A história dos micos rodados e o que isso tem a ver com o RH da sua empresa.
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A história dos micos rodados e o que isso tem a ver com o RH da sua empresa.

Como a contratação por competências tem impactado o ambiente corporativo e porque isso precisa mudar.

Nos anos 90 eu estagiei em uma empresa de software que chamava Softech, que desenvolvia o Cash Pro Manager, um gerenciador financeiro para Windows, algo muito inovador pra época. Ainda lembro com saudade do Wanderson, meu primeiro chefe, uma pessoa íntegra e que tinha duas paixões na vida: seu passat azul e sua noiva.

A empresa era em um galpão dentro do terreno da sede da 98 FM, rádio famosa de Belo Horizonte, lá no alto da Serra, na Rua Dom Camilo, 187. Em um galpão ficava a rádio e no outro a Softech e o Stúdio J, silkgrafia do saudoso Martius Jarjour Carneiro, que era também um dos sócios da Softech.

Jarjour era uma pessoa vivida, sua família, dona da 98FM, era antiga proprietária da Gelatto (dá me um cornetto...) Ele era uma pessoa viajada e repleto de histórias pra contar.

Uma delas, que dá titulo ao post é sobre os micos-rodados. Nos idos dos anos 70, na estrada para Brasília, os moradores que margeiavam a rodovia pegavam os micos selvagens nas matas para vendê-los aos "bobos" que seguiam para a nova capital. A estratégia deles era cruel, seguravam os micos pelo rabo e rodavam no ar para que eles ficassem grogues e mansinhos.

O viajante vinha e só tinha elogios para os miquinhos. Criança passava a mãozinha e, dinheiro pra cá e mico pra dentro do carro. O problema era quando o efeito da rodada passava. Era mico mordendo motorista e em alguns casos causando acidentes.

Assim acontece com muitos profissionais que são contratados por empresas que valorizam competências em prol de valores nos seus processos seletivos. De princípio é um príncipe ou uma dama. Mas basta ser efetivado para o príncipe virar sapo e a princesa uma bruxa.

Aí você se pergunta, em que isso afeta a minha empresa? Na minha opinião, afeta em muitos aspectos e decidi listar alguns deles abaixo:

1 - Impacto na sinergia da sua equipe.

Ter um colega (se for líder, pior ainda) sem conduta ética é ter um furo no barco. Não adianta achar que a esquadra vai chegar na frente se vários dos navios são amotinados internamente.

2 - Dificuldade na implantação de uma cultura organizacional

Profissionais que distoam dos valores da empresa, embora consigam recitá-los quase como um poema em reuniões ou ppts corporativos, nunca vão colaborar para que os valores que norteiam a empresa sejam realmente implementados, por um único e crucial motivo: exemplo. A Flávia Gamonar detalhou bem sobre a necessidade de transformar os líderes para transformar as empresas nesse artigo que sugiro que você leia.

3 - Falta de critério para desenvolvimento de talentos internos

Basicamente, profissionais que são contratados por competência têm um temor enorme de ter que lidar com pessoas que se guiam por valores e vão fazer de tudo para desacreditar ou deixar essas pessoas sem voz ativa nas organizações. Minha avó dizia que não podemos dar aquilo que não temos. Então esses líderes promovem por um critério inovador, o índice QQC (Quem concorda comigo).

Bill Lumbergh o chefe abusivo do filme "Como enlouquecer seu chefe." Se não viu, veja.

4 - Criação de difamadores da marca.

Com certeza as pessoas cansam de ver colegas e líderes que distoam da organização pela forma com que agem em comparação com o que a organização diz. Isso, somado as metas e as cobranças por desempenho, gera um ambiente tóxico que leva as pessoas a buscar novos empregos e, claro, torna-os difamadores da marca. Não porque a empresa seja ruim, mas porque líderes e profissionais ruins tornam qualquer ambiente, por mais atrativo que ele seja, em algo nocivo.

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Torço para que nessa busca desenfreada por uma melhor experiência do empregado, o chamado "Employee Experience" o RH se torne mais humano. Gustavo Mançanares Leme, um dos profissionais de RH mais admirados do Brasil em 2017 e 2018, em uma entrevista que deu para meu projeto Linked Talks (ainda não publicada) disse que "o grande problema do RH é o próprio RH, precisamos ser menos Recurso e mais Humanos".

Frima Steinberg, uma das headhunters mais experientes do Brasil, citou em um dos seus artigos que o RH atualmente "sofre da síndrome de Juniorização".

Espero mesmo que as empresas deixem de lado os micos-rodados e concentre-se nas pessoas pelos que elas são em primeiro lugar.

Ética, honestidade, humildade, gentileza e respeito deveriam ser as principais competências requeridas. O currículo vem depois disso tudo.

Citei somente alguns pontos que considero relevantes e que afetam em muito o ambiente corporativo e consequentemente sua marca.

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Cristiano Henrique

Cristão, pai, designer e especialista de comunicação. Idealizador do LinkedTalks, um projeto que compartilha conhecimento através de entrevistas com especialistas de diversas áreas. Atualmente trabalha como Outsider Criativo, idealizando processos de comunicação e branding para empresas no Brasil e no exterior.

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Adriela Porto de Camargo

Engenharia Elétrica/ Engenharia de Manutenção / Projetos Industriais / Supervisão de Obras

6y

Gostei muito do artigo e concordo plenamente. Hoje o que realmente falta é analisar o perfil comportamental das pessoas. Neste cenário que nos encontramos com um índice elevado de desemprego os "RH e softwares" acabam descartando ótimos perfis comportamentais devido a questão da "palavra chave" ou falta de tempo, o assustador  6 segundos que um recrutador leva para analisar seu currículo. No final o resultado é a contratação dos micos rodados, currículos com "N" habilidades técnicas. E o comportamental,e a integridade, e o trabalho em grupo? Fica na mesma condição dos candidatos, na sorte! 

Roberto Carlos de Souza

Diretor Industrial na MIC SA Fundição e Usinagem

6y

Muito bom

Bárbara Albuquerque

Comunicóloga, Jornalista e Mestre em Letras

6y
Luzia Alexandra Madureira Borges

Assistente contábil | Meta Plano Contábil / RH

6y

Perfeito!

Bruna Souza

Especialista em Folha de Pagamento | eSocial | Implantação | Compliance Trabalhista |

6y

Adorei!👏👏👏👏

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