Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna

Por Johanns Eller

A taxa média de ocupação dos hotéis em Brasília no feriado do 7 de setembro desabou em relação aos últimos dois anos do governo Jair Bolsonaro. Na primeira celebração da Independência com Lula presidente, o índice previsto é de 43%. O dado reforça o caráter político da data nos anos Bolsonaro, marcada por mobilizações golpistas e de cunho eleitoral convocadas pelo então presidente.

A projeção é da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Distrito Federal (Abih-DF), que compilou informações de reservas para os próximos dias 6 e 7 em uma pesquisa com 20 hotéis e 4.254 apartamentos. É um número muito abaixo dos índices registrados no ano passado (73%) e em 2021 (83%) e compilados pela mesma entidade.

A ocupação ainda pode aumentar com reservas de última hora, mas a expectativa da associação é que não passe de 50% – o que já era esperado pela indústria hoteleira.

“Não há surpresas. Não havia uma expectativa de ocupação elevada em função das características históricas da cidade nesta época do ano e pelo cenário político. Tivemos nesses dois últimos anos um 7 de setembro com uma movimentação turística que não ocorreu em função de uma data cívica, mas sim de um movimento político”, afirmou à equipe da coluna o presidente da Abih-DF, Henrique Serieven.

“Na maioria dos feriados, independentemente do tema, normalmente temos uma movimentação contrária: muita gente saindo de Brasília para curtir o feriadão e uma visitação reduzida na capital”, complementa Serieven.

O presidente da Abih-DF diz ainda que a movimentação de 2021 e 2022 foi totalmente atípica para o histórico da capital federal. No geral, a ocupação hoteleira em Brasília está atrelada a eventos políticos, corporativos ou de classes, bem como a própria dinâmica dos Três Poderes – agendas que costumam ser esvaziadas em feriados.

Nos últimos dois anos, o aniversário da independência brasileira foi aparelhada por Bolsonaro com o objetivo de ameaçar o Supremo Tribunal Federal (STF) e de usar a data comemorativa como um palanque para sua agenda eleitoral.

A estratégia acompanhou a guinada autoritária do então presidente após os desdobramentos da pandemia da Covid-19 – em 2020, não houve desfiles militares nem festejos oficiais em função da crise do coronavírus.

No ano passado, a menos de um mês do primeiro turno da eleição presidencial, Bolsonaro transformou a comemoração do bicentenário da Independência em um comício eleitoral tanto em Brasília quanto no Rio, onde fez questão de alterar o local da parada militar para a orla de Copacabana com o objetivo de reunir uma multidão de apoiadores.

Já em 2021, horas após dezenas de caminhões invadirem a Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro compareceu a uma manifestação golpista convocada por apoiadores nas redes sociais que pedia a destituição de ministros do STF e uma intervenção militar inconstitucional. Ao lado de aliados e diante das sedes dos Três Poderes, disse, em tom de ameaça, que o Supremo poderia sofrer “aquilo que nós não queremos”.

Naquele ano, segundo Serieven, a hotelaria foi pega de surpresa pela movimentação intensa de bolsonaristas em Brasília. A mobilização subterrânea em grupos do Telegram e do WhatsApp passou ao largo das redes da capital, e muitas delas registraram ocupação máxima.

Em 2022, com a experiência prévia, os hotéis se planejaram para atender um movimento maior no ato promovido por Bolsonaro para o bicentenário – o que levou a um aumento do valor das reservas. Serieven avalia que esse foi o motivo da queda da taxa de ocupação em relação ao ano anterior – ainda assim muito acima do normal.

Outro indicador de que a dinâmica deste feriado se difere completamente dos anos anteriores é uma análise mais minuciosa da data das reservas.

Em 2021 e 2022, a taxa de ocupação se mostrou alta no dia 6 seguida de uma queda no dia 7, indicando que os hóspedes desejavam amanhecer na capital e deixar a cidade após os atos bolsonaristas.

Neste ano, as projeções da Abih-DF indicam o movimento contrário dos últimos dois anos: a taxa de ocupação sai de 38% nesta quarta-feira (6) e chega a 48% no 7 de setembro, totalizando a média de 43% nos dois dias, segundo a metodologia da pesquisa da associação. Para Serieven, isso sugere que os visitantes devem aproveitar o feriadão como um todo na cidade com objetivos turísticos, e não ideológicos.

“Brasília tem manifestações relevantes que em nada influenciam a taxa de ocupação. Isso porque muitas dessas pessoas vêm de ônibus e já voltam no mesmo dia. Quando há impacto [no índice], como vimos nos últimos anos, isso revela um nicho, um perfil muito específico [de manifestantes]”, observa o presidente da Abih-DF.

Como publicamos na última segunda-feira (4), bolsonaristas têm atacado as Forças Armadas e defendido um “boicote” contra a celebração cívica do 7 de setembro deste ano nas redes sociais. O governo Lula, por sua vez, prepara um contraponto à era Bolsonaro com um desfile sob o mote “democracia, soberania e união”.

Na última terça-feira, Lula declarou na sua live semanal que os militares “se apoderaram” da data e que pretende organizar um evento “para todos”. O governo espera um público de 30 mil pessoas e o presidente pretende fazer um desfile em carro aberto pela Esplanada dos Ministérios. Como mostrou O GLOBO, o esquema de segurança será reforçado em função dos atos golpistas de 8 de janeiro, seguindo o modelo da posse do petista.

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