A reunião de Fernando Haddad com banqueiros e gestores de recursos que provocou abalo nos mercados financeiros na semana passada teve algumas falas do ministro da Fazenda que ainda não vieram à tona.
Uma delas ocorreu no momento do encontro em que os presentes quiseram saber de Haddad sobre como seria o eventual contingenciamento orçamentário do governo, caso as despesas obrigatórias aumentassem mais do que o esperado.
A questão do corte de gastos foi justamente o que provocou a confusão, com alta do dólar e queda no valor das ações nas bolsas, porque os relatos sobre a conversa sugeriam que Haddad havia admitido não ter poder sobre a política econômica e nem para impor ao resto do governo a execução do arcabouço fiscal – o que ele negou.
O ministro, que admitiu no encontro a necessidade de cortar gastos mas criticou o vazamento de partes da reunião, disse que tudo será resolvido até agosto – que é o prazo limite para a apresentação da lei orçamentária de 2025.
Mas agosto também é, para Haddad, o prazo limite para outra decisão importante e que terá influência sobre o rumo das expectativas do mercado sobre a economia brasileira: a troca na presidência do Banco Central do Brasil.
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O mandato de Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro, termina no final do ano, mas, para Haddad, a escolha de seu substituto deverá ser decidida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva até agosto.
Entre os mais cotados para o cargo estão os diretores do banco Gabriel Galípolo, tido como favorito de Lula, e Paulo Pichetti, que conviveu com Haddad quando fazia mestrado na USP.
Haddad, aliás, não economizou críticas a Campos Neto durante a conversa. Relatou alguns dos episódios de atritos entre eles e reclamou da atitude pública do presidente do BC.
Num deles, em março passado, Campos Neto deu uma entrevista à Folha contando de uma conversa que tiveram sobre a proposta de emenda constitucional que confere autonomia financeira ao banco. O presidente do BC é a favor, o ministro é contra.
Na ocasião, Haddad ficou bastante irritado com as declarações, porque segundo ele os dois tinham um acordo de não abrir o conteúdo de suas reuniões para ninguém.
Ao grupo de banqueiros e gestores reunidos pelo Santander, o ministro da Fazenda foi ácido. Disse que não tinha certeza se Campos Neto diria a verdade, caso estivesse ali e fosse questionado sobre os mesmos episódios.