Para tratar um problema, é preciso antes conhecê-lo. Por isso, a professora e CEO do Vozes da Educação, Carol Campos, defende que a educação incorpore ao seu repertório o conceito de “fadiga por compaixão”. Esse termo já é bastante utilizado para profissionais da saúde, como enfermeiros, e é resultado de um estado de burnout (uma exaustão extrema resultado do trabalho) com estresse traumático secundário (quando, por solidariedade, alguém sofre a dor de um evento vivido por outra pessoa). Em outras palavras, é o custo do cuidado, diz Campos.
— Às vezes a gente vê profissionais que acham que nada vai dar certo, que não querem ir para a escola, que torcem para um aluno trocar de turma. Esses são sinais de um educador fadigado — avalia Campos.
A especialista apresentou essas preocupações durante o encontro “Saúde emocional em pauta: como cuidar de quem ensina e aprende?”, realizado na última sexta-feira pelo Festival LED, com mediação da médica e apresentadora da TV Globo Thelma Assis. Neste dia, Campos debateu o tema com a escritora, psicanalista e palestrante Elisama Santos e a cantora e influenciadora Juliette.
— Passei a vida inteira em escolas públicas e essa pauta de saúde mental nem era falada. Havia um psicólogo, mas ninguém sabia. E esse é um problema que ainda existe — afirmou a ex-BBB Juliette.
Dados do Censo Escolar mostram que o número de psicólogos em colégios do país teve um aumento tímido em 2023, mesmo após o ano anterior mostrar a necessidade destes profissionais para lidarem com problemas como a volta às aulas pós-pandemia e ataques a escolas. O crescimento foi de apenas três pontos percentuais e chegou a 12% das escolas — o que significa um a cada dez. Este profissional está no ambiente escolar para trabalhar no dia a dia da comunidade escolar, observando os problemas de aprendizagem e de convivência das crianças e trabalhando junto dos professores para encontrar soluções.
— A gente precisa mudar a forma de olhar para o ambiente escolar. Precisa mudar o entendimento que esse é um ambiente de competição para um lugar de cooperação. É uma questão de vida ou morte. Foi a cooperação que nos trouxe até aqui enquanto humanidade. Sem ela, não há duração enquanto espécie — defendeu a psicanalista Elisama.
Tema urgente
Na avaliação de Carol Campos, esse é um tema urgente, especialmente pelos danos causados pela pandemia, que fechou as escolas do Brasil por dois anos para proteger crianças e educadores da Covid-19.
— Antes a saúde mental de alunos e professores já era um problema. Depois da pandemia, é muito evidente que houve uma degradação maior ainda. Mesmo países que interromperam as aulas por poucos meses estão passando por isso — afirma.