Os significados que damos
Damos significados àquilo que nos acontece...
Não podemos acreditar que a vida é um “mar de rosas” no qual só coisas boas acontecem o tempo todo, pois é sabido e constatado às vezes a duras penas que eventos ruins, adversidades, problemas, perdas, perseguições, contrariedades, estarão presentes e são inerentes à vida.
Certa vez, enquanto fazia uma palestra para professores sobre bem-estar e qualidade de vida, veio uma pergunta da platéia questionando se meu convite era para que enxergássemos a vida com um óculos cor de rosa. A pergunta tinha um tom de ironia e até de confrontação, mas foi muito pertinente e propícia para nossa reflexão naquele momento. Após pensar por alguns segundos, respondi: “Sim! Você pode usar um óculos cor de rosa, ou escolher um óculos escuro para enxergar a vida.”
Não tenho a intenção de minimizar sofrimentos, muito menos de desvalidar dores e angústias. A proposta é pensar sobre o peso do significado que damos aos eventos ruins que acontecem na vida.
Quantas pessoas deram significados tão fortes e rígidos a eventos ruins que passaram que eles se tornaram o centro da atenção de suas vidas… Outras deram significados que a fizeram acreditar que aquele evento era o fim e por isso estão presas a ciclos que se encerraram a tanto tempo…
Algumas pessoas após uma demissão, deram um significado a esta situação que a fizeram pensar que não teriam outras oportunidades por serem ‘velhas’ demais, não possuírem talentos, ou que estava tudo perdido na vida, e assim se afundaram em mágoas, angústias, solidão, estagnação, sem contar casos de psicopatologias e até suicídios.
Pessoas que após terminarem um relacionamento amoroso, deram um significado de que nunca mais conseguiriam outra pessoa amada, que ficariam sozinhas na vida e por isso sacrificaram seu amor próprio, submetendo-se a relacionamentos tóxicos e abusivos.
O evento pode ter sido muito ruim e difícil, mas o significado dado a ele tem o poder de aprisionar ou libertar, de paralisar ou desenvolver. Dependendo do significado atribuído a um evento ruim, você não verá as oportunidades e os aprendizados que somente são possíveis nas ocasiões adversas.
Mais uma vez, não se trata de fechar os olhos para as adversidades ou fingir que elas não causam tristezas e angústias, mas se trata de limpar os olhos nestes momentos e procurar enxergar para além das lágrimas. Se trata de dar significados que não paralisam, não limitam, e não te deixam parado à beira do caminho como se fosse o fim.
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Uma demissão não é o fim, na verdade pode ser o começo de uma grande empreitada profissional. O fim de um relacionamento não é sinônimo de solidão, mas pode ser o início de descobertas pessoais que só poderiam acontecer na solitude. Uma doença não é a morte, mas pode ser um caminho de autocuidado e de vida.
Escolher os todos os eventos que vão nos acontecer não está no nosso controle, mas escolher os óculos com os quais daremos significado a estes eventos está. A tristeza, o medo, a raiva, são importantes e necessárias quando nos deparamos com as adversidades, portanto, sinta as emoções decorrentes destes momentos ruins e adversos, isso é indispensável para o restabelecimento e manutenção da saúde mental, mas reflita sobre os significados que tem dado a estes eventos.
Meu convite nesta conversa de educação psicológica é que tal se começarmos a olhar para estes eventos ruins e buscar um novo significado? Uma nova interpretação?
E assim… se levantar, sair da beira do caminho e seguir a vida, vivendo os eventos ruins que virão, mas aproveitando os bons eventos em toda a sua plenitude.
Os eventos ruins são da vida, os significados dados a eles são de cada um de nós…
Pense nisso.
Prof. Marcos Justiniano