Problemas? Quero de novo, por favor!

Problemas? Quero de novo, por favor!

Quando o sentido de uma palavra faz “sentido” na vida. Foi assim, parando para entender o significado da palavra reclamar, que comecei a despertar para algo tão simples e tão trágico: o ciclo viciado do mimimi. Pare para pensar: RE-CLAMAR. Clamar de novo, pedir de novo. Então, se estou RE-CLAMANDO de algo ruim que me aconteceu, estou, na verdade, pedindo de novo que isso simplesmente siga se repetindo. Um absurdo? Mas é o que fazemos, constantemente.

Aquela dorzinha que incomoda, a conta que segue no vermelho, o job que não deslancha, a tempestade que destelhou a casa, o cachorro que fugiu com o portão aberto, a descoberta de um câncer, o desemprego que bateu à porta, o amigo que foi embora. Para cada situação, existe uma dor e botar para fora parece libertador, não é? Nem sempre! O sentido mais certo da vida é o da imprevisibilidade. Não há como prever nada. No máximo, cercar de cuidados. Para cada re-clamação aí, existe uma medida. É fácil seguir? Claro que não.

E nada contra você me ligar para contar que foi assaltado ontem. Aqui não é re-clamação. É pedir ajuda, é desabafar. O problema está em fazer do assalto um novo redemoinho na vida. Bote para fora, peça ajuda e siga! Perdeu a casa em uma ação na justiça? Bote para fora, peça ajuda e siga! Viver do problema, re-clamar dele é pedir (e até torcer) para que o universo te responda com mais uma dose dele.

E mudar não é fácil. A falsa sensação de alívio quando compartilhamos algo ruim nos faz repetir, mecanicamente, a ladainha de insatisfação. E não estou aqui menosprezando o seu ou o meu problema (nem querendo medir quem tem mais, por favor!). Claro que desabafar sobre nossas lamúrias nos faz bem. Muitas vezes compartilhar um problema ajuda até a virar a botar para fora a equação e encontrar uma saída. Mas existem problemas que simplesmente não tem saída. E aí? RE-CLAMAR?

E se a “reclamação” for só para rir de si mesma, acho que aqui cabe uma exceção. Se é a dificuldade em seguir a dieta pela milésima vez, fica até mais legal quando a prosa segue com todo comentando das inúmeras desculpas que temos para viver verdadeiras orgias alimentares. Agora, já me viu reclamar do meu peso? Já, né? Mas como estou aprendendo que estou simplesmente clamando de novo meu peso de volta, então, parei por aqui. Ou, pelo menos, vou tentar. 

Tudo isso não significa que devemos ser insensíveis às lástimas alheias. Se o colega está reclamando de novo (redundante, mas possível),  que perdeu mais um emprego, que tal tentar ajudá-lo a entender o que tem acontecido com ele? É reflexo do mercado? Da crise global? É alguma competência técnica que ele não tem? Ou comportamental? Ouvir vai, certamente, ajudar de alguma forma, a fazê-lo refletir. Agora, se não é a primeira vez e de nada tem adiantado, já parou para pensar que você pode ajudar indicando quem realmente pode AJUDAR? Indique terapia, leitura, novas amizades, Deus.. algum caminho deve colaborar nisso tudo. E se foi um ente querido que faleceu? Morte não é fácil, mesmo com sua recente banalização, é algo que muitas vezes nos tira do chão, nos tira a paz, nos tira até mesmo a certeza do sentido da vida. E a sua ajuda, nessas horas, é fundamental. E se foi com você, a regra sempre é a mesma para tudo (ou quase tudo): bote para fora, peça ajuda e siga! Só não RE-CLAME mais. 



 

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