramenta, o impacto que ela gera depende diretamente de como é utilizada. A IA deve ser um meio para amplificar o que já sabemos, não uma solução para mascarar o que desconhecemos. Produzir textos que se conectem com sua audiência exige mais do que palavras bem alinhadas: requer vivência, experiência e a coragem de compartilhar sua história e expertise de forma autêntica. Há uma linha tênue entre usar a IA para complementar nossas competências e utilizá-la para criar um verniz de autoridade – uma aparência superficial de conhecimento que, na prática, não se sustenta.

Eu estudo sobre Inteligência Artificial há cerca de 20 anos, escrevo sobre esse tema no Linkedin desde 2015. Também escrevo sobre educação, tecnologia e carreira (todos temas com relação direta com a minha vida, com aquilo que, de fato, tenho alguma expertise para falar). Posso até arriscar a comentar outros temas, mas você não vai me ver posicionando como expert em algo que eu não domine ou desconheça. E é aí que está o problema que vejo hoje. Alguns profissionais sem o menor tipo de formação, expertise, vivência em certas áreas se denominando especialistas em "X" ou "Y".

Este fenômeno é proporcionado pelas ferramentas de IA, como ChatGPT, e aqui me refiro como "Ilusão de autoridade", que é a criação de uma aparência de conhecimento ou expertise sem que haja embasamento real, sustentada pela capacidade da IA de gerar textos polidos e convincentes. Com essas ferramentas eu posso a qualquer momento escrever um texto "profundo" sobre física quântica sem possuir nenhum conhecimento sobre o assunto... Não consigo ver isso como algo positivo.

É algo de muito valor quando as redes se tornam espaços para trocas genuínas de conhecimento e experiências reais. Infelizmente, estamos observando um fenômeno que merece reflexão: pessoas usando IA para escrever sobre temas nos quais não possuem conhecimento ou experiência. Elas compartilham insights polidos que não representam sua própria experiência, comprometendo a confiabilidade das redes e transformando-as em espaços de aparências, não de conexões significativas.

Essa prática também se estende aos comentários, comprometendo a qualidade das interações e reduzindo o potencial para trocas autênticas. Respostas automáticas, sem alma e repetitivas, inundam discussões, enfraquecendo o potencial de diálogos enriquecedores e criando um ambiente menos engajador. O problema não é a ferramenta, mas a falta de alinhamento entre quem escreve e o que está sendo escrito. Esconder-se atrás de frases polidas que não refletem suas ideias não é uma estratégia eficaz – tanto para sua marca pessoal quanto para as conexões que você busca construir.

Diante desse cenário, já entraríamos em questões éticas relacionadas ao uso de IA, como a transparência no uso dessas ferramentas, o impacto na confiança entre profissionais e a responsabilidade pelo conteúdo gerado.  Seu uso indiscriminado pode comprometer valores fundamentais como autenticidade e confiabilidade, criando um ambiente em que é difícil distinguir entre o que é genuíno e o que é apenas aparência. Precisamos de um equilíbrio entre a eficiência que a IA nos proporciona e o compromisso ético com a verdade, o que pode ser alcançado ao usar essas ferramentas para complementar habilidades reais, sem distorcer a realidade.

Como vejo um bom uso para essas ferramentas como uma estratégia para melhoria profissional? Use a IA para aprimorar seus textos, estruturar suas ideias e enriquecer suas contribuições, reescrevendo com clareza os trechos que apresentem dificuldade. Mas utilize essas ferramentas dentro de um campo em que você tenha autoridade, pois a credibilidade está diretamente ligada ao domínio do assunto. Quando você escreve sobre algo que domina, a IA não substitui sua voz – ela a amplifica. Porém, quando você fala de algo que mal compreende, a IA se transforma em uma máscara que pode enganar a audiência, enfraquecendo a confiança e dificultando a construção de relações duradouras.

Sabe aquela história de construir castelos de areia? Quando a onda chega, a qualidade do material utilizado faz toda a diferença, assim como acontece com o conteúdo que produzimos e compartilhamos. Por fim, sempre digo que aquilo que produzimos e vendemos profissionalmente é uma vitrine de quem somos e do impacto que desejamos causar, seja na vida das pessoas ou no mercado em que atuamos. No fim do dia, o que torna sua imagem sólida nas redes sociais e perante o mercado é a forma como interage com as pessoas que o seguem. É o compartilhamento de histórias, experiências e aprendizados genuínos que constrói conexões significativas. Não hesite em usar ferramentas de IA (ChatGPT, Gemini, Llama, etc.); pelo contrário, elas são grandes aliadas se o intuito é aprimorar aquilo que você já possui. O uso ético e responsável da IA deve sempre respeitar princípios como autenticidade e responsabilidade.

Se queremos aproveitar o melhor da IA, o segredo é simples: use-a como ferramenta para expressar quem você é, alinhando-se aos valores de autenticidade e responsabilidade apresentados ao longo deste texto. Fale do que conhece, do que viveu, destacando como suas experiências contribuem para construir conexões significativas e genuínas. Construa sua autoridade sobre uma base sólida, fundamentada em experiências reais, aprendizado constante e conhecimento comprovado. Use a IA como ferramenta para dar vida às suas ideias, e não para criar uma realidade paralela. A autenticidade sempre será o maior ativo no mercado de trabalho, fortalecendo confiança, construindo relações duradouras e promovendo impactos reais – com ou sem Inteligência Artificial.

Você já refletiu sobre como a autenticidade impacta o uso da IA? Será muito bom saber a sua visão!

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Também tem um post bem bacana onde compilei parte dos meus 10 anos de produção de artigos sobre IA aqui no LinkedIn (acesse aqui).

E se você quer dar passos com essa tecnologia na sua carreira, se tornar um profissional diferenciado e se antecipar ao que vem pela frente convido você a explorar como a IA pode transformar sua carreira e produtividade. Participe do 'Geração IA', um curso desenhado para equipar profissionais como você com o conhecimento e as ferramentas necessárias para prosperar na era digital da IA, entendo os conceitos por trás desta tecnologia e, principalmente, alavancando a sua produtividade e criação de conteúdos. Explore o futuro do trabalho de mãos dadas com a Inteligência Artificial e prepare-se para uma caminhada repleta de realizações.

Um abraço,

Patrick


Está excelente o texto.. Alguns textos produzidos pela IA me lembram comida bonita sem tempero, sabe quando você não sente gosto de nada, já esse texto que você fez está bem temperado

Alexandre Borges Pereira

Diretor na Fast Sistemas Soluções e Negócios Convergentes

2mo

Poxa Patrick, que top seu pensamento eu realmente penso igual. Pessoas se tornando especialistas da noite para o dia a base de AI sem qualquer experiencia substancial. Essa mensagem tem que ser espalhada. Para que tenhamos uma geração ética, moral e legal.

JOSÉ LUIZ G.

CONTROLADORIA/GESTOR FINANCEIRO/COORDENADOR

2mo

Tem uma coisa que não falha , manda a pessoa que publicou o tema executa-lo em sua própria vida ( seja qual for) .Uma coisa é dizer a outra é o ser . Experiência /pratica e tudo . Um robô pergunta para o outro e um terceiro redige.

Ótimo conselho 🤏🤨

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