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Por Douglas Ceconello

Jornalista, um dos fundadores do Impedimento.org, dedicado ao futebol sul-americano

ge.globo — Porto Alegre

Lucas Merçon/FFC

A derrota e o desempenho nos clássicos do fim de semana deixaram um legado de instabilidade para Fluminense e Grêmio. Tão expressiva foi a turbulência que, no caso do Tricolor carioca, mesmo um trabalho bem-sucedido e longevo como o de Fernando Diniz acabou interrompido. Não é fácil encerrar relações duradouras: o técnico chorou em entrevista coletiva ao falar da saída do clube.

A paixão dominante no ambiente futebolístico brasileiro não consegue lidar bem com os relacionamentos que envelhecem. Apenas isso explica a demissão de Fernando Diniz pouco mais de seis meses após ter conquistado o maior título da história do Fluminense. No caso dos tricolores, além da redoma de sentimentos típica dos divórcios, existe o risco da transição ser a mais traumática possível. 

Para o bem e para o mal, o trabalho de Fernando Diniz era absolutamente autoral. Com o dinizismo, o Fluminense trilhou caminhos jamais desbravados pelas quebradas sul-americanas. As ideias e os conceitos de Diniz demandam tempo para que os frutos sejam colhidos -- e foram. Da mesma forma, para despir-se do dinizismo talvez seja necessário um prazo que o Fluminense, hoje lanterna do Brasileiro, definitivamente não tem. 

Para que as feridas do desquite sejam curadas com certa brevidade, surge a necessária presença de Marcão, que vive o clube (e convivia com Diniz), portanto será fundamental para uma transição que não pode ser abrupta -- por mais que neste momento o que a torcida mais deseja é somar pontos, mesmo que através de um futebol totalmente genérico e de autor desconhecido.

Renato depois de derrota do Grêmio no Gre-Nal — Foto: Bruno Ravazzolli

Também Renato Portaluppi se viu imerso em desconforto após a derrota no Gre-Nal. Mas, ao contrário de Fernando Diniz, o técnico gremista não corre o risco de cair: ele mesmo decide quando (e se) vai balançar. A impressão é que Portaluppi deixa o Grêmio apenas quando ele mesmo julgar aconselhável. E por isso o momento dos tricolores gaúchos, vindo de seis derrotas seguidas e ocupando a vice-lanterna, é tão preocupante: há um temor velado de que, após outro resultado negativo, o técnico que também é estátua decida sair do cargo. 

Sem Portaluppi, o Grêmio corre forte risco de ficar à deriva, revolvendo-se no mar bravo do rodapé da tabela. Ao contrário de Diniz, o trauma não seria apenas na transição técnica, mas institucional: Renato é uma presença onipotente no Grêmio. É aquela espécie de técnico que funciona como um departamento de futebol inteiro -- e também fiador, termômetro, psicólogo de bolicho e emblema maior da própria identidade gremista. 

Footer blog Meia Encarnada Douglas Ceconello — Foto: Arte

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