Desafio para o setor energético mundial: acesso à energia

A Agência Internacional de Energia cita em sua publicação Energy Access Outlook 2017 sobre a forte relação entre falta de acesso a combustível e reforço das desigualdades de gênero e da pobreza. Segundo os dados, em países como Uganda, Madagascar, Benin, quase 100% da população leva cerca de 2 horas por dia para coletar combustível para cozinhar. A situação é mais séria no Níger, onde o tempo gasto é de 4 horas, ou Serra Leoa, onde se gasta cerca de 5 horas.

Imagine você ter que ficar 4 ou 5 horas diárias coletando lenha para cozinhar para sua família... Realmente seria um grande desperdício de tempo, não é? Com certeza isso inviabilizaria nossa rotina da vida moderna.

Essas famílias que a pesquisa da IEA aponta, precisam coletar lenha pois não têm acesso ou condições financeiras de comprar um botijão de GLP e nem rede de gás natural passando na frente de suas casas. E essas horas gastas para coletar combustível para cozinhar são as mesmas que poderiam ser investidas na geração de renda e no estudo dessas famílias. Ou seja, já não têm recursos para comprar combustível para cozinhar, e ainda gastam muitas horas do dia em uma atividade que não gera retorno financeiro. Isso aumenta cada vez mais as desigualdades sociais e a pobreza.

Além disso, o uso de lenha para cocção causa o desmatamento, que tem seu impacto no ambiente ampliado, pois normalmente ocorre em regiões áridas. Outro impacto é a fumaça produzida na queima em fogões de baixa eficiência, que causa doenças de pulmão em mulheres, crianças e idosos que moram nessas casas.

No entanto, existem diversas iniciativas no mundo que buscam dar acesso a combustível renovável. Talvez a mais conhecida seja a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, criada pelas Nações Unidas, que define que um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é dar acesso a energia como uma das formas de erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta.

Objetivo 7 dos ODS. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todas e todos.

Analisando iniciativas locais, um exemplo interessante é um projeto da Diaconia no nordeste brasileiro, que busca recursos para instalar biodigestores e capacitar os agricultores para sua operação e manutenção. Mais de 500 famílias já têm em suas propriedades o biodigestor sertanejo produzindo biogás e biofertilizante.

Iniciativa também relacionada a biodigestores é da RedBioLAC que congrega instituições e profissionais de toda a América Latina e Caribe para troca de conhecimento e realização de projetos que incentivem o uso de biogás como fonte de energia em escala doméstica.

Outra organização que trabalha em projetos de biocombustíveis sustentáveis é a SNV, da Holanda, que tem projetos na África, Ásia e América Latina. Um projeto no Camboja envolve o desenvolvimento e análise de fogões mais eficientes que usem pellets de bambu, de casca de arroz ou de coco.

Além dessas iniciativas, há outras como: Sustainable Energy for All, Clean Cook Stoves, African Clean Energy.

Apesar de todas estas iniciativas para aumentar o acesso à energia, fica claro que há muito por fazer ainda. E acredito que os profissionais no setor de energia, além de trabalharem em projetos de grandes complexos energéticos e tecnologias de ponta, têm a responsabilidade de buscar soluções para dar acesso à energia a todos. 

Então, fica a reflexão: Quais seriam as opções energéticas para esses casos? Como fazer essas tecnologias chegarem onde são necessárias? Como viabilizar economicamente esses projetos? Como fazer parte de projetos e redes que ajudam a aumentar o acesso a energia? Ou como incentivar a criação de políticas públicas para isso?

Seja a mudança que você quer no mundo. (Mahatma Gandhi)