Executivos e a Agilidade (nua e crua)
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Executivos e a Agilidade (nua e crua)

Frases que resumem tudo, estão no final do texto.

Esse foi um texto difícil de escrever pois tem situações que até hoje me incomodam, mas que eu tenho de lidar da melhor forma possível nesse caminho que é a "transformação

Tive a oportunidade de ter algumas conversas informais na semana passada com 3 executivos (Diretor Geral da indústria automotiva e 2 Vice-Presidentes, sendo um de um banco e outro de telecom) do Brasil e Portugal. Pedi autorização dos 3 para explicitar um pouco sobre alguns temas que todos agentes de mudança devem lidar no dia-a-dia, em maior ou menor escala, mas poucos chegam efetivamente nestes caras. Revela muito dos motivos de termos muita fumaça ou em espanhol, que adoro usar, MUCHO HUMO!

Pude discutir sobre o que acham do processo de Transformação, Indústria 4.0 e Agile. Deixo abaixo as frases que me chamaram atenção e logo depois as comentarei, dentro DA MINHA realidade/experiência. A sua opinião é muito bem vinda. :)

"No final, o que importa é quanto foi economizado, quanto ganhamos."

Comentário: Vivemos em um mundo capitalista. Empresas querem lucros desde sempre. Vendemos nosso tempo em troca de dinheiro. Empresas querem dinheiro (lucro) em troca do esforço deles. Tem muita coisa que acontece entre o começo e o "No Final", que esta na frase, apontado por esse colega. Esse "entre" é sim nossa responsabilidade. Mudei muitos conceitos de 2009/2010 (quando comecei a trabalhar com agilidade). Uma das principais mudanças foi minha troca do "Be Happy" pelo "Be Happy to..." Ninguém quer que sejamos felizes por sermos felizes. Querem que tenhamos um ambiente ótimo de trabalho, que tenhamos mais saúde, que tenhamos melhores recursos para produzirmos mais, e com isso, ganharmos mais dinheiro para empresa. Por isso que insisto que as técnicas que aprendemos ao longo dos anos, são só pequenos caminhos. Quem tem que vender agilidade são empresas de formação. Nós, como agentes de [qualquer nome], temos que facilitar o "entre" para que as empresas consigam atingir seus objetivos. Tem outros valores além do dinheiro? Óbvio que sim! Mas no final, para a grande maioria, é simplesmente "Quanto Ganhamos".

"Eu aceito reduzir em 5% de meus lucros para ter colaboradores mais felizes. Meu acionista, não".

Comentário: Acionistas estão longe das equipes. Querem resultado. Para que essa redução de 5% seja aceita, os lucros devem aumentar uns 10% + alguma coisa em outra ponta. Não se compra riscos para ganhar muito pouco. Ou seja, não aceitam reduzir os lucros. Aceitam trocar de onde vem, mas que seja para ganhar mais, sempre.

Sabe quanto tempo temos para isso? Um ano fiscal ou menos. É realmente complicada essa parte. Por isso quando vejo muitas pessoas preocupadas se o framework X está sendo "bem aplicado", penso o quão longe da realidade essa pessoa está. Do que adianta se o método A ou B está funcionando se não está focado no cliente e principalmente em entregar um valor real em seus projetos?

Menos fumaça e mais resultados.

"Vocês querem ler um/dois livros e aplicar como aprenderam. Sem flexibilidade, não tem acordo. Se nós buscamos acordos diários, porque os ditos agentes de mudança, não?".

É. Concordo 100%. Se você trabalha com agilidade, independente de framework/método e quer aplicar 99%, sem flexibilizar ou sem adaptar algumas coisas para o dia-a-dia do cliente, você é considerado um xiita e principalmente no começo (que pode durar até 1 ano), as chances de falhas são extremamente consideráveis. Coloque-se no lugar das pessoas. Empatia.

Eu adoro em situações assim, onde há experiencias passadas negativas em relação ao Agile, de não utilizar os nomes conhecidos. Evito ao máximo. É possível trabalhar com Agile sem falar sobre Agile. :)

"Infelizmente não temos tempo para testar e só errar. Podemos parar sim para trocar o pneu, mudar a placa, transformar nosso caminhão em um ônibus, porém o caminhão tem que estar limpo e bonito aos olhos de quem paga por ele."

Comentário: Aqui eu fui bem direto. E confesso que já tinha isso muito claro há anos. Convivi com isso no Brasil, Portugal e Espanha. A tradução dessa frase é: Podem mudar nossa forma de trabalho. Podem mudar como construimos as coisas, mas até que esteja o mínimo maduro para "virarmos a chave", continuamos sem mudar muito como apresentamos as informações para nossos clientes, executivos e acionistas da empresa.

Aqui temos que entender quando ouvimos um sono NÃO sobre uma pessoa da área de negócio, que faz uma série de coisas e "do dia para a noite", é a nova Product Owner. Muitas acabam sendo escolhidos para serem o PO, mas as outras atividades continuam. Sou radicalmente contra que seja assim para sempre, mas no começo, nosso jogo de cintura é importante.

"Temos uma pressão muito forte do conselho e acionistas. Não é possível esperar 3/4 anos para ver uma mudança. Temos que mostrar algo desde cedo. Com isso ganhamos força politica para a mudança que o mercado espera."

Comentário: Fail Fast, Learn Fast (Falhe rápido, aprenda rápido). Aqui, tenho uma case interessante para contar (inclusive, foi um dos principais motivos por eu ter tido a oportunidade de mudar de país e depois contarei em um outro texto). Mas vai ficar para depois. Claro que ninguém tem 3/4 anos para ver de verdade uma mudança. E nem adianta aqui dizer que precisa de 3/6 meses para lançar um produto para ver alguma coisa.

Que tal começar a mostrar métricas que jamais foram retiradas do dia-a-dia das equipes? Quando temos a oportunidade de lançar produtos ou projetos, mesmo sendo no primeiro MVP, isso é ótimo, mas não é sempre possível. Mudanças dentro dos times, em uma área, já lhe dá fôlego para ganho de confiança de muitos executivos.

Imagine que esses profissionais trabalham muitos anos com o "poder" nas mãos e vamos dizer que a partir do mês que vem não vamos apresentar certas informações para ele (mesmo que ele não as utilize). Faça o teste de chegar com métricas (que realmente importam para a estratégia, ok?) e as explique. Se uma delas fizer parte do novo "Report", já é um pequeno ganho.

Deixo aqui algumas frases que resumem todo o texto:

  • Empresas não querem ser Agile. Empresas querem retorno sobre o investimento feito. O famoso ROI. Pare, pare e pare de achar que Agile é o mais importante. Agile é só UMA forma de chegar ao ROI positivo.
  • Tudo que fazemos junto as empresas, no final, é dinheiro. Pessoas felizes, na maioria das vezes, produzem mais.
  • Entre pessoas felizes que não produzem e pessoas não tão felizes que produzem, quem você acha que as empresas darão preferência?
  • Acionistas querem lucro (Algum segredo aqui?).Você está pronto para ajudar as empresas nisso? Como?
  • Empatia. Se uma pessoa chegar na sua casa e dizer que você precisa mudar a forma de como lavar sua roupa, como varrer o chão, como arrumar sua cama, dúvida que você ficará feliz.
  • Você não gosta de ser político? Mude de profissão. Não gosta de trabalhar com pessoas? Mude de profissão. Se frustra facilmente? Mude de profissão ou procure terapia.. Não consegue se auto-motivar? Mude de profissão.

Até o próximo artigo. :)

Marcos Cardoso Regado

Tech Coordinator at Itaú | Portfolio & Digital Products Management | Agile Lover & Lean Facilitator | Investments | A-CSM® | A-CSPO® | OKRCP™ | MGT3.0 | KMP I

1y

Me deparei com esse artigo 3 anos depois de sua escrita e fico muito feliz com os pontos abordados. Vejo muitos profissionais hoje em dia que inverteram os valores da agilidade, enxergado ela como um fim e não como um meio para atingir os objetivos do negócio. Parabéns pelo artigo.

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Paulo Henrique Carvalho

Gerente de engenharia de software I

4y

#realidade 

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Samyr Sada

Sales Transformation Executive Manager at Serasa Experian | Change and Transformation Management

4y

Excelente texto... É exatamente como você bem escreveu!

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Werther Krause

Growth & Innovation | Digital Transformation | Planejamento Estratégico | M&A | Comitê Executivo | Conselheiro Consultivo | Startup Mentor | Advisor | Board Club Member | Chief Transformation Office

4y

Efetivamente muito boas reflexões. Apenas sempre o cuidado com generalizações, pois a cultura organizacional e muito particular, ainda que semelhanças possam ser identificadoras.

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