Malu Gaspar
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A Polícia Federal (PF) encontrou em um HD externo apreendido na casa de Domingos Brazão, denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco (PSOL), arquivos de delações premiadas que continuam informações contra ele – incluindo uma colaboração que permanece sob sigilo.

A informação consta no relatório complementar do caso Marielle, entregue na última quinta-feira (23) ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do processo na Corte. A PF identificou, no caso de uma das delações, “atos tendentes à criação de obstáculos à investigação ou à incolumidade de investigadores e terceiros”.

O disco rígido foi apreendido durante a operação em que Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) e ex-deputado, foi preso preventivamente pela morte da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes.

Ele mantinha no HD os termos de declaração das delações sigilosas do ex-presidente do TCE Jonas Lopes Filho e de seu filho, Jonas Lopes Neto. Os dois implicaram Brazão em um esquema de corrupção que levou à Operação Quinto do Ouro, desdobramento da Lava-Jato no Rio. A colaboração foi crucial para levar o hoje denunciado por mandar matar Marielle para a prisão em 2017.

Na delação, o ex-dirigente do Tribunal de Contas detalhou como seis dos sete conselheiros, incluindo ele próprio, recebiam propinas de empreiteiras e companhias de ônibus durante a gestão de Sérgio Cabral (MDB). Em troca, os membros do tribunal faziam vista grossa para irregularidades em obras e serviços prestados no estado do Rio.

Mas, como frisa o relatório da PF, a colaboração também traz o relato de que Brazão ameaçou matar quem o delatasse no esquema antes de Jonas Lopes assinar o acordo junto ao Ministério Público Federal (MPF).

De acordo com o ex-presidente do TCE, a ameaça ocorreu na presença de três outros conselheiros, além dele e Brazão, durante um almoço na sede do tribunal no Centro do Rio. A data não foi especificada na delação, mas ocorreu antes de Jonas Lopes decidir colaborar com a Justiça.

'Ele morre'

Segundo o relato, Brazão interrompeu uma conversa na qual seus colegas manifestavam preocupação com rumores de que o conselheiro José Maurício Nolasco cogitava firmar uma delação premiada, e disse que mataria Nolasco e seus parentes se isso ocorresse.

“Se ele fizer isso, ele morre. Eu começo por um neto, depois um filho, faço ele sofrer muito, e por último ele morre”, ameaçou Brazão.

A apreensão em torno de Nolasco se deu após O GLOBO revelar que um executivo da empreiteira Andrade Gutierrez delatou que o conselheiro havia recebido vantagens indevidas da empresa, o que, no relato do então presidente do TCE, teria deixado o colega “nervoso e alterado”.

Na sua delação, Jonas Lopes disse ter ficado “aterrorizado” com a ameaça de Brazão. Ironicamente, foi justamente ele, e não Nolasco, a fechar uma colaboração premiada com a Justiça.

O delator também teria sido ameaçado pelo colega uma semana antes da deflagração da Operação Quinto do Ouro, como revelou o blog do colunista Lauro Jardim ainda em 2017.

Brazão ficou afastado do TCE entre 2017 e 2022, e retomou o cargo em março de 2023 depois de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal de Justiça do Rio. Apesar da prisão em março no caso Marielle, ele se mantém no cargo.

Outro documento sobre uma colaboração premiada encontrado pela PF no HD externo apreendido em março é do ex-policial militar Elcio Queiroz, que confessou à PF ter dirigido o Chevrolet Cobalt usado na perseguição e execução de Marielle em março de 2018.

O assassino, Ronnie Lessa, disparou contra o carro da vereadora sentado no banco de trás. A delação de Elcio foi determinante para que os investigadores convencessem Lessa a entregar os mandantes – Domingos e Chiquinho Brazão e o ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa – e a firmar uma colaboração premiada.

No caso do material relacionado a Elcio encontrado no HD, a PF encontrou trechos com as assinaturas de policiais federais, advogados e demais partes envolvidas no acordo em trocas de mensagens em um grupo de WhatsApp.

Mas o relatório complementar afirma que não foi possível determinar como a informação foi obtida — se por foto do próprio Brazão, se foi enviada por alguém ou se copiaram o documento. Também não consegue concluir que uso foi feito dele, apesar da suspeita de obstrução à investigação ou à “incolumidade de investigadores e terceiros”.

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