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Eliezer Batista tinha apenas 36 anos quando assumiu pela primeira vez a presidência da Vale, em 1961, no início do governo Jânio Quadros. Numa viagem de dez horas pela Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), no trecho da capital capixaba até Itabira (MG), o deputado paraibano João Agripino, então recém-empossado ministro de Minas e Energia, convenceu-se de que aquele homem que passou boa parte do trajeto mostrando-lhe mapas e trazendo ideias originais sobre o desenvolvimento da Vale era o melhor nome para ocupar o cargo máximo da empresa.

Com 12 anos de experiência já acumulados na empresa, incluindo o cargo de superintendente da EFVM, Eliezer sabia das deficiências da companhia, então estatal, cujas áreas eram fragmentadas. A ferrovia tinha um “dono”, a navegação era de terceiros, e a venda do minério, feita por traders ou mesmo por concorrentes. O Cais do Atalaia, em Vitória, por sua vez, apresentava sérios gargalos logísticos para escoar uma produção maior. Por fim, os norte-americanos, maiores compradores do minério da Vale, vinham perdendo o apetite pelo pro duto. Ou seja, os riscos econômicos para o crescimento da empresa eram evidentes.

Início da obra do píer do Porto de Tubarão, em 1965 — Foto: MEMÓRIA VALE/AGÊNCIA VALE
Início da obra do píer do Porto de Tubarão, em 1965 — Foto: MEMÓRIA VALE/AGÊNCIA VALE

Nos quase quatros anos da sua primeira administração, Eliezer implementou as bases da Vale moderna, ao apresentar um sistema logístico que integrava mina, ferrovia, porto, navegação e venda. “Fomos uma das primeiras companhias a funcionar em um conceito moderno de sistema globalizado integrado, o supply chain”, disse anos depois o engenheiro aos jornalistas Luiz Cesar Faro, Carlos Pousa e Claudio Fernandez, autores do livro-depoimento “Conversas com Eliezer” (2005).

Era necessário, para isso, construir um novo porto. E assim nasceu Tubarão, que mudou o transporte marítimo de granéis sólidos do mundo ao permitir a atracação de navios acima de 120 mil toneladas — hoje, chegam a 400 mil.

Selo comemorativo lançado pelos Correios em 1966 celebrava o novo Terminal de Minério de Ferro Tubarão, no Espírito Santo — Foto: SELO COMEMORATIVO/ESPAÇO MEMÓRIA VALE
Selo comemorativo lançado pelos Correios em 1966 celebrava o novo Terminal de Minério de Ferro Tubarão, no Espírito Santo — Foto: SELO COMEMORATIVO/ESPAÇO MEMÓRIA VALE

“Tubarão criou um novo paradigma para toda a cadeia produtiva do aço. As siderúrgicas deslocaram-se para a costa, aumentando em mais de cem vezes a produtividade do transporte de minério de ferro. Revolucionou também a própria estrutura portuária mundial. Os novos portos passaram a ser utilizados simultaneamente para o escoamento de grãos e minérios”, ressaltou ele a Faro, Pousa e Fernandez.

Como definiu um amigo seu, o advogado e ex-ministro Raphael de Almeida Magalhães, no mesmo livro, Eliezer “inventou” um porto de águas profundas para receber navios de grande calado: “A sua imaginação criadora e a sua determinação de dar um destino à mineradora provocaram uma revolução na tecnologia mundial dos transportes marítimos, que, começando pela introdução dos grandes navios graneleiros, se espraiou até atingir os grandes navios petroleiros”.

Não sou muito de hiperbolismo tropical, mas Tubarão foi a maior revolução da navegação mundial"
— Eliezer Batista, ex-presidente da Vale, em depoimento sobre os 60 anos da empresa

Parceiro estratégico

O “sistema holístico” de Eliezer só foi possível graças a uma parceria estratégica com o Japão. Preocupado em reconstruir sua indústria siderúrgica, o país asiático apostou nas ideias do engenheiro. Em abril de 1962, a Vale assinou um contrato com um consórcio de dez siderúrgicas japonesas, que previa o fornecimento de 50 milhões de toneladas de minério de ferro por um período de 15 anos. “A junção dos interesses japoneses de reerguer a sua siderurgia com o nosso desespero de encontrar mercado para o nosso produto deu origem a Tubarão”, afirmou Eliezer em depoimento pelo aniversário de 60 anos da Vale, em 2002. No fim da década de 1960, com Tubarão em operação, a companhia já exportava quase dez milhões de toneladas de minério de ferro por ano pelo porto — o dobro do volume registrado em 1961. Em 1978, já chegava a 45 milhões e, em 2023, alcançou 82,3 milhões.

O cumprimento do contrato com os japoneses estava condicionado à construção do novo porto em Vitória, com a capacidade para receber os grandes navios de 120 mil toneladas, então inexistentes. Na época, os maiores em operação no mundo chegavam a 30 mil toneladas. Os Liberty, navios que atracavam no Cais de Atalaia, conseguiam carregar apenas dez mil. Somente com grandes embarcações o negócio se tornaria viável, mesmo assim não poderiam voltar do Japão sem carga. Eliezer deu a ideia, e os japoneses criaram o ore-oil — navio que levava o minério de ferro e voltava carregado de petróleo do Golfo Pérsico.

‘Sonho tropical’

Com o contrato assinado na mão, Eliezer saiu à procura de financiamento internacional. Bateu na porta de instituições financeiras dos EUA e da Europa, sem sucesso. “Um grande banqueiro americano me disse com todas as letras: ‘Seu país não tem crédito, e a sua companhia não existe. Além disso, não acredito nessas siderúrgicas japonesas’. ‘Isso é um sonho tropical’, respondiam uns; ‘os japoneses só sabem fazer brinquedinhos’, desdenhavam outros”, revelou em “Conversas com Eliezer”.

San Tiago Dantas, ministro da Fazenda no governo João Goulart, comprou o projeto. Ainda na gestão de Jango, Eliezer Batista assumiu o Ministério de Minas e Energia, acumulando o cargo com a presidência da Vale. O projeto, então, passou a ser de interesse nacional, assegurando os recursos necessários para a sua implementação. Tubarão custou US$ 100 milhões e foi entregue dentro do prazo. O engenheiro que o idealizou, porém, não participou da sua inauguração, em 1º de abril de 1966. Com o golpe militar, ocorrido dois anos antes, Eliezer foi afastado da presidência da Vale, acusado de ser comunista. Além de ter participado do governo deposto, pesava contra ele a prosaica acusação de falar russo. Poliglota autodidata, falava inglês, alemão, francês, italiano, espanhol e ainda o russo, que aprendeu com imigrantes ucranianos em Curitiba, onde cursou Engenharia.

Legado de Eliezer além da mineração impulsionou economia

Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo, lembra liderança do engenheiro em projetos visionários para o Brasil

Eliezer Batista e o mapa do Brasil: ferramenta fundamental em sua sala. Engenheiro liderou projetos importantes também fora da Vale — Foto: A. ANDRADE/JORNAL DA VALE
Eliezer Batista e o mapa do Brasil: ferramenta fundamental em sua sala. Engenheiro liderou projetos importantes também fora da Vale — Foto: A. ANDRADE/JORNAL DA VALE

O que têm em comum o Porto de Tubarão, Carajás, o agronegócio do Centro-Oeste, a indústria de celulose nacional, o gasoduto Brasil-Bolívia e o Porto de Sepetiba? Todas as iniciativas têm influência direta de Eliezer Batista.

“Acompanhei de perto as conversas do Eliezer com outros grandes empreendedores a respeito de pautas relevantes para o Brasil e para o mundo, que resultaram em projetos visionários”, relata o economista Paulo Hartung, governador do Espírito Santo entre 2003 e 2010 e de 2015 a 2019. Hartung aponta ainda a transformação que o Porto de Tubarão representou para o Espírito Santo. “O porto se tornou a base de um hub industrial, capaz de processar a matéria-prima, um processo conhecido como pelotização, que gerou empregos e acrescentou valor agregado para a exportação”, aponta.

Indústria inovadora

Outro projeto que deixou um grande impacto para todo o país foi o desenvolvimento da indústria de celulose. “A liderança de Eliezer e da geração que o acompanhou foi decisiva para modernizar o parque produtivo do estado e do país”, diz Hartung.

Sempre olhando para o macro e construindo conexões entre áreas promissoras e eixos logísticos, Eliezer também ajudou na construção do agronegócio no Centro-Oeste: a Campo, empresa criada pela Vale para escoar soja do noroeste de Minas Gerais, abriu caminho para a nova fronteira do setor, que vai de Mato Grosso do Sul até o Pará.

A visão se estendia para conexões envolvendo o gás natural. “Nosso conceito previa a construção do gasoduto da Bolívia até São Paulo, sobre o qual já havia alguns estudos”, relata o ex-presidente da Vale no livro “Conversas com Eliezer”.

E foi assim, transformando o potencial econômico em oportunidades, que Eliezer consolidou seu legado. “Na comparação com o futebol, ele era como Ademir da Guia”, resume Hartung.

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