True Crime
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True Crime

Histórias, detalhes e personagens de crimes reais que mais parecem ficção

Informações da coluna

Ullisses Campbell

Com 25 anos de carreira, sempre atuou como repórter. Passou pelas redações de O Liberal, Correio Braziliense e Veja. É autor da coleção “Mulheres Assassinas”

Por — Tremembé (SP)

Mal haviam deixado a prisão para aproveitar a "saidinha de Santo Antônio", detentos do complexo penitenciário de Tremembé, no Vale do Paraíba, já estavam violando as regras do benefício. Pelo menos 40 presos foram vistos consumindo bebidas alcoólicas pela manhã, a menos de 100 metros do portão da penitenciária de onde tinham acabado de sair.

O GLOBO flagrou, entre 7h e 8h da manhã, detentos bebendo cerveja, rum, vodca com energético e shot de tequila. A maioria deles saiu do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) Dr. Edgar Magalhães Noronha, local que abriga latrocidas, traficantes, estupradores e assassinos. A unidade, com capacidade para 2.672 presos, atualmente está superlotada e abriga 3.050, segundo dados da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP).

Presos descumprem regra da 'saidinha' e compram bebida ao deixar Tremembé

Presos descumprem regra da 'saidinha' e compram bebida ao deixar Tremembé

Como o Centro de Progressão é destinado a quem está em regime semiaberto, praticamente todos os presos de lá saíram para passar o Dia dos Namorados e a festa de Santo Antônio com familiares. Pelas regras do benefício, é expressamente proibido o consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos.

Perto das penitenciárias masculinas de Tremembé, há uma rotatória que liga o CPP Edgar Magalhães Noronha à Penitenciária Masculina José Augusto Salgado, a P2, onde cumprem pena Cristian Cravinhos, Gil Rugai e Lindemberg Alves. A rotatória conecta as avenidas Washington Luís e Arcênio Riemma. Nesse ponto, concentram-se centenas de presos, pois é de lá que partem os ônibus fretados para levá-los para casa. Na calçada, uma série de ambulantes vendem todo tipo de bebida em isopores. Uma dose de rum custa R$ 12. Já o shot de tequila sai por R$ 15, enquanto uma lata de cerveja custa R$ 9.

Um dos presos, que estava bebendo cerveja às 7h45 da manhã, conversou com O GLOBO sob condição de anonimato.

— Você não tem ideia da fissura que a gente sente em ficar tanto tempo sem beber. Tem gente aqui que estava presa há 10 anos e só agora conseguiu uma saidinha — disse.

Uma ambulante, ao ver O GLOBO fotografando sua banca de bebidas, fez questão de esclarecer que não é sua obrigação saber se o cliente é preso, parente ou visitante:

— Não estou cometendo crime algum — frisou.

O que facilita a violação da regra a poucos metros das penitenciárias é o paredão formado por dezenas de ônibus estacionados rente à calçada. As viaturas das polícias penal, civil e militar passam pelo local, mas não conseguem flagrar os detentos bebendo porque os coletivos obstruem a visão.

Em São Paulo, as mudanças nas regras das saídas temporárias aprovadas pelo Congresso não surtiram efeitos imediatos porque o Tribunal de Justiça (TJSP) decidiu manter o benefício com base na Portaria nº 02/2019, que regulamenta essas saídas no Estado.

Segundo a SAP, cabe à Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo fiscalizar se os presos do semiaberto estão cumprindo as regras do benefício, já que a polícia atua somente dentro dos presídios. Por sua vez, a SSP informou que os detentos flagrados violando as regras da saidinha são detidos imediatamente e devolvidos para o presídio.

Desde 2023, o governo de São Paulo mantém uma parceria com SAP e o Poder Judiciário para reconduzir detentos que descumprem medidas judiciais durante o período da saidinha. A medida faz parte de um pacote de políticas públicas que a pasta vem desenvolvendo para coibir a reincidência criminal e endurecer o combate à impunidade.

Segundo a SSP, desde junho do ano passado, cerca de 1,5 mil detentos beneficiados foram presos pela Polícia Militar por descumprimento das regras impostas pelo Poder Judiciário, dos quais 119 foram flagrados cometendo novos crimes.

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