Ostarina é uma substância com ação anabolizante, que atua nos receptores ligados aos hormônios androgênicos, em especial a testosterona, e contribui para o aumento de massa muscular. Ela resultou na suspensão por 16 meses do campeão olímpico do salto com vara Thiago Braz e já apareceu em exames de antidoping que causaram punições a Tandara, do vôlei, a Manoel, zagueiro do Fluminense, e a Rodrigo Moledo, hoje na Chapecoense.
Por que ostarina é doping
Ostarina ém considerada doping pela Agência Mundial Antidoping (WADA) pelo efeito anabolizante que possui, pois aumenta massa muscular, força e recuperação, melhorando o desempenho atlético de maneira não natural.
— Ela se liga aos receptores andrógenos nas células e aumenta a síntese das proteínas, principalmente das proteínas musculares, induzindo o efeito anabolizante que a testosterona tem como característica. Isso faz com que aumente massa muscular e melhore a performance. Por isso é considerado doping, da mesma maneira que se consideram outros esteroides anabolizantes — explica Clayton Macedo, presidente do Departamento de Endocrinologia do Esporte e Exercício da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
A substância é da classe SARM, sigla para Modulador Seletivo de Receptores Androgênicos (Selective Androgen Receptor Modulators, em inglês). Trata-se de uma classe de medicamentos proibida no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2021.
A Resolução 791/2021 da Anvisa proíbe a comercialização, a distribuição, a fabricação, a importação, a manipulação, a propaganda e o uso de SARM. Tal proibição se aplica a produtos industrializados e manipulados, importados e nacionais, com o objetivo, segundo a Anvisa, de "proteger a saúde da população", visto que "os efeitos desses produtos, categorizados como medicamentos, são desconhecidos no corpo humano a longo prazo".
Ostarina está listada pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem como pertencente à categoria S1, de agentes anabolizantes, sendo "proibida em todo tempo, em competição e fora de competição".
Segundo o representante da SBEM, a ostarina se diferencia de outros anabolizantes porque teria potencialmente uma atuação concentrada nos tecidos musculares e ósseos, com menos efeitos colaterais no restante do corpo. Mas isso não é observado na prática, conforme o especialista.
— A diferença preconizada, mas que, na prática, não é tão observada, é que a ostarina seria seletiva para atuação em tecidos ósseo e muscular. Teria o efeito androgênico, mas não teria os efeitos colaterais cardiovasculares, hepáticos e no sistema nervoso central. Isso, na realidade, não está comprovado. Os estudos mostraram que a droga é danosa. Não existe uma empresa no mundo licenciada para comercializar a substância legalmente. Ela circula pelo underground.
Diferentemente de outros anabolizantes, a ostarina é ingerida via oral, como substância manipulada, em cápsulas, comprimidos ou líquidos.
— Todos os estudos autorizados deram negativo para a eficácia e, principalmente, a segurança dessas medicações. Por isso, esse grupo farmacológico acabou sendo não oficialmente produzido — finaliza o especialista da SBEM.
Efeitos da ostarina
Os efeitos da ostarina no corpo incluem:
- Aumento da massa muscular: estimula o crescimento muscular, promovendo o desenvolvimento de tecido muscular magro;
- Aumento da força: pode melhorar a força muscular, o que pode beneficiar atletas em várias modalidades esportivas;
- Recuperação mais rápida: pode acelerar o processo de recuperação após o exercício físico, ajudando os atletas a se recuperarem mais rapidamente das sessões de treino intensas;
- Melhoria da densidade óssea: pode ter efeitos positivos na densidade mineral óssea, o que pode ser benéfico para a saúde óssea, em geral.
A ostarina começou a ser desenvolvida como composto para tratar condições médicas relacionadas à perda de massa muscular, como a sarcopenia (perda de massa muscular relacionada à idade), à distrofia muscular e a outras doenças musculares degenerativas.
— As descobertas da atividade anabólica e da capacidade de aumentar a massa muscular foram resultados subsequentes de estudos pré-clínicos e clínicos. Conforme os pesquisadores investigavam os efeitos da ostarina no corpo, eles observaram os efeitos positivos no ganho de massa muscular magra, no aumento da força e na melhoria da função muscular. Essa descoberta levou ao reconhecimento do potencial da ostarina como um agente anabólico, o que despertou interesse no mundo do fitness e do esporte — explica o endocrinologista Guilherme Renke, especialista em Medicina do Esporte.
— No entanto, é importante ressaltar que, apesar dos efeitos anabólicos, a ostarina ainda é considerada uma substância em fase de pesquisa e não é aprovada para uso clínico em muitos países.
O endocrinologista alerta para os riscos associados à ostarina, como problemas hepáticos, cardiovasculares e hormonais.
— Embora os SARMs possam ter perfil de efeitos colaterais potencialmente mais favorável do que os esteroides anabolizantes tradicionais, ainda há preocupações com a segurança e a eficácia a longo prazo. Mais pesquisas são necessárias para entender completamente os riscos e benefícios dos SARMs como a ostarina.
— É importante estar ciente de que o uso de ostarina como SARM não aprovado para uso clínico pode ser ilegal em algumas jurisdições. Sempre consulte um profissional de saúde qualificado antes de iniciar qualquer regime de suplementação ou medicação.
Saiba o que é ostarina, substância que foi encontrada no antidoping de Tandara
Fonte:
Clayton Macedo é presidente do Departamento de Endocrinologia do Esporte e Exercício da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Guilherme Renke é endocrinologista, médico do esporte com título de especialista pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, pós-graduado e mestre em Cardiologia.
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